Havia muita expectativa em relação às novas medidas que o governador Carlos Moisés (PSL) anunciaria no fim da tarde deste sábado. Tanto que a mera confirmação da suspensão de eventos esportivos, à esteira do fiasco que foi a volta do Campeonato Catarinense de futebol, e a proibição de shows, cinemas, museus e outras atividades que já estavam restritas na maior parte do Estado pareceu um tiro n’água.
No entanto, há na medidas anunciadas e – especialmente – no vídeo divulgado com a conversa entre Moisés e o secretário estadual da Saúde, André Motta Ribeiro, um claro recado aos prefeitos para que assumam a responsabilidade e o ônus de também aplicarem medidas de restrição. No vídeo, Moisés é claro ao lembrar que essa era a expectativa quando cedeu às pressões vinda dos municípios para que as decisões fossem compartilhadas.
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“A proposta inicial é que alguns prefeitos precisavam ter certa liberdade tanto de flexibilização quanto de endurecimento das medidas no caso de situações distintas. Não é só para flexibilizar que os prefeitos têm autonomia” disse Moisés.
Em seguida, foi a vez de André Motta Ribeiro relembrar essa transição de responsabilidades:
“Nós estamos em um momento distinto. Desde 27 de março e durante muito tempo nós tivemos o protagonismo das decisões. Já há mais de 30 dias temos feito alinhado com os prefeitos o que deve ser feito por cada um” fala.
O que ficou claro nesse tempo de maior liberdade aos prefeitos é que Moisés havia sido até então um confortável escudo às críticas. As más notícias vinham da Casa d’Agronômica, aos prefeitos restava colher a pose de autoridade crítica em meio à crise do coronavírus – para alguns, com efeito até nas pesquisas eleitorais contratadas pelos partidos.
Na medida em que o governo do Estado transferiu a eles a responsabilidade pelos fechamentos – até semana passada eram raros os que ousaram ser mais rígidos que Moisés em suas decisões, caso do florianopolitanos Gean Loureiro (DEM) – ficou claro o desconforto e falta de uniformidade nas decisões. Santa Catarina vive hoje os dias mais tensos desde a eclosão da crise do coronavírus – uma conta que se faz com a divulgação diária dos números de contaminados, de mortos e dos percentuais de ocupação das UTIs.
Ao mesmo tempo, Moisés acomodou-se ao papel de mero delegador de responsabilidades e foi tratar de salvar seu próprio governo, atormentado pela crise política que vive desde que veio à público destrambelhada e possivelmente criminosa compra dos respiradores fantasmas. Contaminado pela Covid-19 – da qual anunciou estar curado – Moisés submergiu. Volta agora sem o impacto de uma decisão com o peso da retomada do protagonismo que teve e do qual abriu mão. Prometeu algo que precisaremos cobrar.
“Vamos conversar com os prefeitos, tenho certeza de que cada um vai tomar a responsabilidade que lhe é devida para que tão logo a gente distensione o sistema haja a flexibilização” disse o governador.
Vivemos até agora nesta pandemia dois momentos distintos. A decisões centralizadas e construídas no palácio do governo estadual, no primeiro momento. Agora, os prefeitos sozinhos com decisões sobre a saúde e a vida financeira de populações a quem precisarão pedir votos em menos de quatro meses – para si ou para os seus. Está na hora de que as responsabilidade sejam realmente compartilhadas, inclusive pela sociedade – falo de todos nós – que parece aguardar decisões clarividentes de seus governantes e se recusa a adotar medidas simples de preservação por iniciativa própria.
Fonte: NSC