Um levantamento feito pela NSC nas 20 maiores cidades catarinenses, que somam mais da metade da população do estado, mostra que há mais de 420 profissionais de saúde com Covid-19.
A lista é liderada por Blumenau, seguida por Itajaí, Balneário Camboriú, e na sequência, Concórdia. Joinville, a mais populosa, tem 40 registros. Em Florianópolis, são seis. Os dados foram coletados com as secretarias de Saúde municipais. O estado tem 6,4 mil pacientes com coronavírus, incluindo 100 mortes.
“Eu tenho a sorte de ter nenhum colega que tenha sido infectado de forma grave, e sim da forma leve da doença, e a gente segue trabalhando, fazendo o que gente pode, para se defender, para se prevenir, mas começamos a lidar com o medo de uma forma um pouco diferente”, disse o médico André Manoel.
O receio do André é justificado. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, são mais de 200 mil profissionais da saúde com suspeita da Covid-19. Até agora, nenhum país registrou essa marca.
Em Santa Catarina dois trabalhadores da linha de frente morreram por conta da doença: uma técnica de enfermagem e um médico. O chefe de enfermagem Ricardo Brodersen trabalhou com um deles. “Fui infectado no início da pandemia, fique em casa e um pouco frustrado porque precisei sair da linha de frente. Hoje voltei, estou na linha de frente no combate ao coronavírus”, disse.
Enquanto uns são afastados, outros se antecipam pra ajudar na demanda por profissionais que aumenta.
“Eu me formei recentemente em medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina, faço parte desse seleto grupo que antecipou a formatura para contribuir no à pandemia e estou como médico há pouco mais de um mês, mas a gente fica com muito receio tanto de se contaminar ou de ter alguma reação muito forte caso venha a ocorrer o contágio”, disse Magno Cruz.
Em relação aos profissionais afastados por suspeita do novo coronavírus desde o início da pandemia, foram 1.592). O dado pode ser ainda maior, porque das 20 secretarias municipais de Saúde, nove não tinham ou não conseguiram fazer esse levantamento.
O levantamento contrasta com os dados enviados pelo Governo do Estado: foram confirmados 236 profissionais da saúde com coronavírus. Esse dado é quase metade do que foi levantado pela NSC em apenas 20 das 295 cidades do estado.
Os Conselhos Regionais de Medicina e Enfermagem, que são responsáveis também por regulamentar as profissões, dizem que não receberam nenhum dado oficial até agora.
“Aqui em Santa Catarina há um grande número de profissionais que foram acometidos, mas não temos uma notificação adequada em relação ao número de médicos”, falou Marcelo Neves Linhares, presidente do CRM-SC.
“Porque esses dados são considerados pro sistema Cofen/Coren porque é a partir desses dados que conseguimos trabalhar nas ações de promoção e de prevenção e, principalmente, mostrar para entidades públicas o quanto que eles precisam investir em algumas frentes, sejam de capacitação, em melhores EPIs [equipamentos de proteção individual]”, disse Daniella Farinella, secretária do Conselho Regional de Enfermagem.
Uma das formas de proteger quem combate e convive todos os dias com o vírus é cumprir os protocolos de saúde, que incluem o uso de EPIs. O Conselho Regional de Enfermagem já recebeu 130 denúncias sobre a falta ou má qualidade dos equipamentos.
“O que a gente tem feito sobre essas denúncias: a gente acolhe elas, direciona pros enfermeiros fiscais irem in loco e conversar e fazer todo um acompanhamento dentro do serviço. A gente não tem a certeza ainda se muitos dos que estão contaminados são realmente pela retirada dos EPIs ou pelos EPIs de baixa qualidade”, disse Daniella.
Doações
A falta de estrutura alcança até os itens básicos de higiene dos profissionais. Por isso, o Coren mesmo tomou a frente de uma ação para pedir doações.
“A gente está fazendo uma campanha pedindo toalha de banho, pijamas de centro cirúrgico e calçados adequados para eles trabalharem. Essa é mais uma iniciativa que estamos fazendo pedindo para trazer mais alguns insumos que são primordiais pra gente doar para os serviços de saúde e para a enfermagem catarinense, disse Daniella.
Outro lado
Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde disse que vai analisar a discrepância entre os números e que não registra falta dos EPIs para as equipes de saúde.