Sem água, 10% dos brasileiros terão dificuldades na fase mais crítica da pandemia
Para especialistas, falta de ações preventivas e privatização do saneamento básico podem acentuar mortes nas periferias
O Brasil é o país que tem mais água doce disponível no mundo, representando 12% do total existente no planeta. É mais que toda a Europa e o continente africano. Em 2019, porém, quase 10% dos domicílios brasileiros não contavam com abastecimento de água diariamente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A falta de um bem elementar e a insalubridade de moradias precárias e sem rede de esgoto faz crescer o número de mortes pela covid-19 em regiões onde o poder público não atua. A pandemia, portanto, vem revelando a face mais país perversa de um país desigual: quem fica com os piores efeitos da covid-19 são os que não tem acesso à direitos básicos.
Graça Xavier é coordenadora da União dos Movimentos de Moradia Popular (UMMP), que criou uma rede solidária para apoiar as famílias de baixa renda e cobrar ações do poder público.
“A grande maioria das favelas de São Paulo ainda funcionam com o famoso ‘gato’. Abre o buraco, corta e encana a água de qualquer jeito. Rede de esgoto, a grande maioria também não tem, é esgoto a céu aberto.
Às vezes esse ‘gato’ foi feito de várias formas que o último barraco a água só chega dois, três dias depois. Então as pessoas estão pegando água de balde, de galão. Como a gente responde a tudo isso?”, questiona a liderança.
Ela nasceu no interior da Bahia, e hoje acompanha a situação de 68 mil famílias das favelas da região Sudeste de São Paulo, que dependem de redes irregulares de abastecimento de água.
Segundo balanço divulgado na última semana pela Prefeitura de São Paulo, em um mês, os 20 distritos mais pobres da capital paulista tiveram um aumento médio de 228% no número de óbitos.
Fonte: Brasil de Fato