Inquérito foi aberto para apurar se houve discriminação em fala de um funcionário de uma rádio comunitária de Orleans. ‘Eu estava com minha mãe quando a gente escutou ao vivo’, diz um dos estudantes que denunciou o caso.
Os comentários de um radialista de Orleans, no Sul de Santa Catarina, em um programa policial de uma rádio comunitária causaram indignação entre os moradores e lideranças LGBTs, e virou alvo de investigação da Polícia Civil. Após ouvir as declarações, ouvintes denunciaram o caso como homofobia.
Um trecho com o programa apresentado ao vivo, na semana passada, pelo radialista Carlos Augusto Almeida repercutiu. “Aí me perguntaram: tem mais um caso na cidade? É, é mais um caso na cidade de Orleans. Caso de quê? É mais um caso gay na cidade, é uma barbaridade, né”, declarou o radialista.
Após ouvir a declaração enquanto almoçava com a mãe, o estudante Adriel Fernando Marcílio Inácio compartilhou o caso em sua rede social.
“Eu tava almoçando com a minha mãe e, como de costume, a gente sempre escuta a rádio nesse horário. Foi aí que a gente escutou esse crime ao vivo. Na hora, não sei explicar pra vocês o que eu senti, foi um mix de emoções, de raiva e de tristeza”, afirmou. Ele foi um dos que denunciou a situação.
A fala também foi criticada pelo maquiador Thiago Schmiter. “Um sentimento de indignação e revolta tomou conta de mim e eu corri para as redes sociais”, disse
Desde o ano passado, a prática pode ser enquadrada como crime de racismo. A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar o caso. “Acabei instaurando um inquérito policial que tem por objetivo a apuração desse fato e verificar se, na conduta do radialista, ocorreu alguma incitação, discriminação ou indução a preconceito em razão da orientação sexual”, afirmou o delegado Ulisses Gabriel.
Posição da rádio e do radialista
A direção da rádio comunitária informou em nota que notificou o funcionário para que ele se retratasse ao vivo. O caso também deve ser discutido em uma assembleia geral da emissora.
Carlos Almeida deve ser ouvido pela polícia na próxima semana. À NSC TV, ele disse que não teve a intenção de ofender ninguém.
“Depois que eu falei que fui me tocar que havia feito um grande erro. No outro dia eu pedi desculpas, pedi até que me perdoassem. Essa retratação foi enviada à delegacia de polícia. A gente fica bastante constrangido e apreensivo”, disse ele.
Denúncia ao MPSC
A Comissão de Direito Homoafetivo e Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SC) denunciou o caso ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), citando o crime de discriminação ou preconceito em meio de comunicação.
“Em 2019, em maio, o STF [Supremo Tribunal Federal], em inédita decisão, entendeu e equiparou as práticas homofóbicas com a prática de racismo. Já tomamos as devidas providências e esperamos que isso não se repita”, disse Margareth Hernandes, presidente da Comissão.
O movimento Aliança Nacional LGBTI emitiu uma nota repudiando as declarações do radialista. “Todo mundo pode falar o que pensa, da maneira que pensa, mas não pode ofender a dignidade humana”, afirmou Toni Reis, presidente da Aliança Nacional.
Fonte: G1 SC