Um ano após matar a companheira em Itapema, Ireno Nelson Pretzel, 65 anos, está foragido. Ele chegou a ser preso em flagrante, mas foi solto quatro meses após o assassinato que aconteceu na casa de férias do casal em março de 2020. Um novo mandado de prisão foi expedido pela Justiça em setembro, mas o representante comercial não foi mais localizado.
A pediatra Lúcia Schultz morreu aos 59 anos. A perícia concluiu que ela foi morta por estrangulamento. Ireno confessou a autoria do crime. A família da médica critica a demora no andamento do processo e ainda aguarda que a polícia localize o homem. Já a defesa espera uma decisão favorável do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) sobre um habeas corpus requerido no ano passado.
A reviravolta judicial, a demora e a pandemia foram elementos determinantes para que um ano após a morte o réu confesso esteja solto. Num primeiro momento, Ireno foi preso preventivamente. Naquela ocasião já haviam medidas restritivas de combate à pandemia. A morte de Lúcia foi o primeiro feminicídio registrado em Santa Catarina durante a quarentena.
Prisão e liberdade provisória
Após matar a companheira com quem mantinha um relacionamento desde 2013, Ireno foi até a casa de um filho em Gaspar. A cidade fica distante mais de 30 quilômetros de Itapema. Quem comunicou a Polícia Militar sobre o crime foi um genro do homem. O idoso foi preso em flagrante horas depois ao retornar ao local apartamento onde o assassinato aconteceu.
A prisão foi convertida em preventiva dois dias depois e o homem ficou preso na Unidade Prisional de Itapema até junho. O mesmo juiz que determinou sua prisão em março entendeu após os depoimentos que a liberdade de Ireno não “representava risco à ordem pública”.e que não haveria perigo de “reiteração dessa prática delituosa”.
O juiz pontuou também a idade do réu e o risco de transmissão do coronavírus como fatores para a soltura.
Demora
A prisão preventiva só foi restabelecida 60 dias depois da soltura. A filha da médica, Juliana Mattos, reclama da demora para que o processo tivesse andamento. Ela diz que por vezes ligou para a polícia e para as instâncias judiciais que dariam andamento ao caso.
— Demorou treze dias após a decisão do tribunal para o juiz determinar que se expedisse o mandado de prisão e aí demorou 14 dias para o cartório expedir o mandado. Eu consigo compreender alguma demora, mas essa demora para prender um homem que confessou. […] Isso é um absurdo — diz Juliana.
A reportagem questionou o MPSC sobre a demora no pedido de prisão de Ireno, mas não obteve retorno até o fechamento do texto.
A polícia fez buscas em endereços indicados por Ireno como sua residência, mas ele não foi localizado e segue foragido.
O advogado de defesa Alex Blaschke diz que seu cliente não se apresentou ainda porque não foi tecnicamente intimado e que aguarda ainda a decisão do STJ. Blaschke contesta que o crime seja um feminicídio e busca que o caso seja tratado como homicídio simples.
— Nós entendemos que para ser considerado feminicídio tenha que ter um histórico de abuso, da pessoal se mostrar agressiva. […] O casal não tinha histórico. Se você olhar o facebook dos dois era uma maravilha — afirmou Blaschke.
Família relata abusos
Diferente da versão da defesa, a família de Lúcia enxergava abusos no relacionamento do casal. Juliana conta que se sentia a mãe sufocada no relacionamento e que Ireno tentava controlar os passos da companheira.
— Ele cercava ela. Uma vez ela relatou para mim uma sensação de sufocamento com isso. Foi num momento que ele saiu para fazer uma volta. Ela respirou fundo e disse ‘ufa’ — comenta.
Juliana conta ainda que mãe não acreditava que Ireno pudesse a agredir Lúcia achava dizia que o relacionamento entre os dois acabaria caso houvesse uma agressão.
— Eu li para ela uma lista com sinais de relacionamento abusivo e disse que tinha medo pelos próximos passos. Ela parou a conversa e disse que ele não faria isso. Que se ele ousasse levantar a mão para ela não teria volta — relatou.
Em homenagem a Lúcia, o Sindicato dos Médicos de Santa Catarina (Simesc) lançou uma campanha de conscientização sobre a violência contra a mulher.
Fonte: NSC