Quando a pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil, no final de fevereiro, já dava para prever que o país teria dificuldades para conter a doença de forma satisfatória e que o número de óbitos seria maior entre os mais pobres. Sábado, o país ultrapassou a triste marca de 100 mil mortes, o que requer medidas mais duras para reverter quadro. E estudos regionais confirmam que ocorrem mais óbitos entre os mais pobres acima de 60 anos. Isso afeta milhares de famílias que enfrentam a perda de uma pessoa querida, mas também de alguém que tinha relevância na oferta de uma renda estável de aposentadoria em lar de menor poder aquisitivo.
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Os dados indicam que 71% dos óbitos no país foram de pessoas com mais de 60 anos, o que significa que a maioria é de aposentados. E levantamentos regionais apontam que a perda de vidas é mais que o dobro maior em bairros pobres. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado na semana passada apurou que 45% das mortes no Rio de Janeiro ocorreram nos últimos meses em bairros mais pobres e 21,6% em bairros mais ricos.
Outra análise com dados do IBGE, realizada pelo epidemiologista e professor da USP Paulo Lotufo até meados de junho apurou menor média de mortes em São Paulo em bairros mais ricos. O estudo mostrou que para cada 100 mil habitantes, o bairro Bela Vista, de alta renda, registrou 20,7 óbitos. Na região mais pobre do Braz, foram 87 mortes para cada 100 mil habitantes. Novo estudo feito pela Unifest, a Universidade Federal Paulista, aponta que a maioria das vítimas em São Paulo são prestadores de serviços, donas de casa e pessoas que usam transporte coletivo, informou o Valor.
Ainda não foram feitos estudos sobre Santa Catarina, mas os números gerais apontam mais óbitos em cidades com mais disparidade de renda, como Joinville e Itajaí, do que em Florianópolis, onde a renda média das pessoas é maior por ter grande número de servidores públicos e profissionais liberais. Além disso, tanto em Joinville, quanto em Blumenau dados indicam que há maior número de óbitos onde mais trabalhadores circulam.
No início da pandemia, pegou muito mal uma afirmação, embora em reunião fechada, da superintendente da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Solange Vieira, de que mais mortes de idosos ajudaria a melhorar as contas do país porque reduziria os custos da Previdência. Se a pandemia tivesse continuado tirando a vida dos mais ricos, talvez a infeliz estimativa de redução de despesas feita por Solange poderia se concretizar.
Mas, no Brasil, 67% dos aposentados pelo regime geral do INSS ganham um salário mínimo (R$ 1.045). Podemos deduzir que a maioria das vítimas da Covid-19 está nesse grupo. Só que a renda dessas pessoas, para as suas famílias, tinha relevância. A aposentadoria dos avós ajuda na aquisição de alimentos e apoio nas demais necessidades de filhos e netos. No meio da grave crise econômica e de fechamento de empregos, a falta de idosos com a sua renda garantida implica em perdas sociais profundas para muitas famílias do país. O auxílio emergencial, que deverá ter continuidade com valor menor, não supre isso.
Fonte: NSC