Especialistas da física e da astronomia analisaram com mais precisão fotos feitas entre Passo de Torres e Balneário Gaivota (SC), quase na divisa com o Rio Grande do Sul, que mostram uma luz intensa no horizonte, em alto mar e em baixa altitude.
O registros são do empresário Rudinei Rosa, 41 anos, que seguia de carro com a filha de Torres (RS) para Balnerário Gaivota (SC), distante 40 quilômetros da praia gaúcha, quando afirma ter avistado o que seria uma esfera brilhante no horizonte.
Para o físico Érico Kemper, professor de física no campus Canoas do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), e para o físico e astrônomo Luiz Augusto da Silva, com experiência de 40 anos na área, não resta dúvida: o objeto brilhante das fotos é Júpiter no horizonte.
Mas há um porém, indicado por eles: por indícios encontrados pelos especialistas nas próprias imagens, elas não teriam sido feitas às 0h45min de 22 de junho de 2020, como o empresário alega, mas por volta das 20h de 21 de junho de 2020.
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À reportagem, Rosa contou que retornava de Torres com a filha, quando decidiram seguir pela beira da praia para encurtarem o caminho. Depois de andarem cerca de dois quilômetros, por volta da 0h45min, ele avistou a esfera de luz em direção ao mar. Os dois estavam em um trecho totalmente desabitado e sem energia elétrica. O único ponto de luz vinha da direção da esfera, que ficava mais clara e mais escura, mudando a intensidade da luz.
O empresário recorda ter descido do carro, aproximado-se do mar e fotografado com o celular. Ele afirma nem ter cogitado ser um disco voador, por exemplo. Apenas considerou a imagem diferente. Porém, logo depois do primeiro clique, pai e a filha observaram um clarão vindo do Norte que iluminou toda a praia.
Ele apontou a câmera na direção e fotografou no susto, como diz. Depois do clarão de segundos, a região totalmente desabitada voltou à escuridão. Na hora, Rosa chegou a comentar que poderiam ter sido fogos de artifício sem som. Enquanto retornava para o carro, ele se assustou com a foto que tinha feito. A imagem, ainda que tremida, mostra seis pontos luminosos – um deles mais esverdeado – na direção de onde, a olho nu, ele e a filha só haviam presenciado um clarão.
Ao voltar a olhar para o mar, Rosa afirma ter visto algo voando em direção ao céu e a esfera de luz já não estava mais no mesmo lugar. Toda a ação durou quatro minutos pelos horários da câmera do celular.
O empresário garante que as fotos foram feitas no início da madrugada de 22 de junho, ao contrário do que os especialistas dizem. Como costuma salvar as próprias fotos numa conta pessoal de whatsapp e apagá-las do sistema do celular, Rosa não tem mais o arquivo bruto das imagens, que comprovaria o horário em que elas foram feitas. Quando as imagens são repassadas para o whatsapp, elas perdem os metadados originais.
Silva e Kemper afirmam que foi descartada a hipótese de as fotos serem fakes, mas ressaltam que os horários da captura indicada pelo autor não condiziriam com a imagem que aparece na captura. Com os próprios conhecimentos em astronomia e o auxílio do Stellarium, software de astronomia para visualização do céu nos moldes de um planetário, os pesquisadores garantem que Rosa fez uma bela imagem de Júpiter, durante o nascer do planeta no horizonte.
“Leste, logo no início da noite. A imagem também mostra as estrelas da constelação de Sagitário, o que nos garante que o ponto luminoso mais embaixo é Júpiter, levando em conta as distâncias do planeta com a constelação e o horizonte” explica, convicto, Kemper, que colocou frente a frente a foto registrada pelo empresário com a simulação da posição do planeta e da constelação para aquela configuração.
Silva também não tem dúvidas. Ele fez uma simulação de Júpiter em 19 e 20 de junho para mostrar como o céu estava no horário do surgimento do planeta.
“A imagem mostra Júpiter baixo sobre a linha do mar, fotografado no início da noite. A determinação das datas também atesta que o depoimento da testemunha é autêntico, só nos resta esclarecer a confusão nos horários” argumenta o astrônomo.
Os especialistas destacam também que no horário indicado pelo autor da foto, Marte estaria nascendo praticamente na mesma posição no céu onde quatro horas antes havia surgido Júpiter. A diferença é que o planeta tem luz mais avermelhada e a constelação de Sagitário – indicada nas luzes mais atrás do ponto mais brilhante – já não estaria mais naquela posição das 20h, mas praticamente no meio do céu.
“As constelações no céu são o sistema de referência para descrever e identificar com precisão as posições dos planetas e demais astros para qualquer dia e horário”, completa Kemper.
A terceira imagem feita por Rosa, que está borrada por conta do movimento feito e onde se percebe luzes em vertical, é apenas o resultado de um movimento da câmera durante a exposição.
“Estava, inclusive, com receio de divulgar porque muitos desconfiam mesmo. Eu mesmo pensei que pudesse ser um planeta. Mas sei o que fiz e o que vi naquela noite” finaliza Rudinei.
Fonte: Gaúcha ZH