Coluna: Política às Avessas
Um dos três maiores economistas de todos os tempos, o britânico John Maynard Keynes revolucionou a economia moderna ao sepultar os princípios liberais em 1936 com a publicação da obra “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”.
De fato, não havia à época como sustentar a fragilidade da famosa “Lei de Say” onde se assumia que a oferta por sí só era capaz de gerar a sua própria demanda. Além disso, Keynes coloca em perspectiva um novo arcabouço teórico que tem insistido em explicar o funcionamento das economias até os dias atuais.
Para Keynes o que determina o produto real de uma economia é a sua capacidade de demanda efetiva, ou seja, o potencial de compra e/ou consumo de determinada economia em sua forma agregada.
As expectativas futuras do cenário econômico passam a ter um caráter fundamental, pois estas, definem o investimento do empresariado. Além destes dois aspectos, entra em jogo a importância do Estado como agente provedor da economia e busca do pleno emprego. Keynes, simplifica a definição da renda nacional a partir da seguinte equação:
Y = I + C + G + (X-M)
O Y representa a renda nacional, e, é obtido a partir da equação mencionada acima. O I é a soma dos investimentos privados, ou seja, todo capital empresarial investido em atividades de produção econômica.
Já o C significa o consumo das famílias (rendas + salários), enquanto o G é o somatório dos gastos públicos efetivados. O X diz respeito a respeito aos valores decorrentes das exportações e o M das importações. Em linhas gerais o resultado de tais variáveis determina a renda nacional.
Na análise da economia brasileira, em trajetória de recessão muito antes do COVID-19, os investimentos privados (I) que já não foram em 2019, como se esperava com a entrada do governo atual.
Isto porque, somente as reformas estruturais (trabalhista e previdenciária) não foram capazes de reconduzir um alto nível de investimento no país. Com a pandemia as expectativas para economia brasileira tanto de empresários nacionais como estrangeiros estão em apreensão, especialmente pela atuação do governo na gestão da crise.
O consumo das famílias (C) está fortemente ameaçado e em perspectiva de crise, pois, o desemprego que já somava 13 milhões de pessoas antes do COVID-19 no país, tem apresentado números alarmantes de novas demissões.
Na ausência de números oficiais, os dados do SABRAE, ainda em abril, apontavam para algo em torno de 9 milhões de “novos” desempregados. O consumo futuro está comprometido, o volume de pessoas sem trabalho no país deverá ser um grande entrave a retomada da economia.
Na ausência de um projeto nacional de desenvolvimento, e, ainda, um processo de desindustrialização da economia brasileira desde os anos de 1980, nos coloca como resultado uma balança comercial (X e M) cada vez mais dependente das commodities como minério de ferro, carne (suína, frango e bovina) e da soja.
Em outras palavras, nos reafirmamos cada vez mais na divisão internacional do trabalho como um país de trabalho operacional.
Por último, como uma estratégia de construção de nossos argumentos, os gastos do governo (G). De forma introdutória, afirmamos que as demais variáveis propulsoras do crescimento econômico estão ainda mais fragilizadas frente a pandemia do COVID-19.
A saída para uma retomada da economia brasileira passa pelos gastos públicos, especialmente aqueles de incentivo a geração de empregos, como por exemplo, a construção civil que tradicionalmente demanda um grande conjunto de mão de obra.
Ao contrário do que vem fazendo, é necessário que o Governo Federal reforce as ações de auxílio emergencial para que essas pessoas que estão perdendo o emprego ou que viviam na informalidade laboral possam ter renda e a partir disso garantir as vendas do setor de comércio.
Na contração do mundo, o governo federal, precisa dar as condições para aqueles que querem e podem trabalhar (empresários e trabalhadores) e assegurar renda para aqueles que temporariamente estão impedidos.
É necessário retomar, que nossos representantes políticos sejam alavanca do desenvolvimento e não ancoras.
Juliano Luiz Fossá
Doutorando em Administração na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Mestre em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais (UNOCHAPECÓ), Pós-Graduado Lato Sensu em Gestão Universitária (UNIVALI) / Pós-Graduado Lato Sensu Gestão Empresarial (UNOCHAPECÓ), Bacharel em Ciências Econômicas (UNOCHAPECÓ).