Coluna | Cultura e Arte
Mundos emergem e se desfazem numa constante relação de forças. Mundos, pessoas, singularidades. E como não estamos sós, vivemos ao sabor dos encontros com outros mundos.
Algo se passa: afecções, mudanças de ritmo e duração, transformações que nos arrancam da naturalidade do lugar comum. Encontros que ora amplificam nossa energia vital, nossa potência de agir, ora nos sugam as forças. Trata-se sempre de movimentos de composição ou decomposição.
A existência humana sonda os caminhos da alegria, na perseverança por constituir bons encontros. Estamos sempre na direção de fazer amor com mundos; um circulo virtuoso da potência: quanto mais alegria, mais resistência, mais potência, mais força de vida, mais de mim dentro de mim, mais liberdade!
Essa liberdade é a própria virtude da alegria e para conquistá-la é preciso realmente um esforço tremendo, quase desesperado. Afinal, quem não deseja governar-se a si próprio, desfazer-se dos sentimentos que produzem danos como a culpa, o medo, o ódio e a tristeza? É preciso muito esforço para conquistar uma vida potente. Uma vida alegre é recheada de prazeres difíceis, prazeres que levam tempo, que precisam ser conquistados no exercício de sua prática.
Se podemos alcançar essa vida, que não é uma vida além, mas esta única e mesma vida que vivemos aqui, se podemos torná-la feliz e potente, se a estamos vivendo de uma forma ética, podemos ter certeza: não estaremos sacaneando ninguém.
Um corpo alegre, criativo e inventivo quer usar toda a sua potência para produzir bons encontros e, sabemos, um bom encontro só pode ser tal como é, se os corpos na relação aglutinarem suas potências numa amplificação comum, do contrário o que temos é um exercício de poder sobre outrem.
E é preciso sempre estar atento, porque os fracos, os mesquinhos, os pequenos, os feios, os reativos, os reacionários, os moralistas estarão sempre dispostos a se unir contra você. Aquele que é fraco e sem vitalidade vai se unir com outros que também são fracos para impedir que você efetue a sua potência e viva melhor.
Eles, os fracos, tem a necessidade de nivelar por baixo para que eles mesmos possam sobressair. O déspota é como um vampiro: para se manter de pé ele necessita sugar a vitalidade dos outros.
Portanto, diria Nietzsche, “saiba bem o que te apetece, e não recue ante nenhum pretexto, porque o mundo se organizará para te engolir”.
Referências
ESPINOSA, B. Ética; trad. Tomaz Tadeu. – Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2014
NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra; trad. José Mendes de Souza. – Rio de Janeiro: PocketOuro, 2008
Manolo Kottwitz
Professor de Artes Cênicas/Mestre em Psicologia Social e Cultura