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Home office: após 3 meses, trabalhadores relatam experiência com novo formato

Três meses se passaram desde a assinatura do decreto estadual que impôs uma série de medidas restritivas para conter o avanço da Covid-19. O ato transformou radicalmente a rotina dos catarinenses e fez com que muitos trabalhadores deixassem o local de trabalho parar adotar o home office.

nd+ conversou com a psicóloga Vanessa Cardoso para entender as principais mudanças no comportamento das pessoas nesses três meses de isolamento social. Segundo a profissional, angústias, medos e ansiedade fazem parte das sensações causadas por esse novo cenário.

Período de adaptação

O período de adaptação à nova rotina não é somente prático, mas também fisiológico. Nosso próprio corpo enfrenta dificuldades para se adaptar à variação de estímulos, que podem afetar a capacidade de memorização, a concentração, o sono e causar a diminuição da criatividade.

“Essa rotina não definida gera confusão e nesse caso, o nosso cérebro também fica confuso. O cenário é incerto e a pessoa não sabe a que se adaptar. Isso porque na semana que vem tudo pode mudar”, explica.

Outro ponto da adaptação está relacionado à sociabilidade. Muitas pessoas tinham em seu ambiente de trabalho um espaço de troca, e não só no aspecto produtivo. Para Vanessa, a falta de sociabilidade pesa na saúde mental das pessoas – mesmo dos introvertidos – e pode levar à depressão.

Mudança repentina

Ansiedade foi uma das sensações sentidas pela professora Fernanda Scussel Ferreira Lima, de 36 anos, nas primeiras semanas em que se viu trabalhando em casa na companhia da filha Manuela, de três anos. Para Fernanda, a dificuldade foi conciliar o aumento na demanda de trabalho – longe da sala de aula – e os pedidos de atenção da filha.

“Estava ansiosa com o que estava por vir. Não sabia como ia ser com a escola e a aceitação da família dos alunos. Eu acabei descontando a angústia nos doces, mas agora já consegui estabelecer uma rotina e entrar nos eixos”, conta.

Já a pequena Manuela começou a sentir os efeitos dos três meses de isolamento recentemente, pedindo cada vez mais atenção à mãe. A solução encontrada pela professora foi conversar com a filha e organizar o tempo entre as brincadeiras e a gravação das aulas em vídeo: a cada gravação finalizada, Fernanda faz uma pausa de cerca de 30 minutos e dedica o tempo à filha.

Para auxiliar a distraí-la, o jeito foi aumentar o acervo de canetinhas coloridas, papeis, massinhas de modelar e livros. No entanto, mesmo com os itens, o tempo da filha em frente à televisão aumentou nesse período.

Relações familiares

Ter uma comunicação clara com os filhos é uma das sugestões da psicóloga Vanessa Cardoso para manter uma boa relação familiar nesse período de maior convivência. Ela explica que os pais precisam entender que para uma criança, a sociabilidade é essencial. Por isso, os pequenos acabam sofrendo mais com o isolamento e tendo um desgaste maior no desenvolvimento.

“Os pais devem organizar uma rotina, mas também ser flexíveis de acordo com as necessidades da família. Se está difícil para os adultos, imagine para uma criança! O que eu mais escuto dos pais é que estão cansados e o desgaste físico acaba sobrecarregando o emocional”, diz.

O aumento nas crises de ansiedade tem afetado, principalmente, as mulheres que têm múltiplas tarefas: cuidar da casa, dos filhos e trabalhar. “Elas acabam não conseguindo se concentrar naquilo que precisa de fato ser feito. Isso atinge a produtividade individual”.

Os dois lados da quarentena

Para Kaleu Mandel, de 31 anos, o isolamento social tem dois ângulos. Desde meados do mês de março, o atendente de uma cooperativa de crédito em Florianópolis passou a trabalhar de forma remota. Com isso, veio a economia. A fatura do cartão de crédito reduziu em 50% e os gastos supérfluos ficaram para trás.

No entanto, as idas à academia após o expediente também não fazem mais parte da rotina de Kaleu. Ele conta que o maior tempo dentro de casa alterou a alimentação e fez com que praticasse menos exercícios físicos.

A sensação de novidade e a empolgação que sentiu nas primeiras semanas de home office deram lugar à saudade da velha rotina.

“O primeiro mês foi legal. Não perdia tempo para ir até o trabalho, podia acordar um pouco mais tarde, almoçava na hora que queria. Estava ótimo! Mas agora, depois de três meses, estou saturado, louco para voltar e colocar a rotina em ordem de novo”, conta.

Sem cobranças

A sensação de “estar saturado” é comum, conforme explica Vanessa. Com o isolamento, não há a separação natural do trabalho e do lazer, que acabam convivendo em um mesmo lugar.

A psicóloga recomenda que nesse cenário de incertezas, as pessoas devem buscar novas estratégias de lazer e prezar o tempo que passam “longe” do trabalho. Experimentar é a palavra-chave.

“As pessoas não devem ter urgência para ser extremamente produtivas. Temos que ter leveza nesse sentido. Encontrar intervalos e espaços que possam manter nossa produtividade, mas sem exigir que seja ‘perfeito’. Devemos nos cobrar menos e aproveitar o tempo para se autoconhecer”, sugere.

Home office a longo prazo?

Se, porventura, o home office for de fato adotado pelo empregador, a psicóloga recomenda que o trabalhador tenha uma “carta na manga”, no sentido de possuir um repertório de comportamento e ações que permitam diferentes formatos de trabalho.

“Penso que três meses já serviram para enriquecer nossa bagagem individual de criatividade e inovação. Nos fez repensar a carreira, ultrapassar crenças que nos limitavam. Podemos conversar com outras pessoas, ampliar e pensar em novas possibilidades para essa nova perspectiva de trabalho”, completa.

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