Pelo menos 232 pessoas foram vacinadas contra a Covid-19 com doses de fabricantes diferentes em Santa Catarina. A troca aconteceu em 73 cidades. Em 89% dos casos, os vacinados receberam a primeira dose da Oxford/AstraZeneca e a segunda da Coronavac. As informações estão em levantamento feito pelo grupo de estudos da Unicamp, #TemCiencianoBR.
A cidade de Romelândia, no Oeste de SC, registrou 18 trocas. É o maior número de ocorrências entre as cidades catarinenses. Brusque e Bocaina do Sul aparecem na sequência com 13 moradores imunizados de forma incorreta.
O levantamento levou em conta os dados públicos do próprio Ministério da Saúde sobre a Campanha Nacional de Vacinação contra Covid-19. Os pesquisadores analisaram dados até o dia 8 de abril e perceberam que nessa data já havia pacientes que tinham recebido a segunda dose da Oxford/Astrazeneca.
Isso não deveria ocorrer, considerando que a vacinação no país começou em 17 de janeiro e o intervalo entre as doses para esse imunizante é de três meses. Portanto, os primeiros completamente imunizados deveriam aparecer no banco de dados a partir de 17 de abril.
– Desde o início da pandemia, temos monitorado a produção científica brasileira sobre Covid-19, diferentes dados sobre vacinas em bases internacionais e nacionais e aspectos estruturais da nossa saúde pública. No ano passado, por exemplo, mapeamos os dados da Rede Frio e vimos que não teríamos estrutura suficiente para implementar a vacina da Pfizer no Brasil. Recentemente, começamos a mapear os dados de vacinação da Covid-19 tentando entender o abandono entre as duas doses – afirma Sabine Righetti, doutora em política científica da Unicamp.
No Brasil, o erro aconteceu com 16.526 pessoas em todos os estados
A epidemiologista e professora do Departamento de Saúde Pública da UFSC, Alexandra Boing, explica que as pessoas que receberam doses diferentes não estão protegidas contra o coronavírus.
– As vacinas são de tecnologias diferentes e não temos estudos sobre mistura de vacinas até o momento. Risco direto não há. Entretanto, esses pacientes precisarão ser acompanhados e deverão tomar a segunda dose de uma das vacinas recebidas – afirma.
Ela pondera que possa haver erro na aplicação, mas também no registro de informações no sistema e reforça a importância dos profissionais da saúde estarem bem treinados.
A Diretoria da Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive/SC) informou que está apurando o caso junto aos 73 municípios e que segue a orientação do Ministério da Saúde (Nota Informativa 21/2021).
O texto diz que “em casos nos quais o indíviduo tenha recebido a primeira dose de vacina COVID-19 de um produtor (fabricante) e com menos de 14 dias venha receber uma segunda dose de vacina COVID-19 de outro produtor (fabricante), a segunda dose deverá ser desconsiderada e reagendada uma segunda dose conforme intervalo indicado da primeira vacina COVID-19 recebida”.
O Instituto Butantan informou que não há conclusões científicas a respeito das trocas e reforçou que o correto é tomar as duas doses da mesma vacina. A FioCruz não retornou até o fechamento desta reportagem.
A recomendação é que no momento da vacinação a pessoa confirme qual imunizante será aplicado.
– É sempre bom que o usuário confirme com o profissional de saúde qual dose está tomando – completa a epidemiologista Alexandra Boing.
Fonte: NSC