Entre as várias doenças que tornam o coronavírus mais letal para os chamados grupos de risco, três comorbidades são mais frequentes entre as vítimas fatais da covid-19 em Santa Catarina: hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares.
Conforme dados divulgados pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive-SC), ao menos um em cada três óbitos pelo coronavírus no Estado desde o início da pandemia teve um desses complicadores.
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Conforme os números da Dive, que levam em consideração as mortes que ocorreram até o dia 29 de junho (eram 324 óbitos em SC até então), 37,7% das vítimas fatais tinham hipertensão, 36,1% tinham diabetes e 31,2% doenças cardiovasculares. Menos de 10% tinham alguma doença respiratória, e cada paciente pode apresentar mais de uma comorbidade ao mesmo tempo.
Somando a hipertensão e as outras doenças cardiovasculares, fica claro que os problemas ligados ao coração são os mais frequentes entre os pacientes que morrem por covid-19. O cardiologista Harry Corrêa Filho explica que o fato tem relação com as complicações no sistema circulatório causadas pelo coronavírus:
– Quando analisamos os pacientes que morrem de covid-19, vemos vários parâmetros que denotam que há comprometimento circulatório. O doente primeiro tem os efeitos causados pelo próprio vírus, depois a inflamação, e junto vem a formação de coágulos na microcirculação, e isso é determinante na condição do paciente. O sistema circulatório, quando comprometido, praticamente sela a situação do paciente, fica muito mais difícil recuperar.
Como prevenção, o cardiologista Artur Herdy aponta que os cardiopatas que mantém a saúde controlada, praticando exercícios físicos e com uma boa alimentação reduzem os riscos durante a pandemia.
– Há um perfil de pessoas [entre as vítimas fatais] em estado de saúde ruim, com doenças crônicas, alimentação ruim, geralmente obesos. Por isso que tem correlação com a evolução da doença manter um nível de atividade física maior, uma boa saúde. Nesse sentido temos visto que a situação em Florianópolis é uma das melhores em termos de mortalidade, por ter uma população mais saudável. A recomendação para quem tem problemas cardíacos é manter atividade física regular, de preferência ao ar livre desde que possa fazer isso com segurança, sem se expor em lugares muito frequentados, mantendo o distanciamento, além de cuidar da alimentação e do peso – ressalta Herdy.
Tratamento não deve ser relaxado durante a pandemia
Pesquisadores no Brasil e em outros países têm percebido também que, durante a pandemia, pacientes cardíacos têm feito menos exames e consultas com medo da contaminação nos hospitais. Estudos mostram um aumento, inclusive, no número de mortes por infarto dentro de casa, quando a pessoa não quis buscar um pronto-socorro.
– Além do paciente cardiopata ter um risco de ficar doente com a pandemia maior, ele aumenta o risco da própria doença base dele ao ficar segregado. A primeira razão é o medo que leva o paciente a não valorizar o sintoma. Ele tem a doença bem controlada, mas sente uma dor no peito, uma falta de ar, mas não vai ao hospital com medo do coronavírus. A segunda razão é que o paciente cardíaco precisa ser acompanhado, passar por médicos, controlar pressão. O fato de estar confinado e não fazer essas visitas leva a um risco. E a terceira é o pânico. As pessoas estão em pânico, assustadas com a situação, e isso piora a pressão, ela fica com o coração mais acelerado, descompensa a doença cardiovascular em função do estado emocional – explica Harry Corrêa Filho.
Desta forma, o cardiologista destaca que os pacientes com a doença cardiovascular fora de controle, sem cuidados médicos, tornam-se ainda mais propensos às complicações da covid-19 em caso de infecção:
– A pessoa já tem uma doença crônica séria, corre mais risco, e se a doença não está sendo bem acompanhada, se somar tudo isso, o paciente está solitário. Esse é o drama, quase um efeito colateral da Covid-19.
Fonte: NSC