Conversando com uma querida amiga, na semana anterior, nos perdemos em devaneios, como costumeiramente acontece quando nos vemos e, de repente, ela me disse: “Eu gosto como você não fica dizendo que as pessoas não devem sofrer”. Sabe aquele dizer que você fica “martelando” por dias?
Diversas vezes eu tenho me perguntado de que forma eu quero me colocar em relação com as pessoas dentro do meu papel profissional, como psicóloga, mas também em todos os outros que desempenho.
E sim, quando paro para pensar e avaliar os modos com que tenho feito, me percebo bastante trágica. Trágica no sentido filosófico da palavra, que engloba a questão do autoconhecimento como uma busca de tornar-se quem se é, o que não implica necessariamente em felicidade, de compreensão e aceitação do sofrimento como inevitável e natural da condição humana, da inexorabilidade da vida como um destino.
Percebo meu modo como doloroso e, ao mesmo tempo, libertador para as pessoas com quem entro em contato como psicoterapêuta. Há algum tempo tenho direcionado o estudo e as leituras para entender o cenário pós-moderno em que vivemos, onde estamos cada vez mais afastados da tragicidade de viver e conduzidos por princípios e valores que não são os nossos. E olha só, viver é tão desafiador, impõe tantos medos, inseguranças, dores, perdas, tristezas, etc. E tudo isso DEVE ser vivido.
Somos e estamos cada vez mais hedonistas. Vivemos desejantes do que não possuímos e de desejos que nem são os nossos autênticos, desejos produzidos e nos enfiados goela abaixo pela sociedade de consumo e seus meios de veiculação dos sucessos de possuir. Isto me remete à frase de Schopenhauer que afirma: Somos livres para desejar, mas não livres para desejar o que desejamos.
O envelhecimento apavora, os vínculos escapam entre os dedos, nossa autoestima se abala por qualquer crítica, tudo queremos queixar, temos horror ao ressalte das diferenças e à ser comparados com os outros, queremos tanto sentir prazer o tempo todo que a sensação de vazio é quase inevitável.
Notando e sentindo tudo isso, buscamos conforto e consolo em um diagnóstico psicológico, Sou ansioso, Sou depressivo… O que mais uma vez nos exime de esforço e responsabilidade.
É, nós estamos difíceis de suportar e com psicológicos e emocionais bastante flácidos e frágeis. As respostas prontas, receitas e passos para o enfrentamento disso seguem não existindo, ou tudo aquilo que já sabemos teria eliminado nosso sofrimento.
As pistas são poucas, mas o cultivo da Coragem com C maiúsculo, me parece coerente, diante do fato da inevitabilidade de sofrer. Além disso, é preciso de real ajuda para não padecer.
Caloroso cumprimento e até semana que vem!
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
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