Os imaturos são mais ansiosos?
Considerava construir argumentos que amparassem uma observação oriunda da prática clínica, a de que a ansiedade é muito mais sentida nos tempos da vida jovem. Neste caso, associando a juventude a um grau de imaturidade e ignorância diante da vida [é evidente que a imaturidade e a ignorância não estão restritas à juventude. Há aos montes aqueles que transitam pela vida sem jamais deixar de sê-los].
Ansiedade, em meu entendimento, é caracterizada por uma projeção exacerbada para o futuro, incorporando temores e angústias predominantemente com contornos negativos. Isto posto, foi necessário questionar-me das razões pelas quais coaduno a ansiedade e a imaturidade. Acompanhem-me na reflexão: o que não está dado em nossa vida ou pré-determinado é o futuro, trata-se de uma possibilidade que, em alguma medida, nos pertence e depende das nossas ações, tomadas de decisão e escolhas. Ou seja, é condição da ansiedade a angústia diante de uma existência perpassada pela liberdade de fazer-se e, na imatura juventude, somos demasiado crus e inexperientes para saber o que fazer com tanta liberdade.
Para além disso, a tênue linha que separa a liberdade de fazer-se da sensação de abandono na existência pende para a segunda opção nos ansiosos. Isto, talvez, em razão da liberdade de escolha exigir uma capacidade maior em lidar com as recusas em comparação aquilo que, de fato, podemos escolher [afinal, não se pode ter tudo]. Em razão disso, muitos adiam a vida na esperança de sentirem-se em algum momento, seguros para fazer escolhas assertivas. Aqueles que dispõe de alguma maturidade já contam com o entendimento de que nem sempre é possível avaliar escolhas como boas ou más, corretas ou equivocadas, antes de fazê-las, essa é uma avaliação predominantemente posterior a decisão, exceptuando, talvez, aquelas de ordem moral e ética.
Soren Kierkegaard, pai do existencialismo, afirma em sua obra: O conceito de angústia, que esta é a realidade da liberdade como possibilidade antes da possibilidade. Por essa razão, os animais não se angustiam, pois em espírito – assim escreve o filósofo – eles não são livres. Nossa angústia é um “sintoma” da nossa liberdade; condenados por uma espécie de natureza, pouco ou nada haveria pelo que se angustiar. Parece-me que algum grau de maturidade é capaz de trazer um entendimento acerca disto e, por essa razão, oferece um respiro para a ansiedade. O filósofo sagra afirmando: “A angústia é uma simpatia antipática e uma antipatia simpática”.
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
Redes sociais:www.facebook.com/solange.kappes | Instagram: @solangekappes
A opinião dos colunistas não reflete necessariamente a visão do veículo.