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Queijo artesanal: produtores se capacitam e constroem o próprio laticínio

No fim da década de 1980, o casal Nilza e Altair Bach comprou duas vacas. Pouco depois, vieram os filhos Rafael, Raquel e Angela, nesta ordem. No começo, a ideia era dar leite para a criançada, mas sempre sobrava. Daí surgiu a ideia de fazer queijo para vender. A matriarca começou em casa, com os utensílios que tinha, na cozinha da casa.

Não demorou muito para a qualidade do queijo dos Bach ganhar fama. Porém, foi só em 2008 que a produção deixou de ser artesanal. À época, o dono de um restaurante famoso por ser parada de viajantes e ônibus de turismo fez uma proposta para a família: daria equipamentos profissionais para fazer queijos e, em troca, os Bach podiam pagar com mercadorias. Foi dessa forma que ocorreu o primeiro passo em direção à profissionalização do negócio.

Na história da família, sempre houve a dedicação a diversas atividades, além do leite. No início, a agricultura era o carro-chefe. Com o tempo, outras atividades entraram e saíram do portfólio da propriedade. Eles já venderam, por exemplo, geleias, hortaliças em geral, embutidos, conservas e diversos outros produtos do gênero.

Em comum, o fato de que sempre que surgia uma ideia nova, a qualificação entrava em cena. Para se ter ideia, a família Bach já participou de 23 treinamentos promovidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Paraná (Senar-PR), nas áreas de produção de alimentos, turismo rural, bovinocultura de leite e agricultura.

Esse total inclui os cursos feitos pelo casal, os três filhos e a esposa do filho mais velho (Rafael), Cristina Bach, que também se envolve nas atividades da propriedade. O mais recente foi o Programa Herdeiros do Campo, que está ajudando a envolver todos os membros da família nos negócios. Mesmo Raquel (filha do meio), que não mora na propriedade, auxilia diretamente na parte financeira dos negócios da família.

Angela Bach, a filha mais nova, participou junto com o pai, em 2016, do Herdeiros do Campo. Ela se formou em medicina veterinária em 2014 e teve um papel decisivo na construção de um laticínio próprio.

Aliás, lembra daquela cena de Nilza batendo de porta em porta? Às vezes ela sente saudade e vai fazer suas entregas de carro para clientes especiais. Mas hoje, a família Bach é dona de um laticínio que vende queijos em todo o Paraná e até mesmo para estados vizinhos.

Reforço na capacitação

A segunda onda de profissionalização do negócio começou quando Angela entrou na faculdade, em 2009. Na época, o irmão Rafael e a cunhada Cristina estavam na linha de frente em cuidar das vacas na propriedade. Ele foi atrás de informações sobre financiamentos para ampliar a produção e construir um laticínio.

A estrutura foi erguida, mas por problemas no projeto, não conseguiram as licenças sanitárias. “Eu fiquei dois anos lutando com isso, tentando encontrar uma saída, porque não tínhamos como derrubar e construir novamente. Nesse tempo, ficamos sem poder vender para fora do município. Foi um período muito difícil”, lembra Angela.

Depois de analisar as possibilidades e ir atrás dos órgãos regulamentadores, finalmente os Bach fizeram as adequações e conseguiram as licenças necessárias. Desde 2019, o laticínio está a todo vapor, colocando produtos em vários supermercados.

A propriedade, hoje, conta com quatro funcionários, além da mão de obra familiar. “Por dia, a gente produz 900 litros de leite, com uma média de 40 vacas em lactação. Dá uns 100 quilos de queijo por dia. Não trabalhamos com estoque, pois é um produto fresco”, relata a veterinária.

Angela considera a formação acadêmica e os cursos do Senar-PR cruciais para a família ter vencido os momentos mais desafiadores. “Se a gente não tivesse metido a cara e peitado, talvez tivéssemos desistido, feito outra coisa”, reflete.

Novo desafio

No fim de 2019, um temporal destelhou a cobertura da sala de ordenha e jogou tudo para cima da queijaria. “Eu não sabia o que fazer. Depois de estar tudo arrumado, perfeito, aquilo ali desanimou. Tínhamos seguro, mas não cobria tudo. Deu aquela desanimada, mas conseguimos nos reorganizar e colocar tudo em pé novamente”, compartilha Angela.

Passados os sustos, a família agora tem intenção de seguir investindo para melhorar a infraestrutura da propriedade. O que atrapalha, na visão de Angela, são os processos burocráticos que, muitas vezes, não são pensados para os laticínios menores.

“O problema para os pequenos é que só tem legislação para laticínio grande. Então, muitas vezes, é preciso fazer ofício para tentar explicar a realidade de um laticínio pequeno”, exemplifica.


Fonte: Canal Rural 

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