Sem público, sem aplausos, sem selfies. A Semana de Moda de Paris se adapta à nova normalidade pós-COVID e será digital pela primeira vez, com vídeos de alta costura a partir de segunda-feira que buscarão suprir a “mágica” das passarelas com engenhosidade tecnológica.
A agitação “fashionista” que invade Paris nesta época do ano será substituída pelos cliques dos internautas conectados a uma plataforma digital. Do curioso ao grande comprador de uma loja de departamento, todos descobrirão as coleções ao mesmo tempo.
Entre segunda-feira e quarta-feira, marcas de alta costura, incluindo grandes casas como Dior e Chanel, vão desfilar virtualmente. Givenchy e Armani estarão ausentes.
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Na quinta-feira, a moda masculina assume o palco por cinco dias, com novas marcas convidadas, como o jovem estilista espanhol Archie Alled-Martínez.
YouTube, Google, Instagram, Facebook… A Semana de Moda também será vivida nas redes sociais. O objetivo é que as coleções continuem alcançando o público, apesar da ausência das imagens glamourosas dos desfiles parisienses, ideais para dar a volta ao mundo.
Não é de surpreender que a indústria da moda esteja em uma encruzilhada: atingida pela desaceleração causada pela pandemia, alvo de críticas crescentes por incitar o consumo contínuo e por seu modelo insustentável, as marcas saem do confinamento atingidas economicamente e olhando para o futuro com muitas perguntas.
“A Semana de Moda digital era a única maneira de mostrar o trabalho realizado e retomar a atividade dessas empresas”, resume Gilles Lasbordes, diretor-geral do salão francês Première Vision.
Londres também organizou em junho seu calendário de desfiles on-line e Milão fará o mesmo a partir de 14 de julho.
Luxo é emoção
A Federação Francesa de Alta Costura e Moda propôs que as empresas gravassem vídeos com no máximo 20 minutos. Mas, por exemplo, a estilista Xuan Thu Nguyen precisará de apenas quatro para apresentar quatro “looks”.
“Este é um vídeo artístico, que as pessoas poderão ver quantas vezes quiserem, acho mais interessante do que apresentar uma coleção inteira”, disse à AFP a holandesa de origem vietnamita, cujo vídeo de alta costura será transmitido na segunda-feira.
À frente de sua empresa parisiense Xuan, essa estilista se sente confortável com esse formato.
“Não faz sentido criar tantos vestidos (para um desfile). Em cada coleção, há um tema a ser declinado: longo, curto, azul, vermelho… É um desperdício”, afirma.
O italiano Maurizio Galante também aprova essa experiência: “O desfile e o vídeo são como teatro e cinema, com linguagens completamente diferentes”, diz ele.
No primeiro, “as energias circulam, mas perdemos muitos detalhes”, no segundo, “a mensagem que queremos transmitir é passada com sucesso”.
Mas para Xuan, essa nova normalidade na moda é apenas uma “pausa”, antes que as coleções brilhem novamente nas passarelas.
“Eu poderia viver sem os desfiles, mas acho que no final alguém acabará sentindo falta”, acredita.
Uma opinião compartilhada por outras marcas emblemáticas: “Luxo é emoção e nada é tão emocional quanto uma passarela real. A eletricidade desse momento criativo, os prazos, a adrenalina…”, comentou recentemente o presidente da Dior, Pietro Beccari.
Para outros, a pandemia agiu como uma “revelação”. Gucci anunciou que apresentaria apenas duas coleções por ano e Saint Laurent retirou-se do calendário oficial de 2020 para trabalhar de acordo com a “criatividade”.
Por enquanto, resta ver como esta Semana de Moda sem precedentes será recebida e como será organizada a seguinte.
O próximo programa de “prêt-à-porter” em Paris, previsto para o final de setembro, será realizado segundo “as recomendações oficiais” em termos de medidas sanitárias, de acordo com os organizadores.
Fonte: Correio do Povo