Coluna | Era Sol que me faltava
Inspirada pela leitura da Divina Comédia, de Dante Alighieri, especialmente pelos livros do inferno e do purgatório, decidi produzir uma sequência de textos sobre os sete pecados capitais, ou sete prazeres capitais, como também são nomeados.
De início, gostaria de pontuar que tratar de condutas que adoecem a alma não é conteúdo exclusivo da religião, por esse motivo é que me arriscarei fazê-lo, por compreender que agir de modo a exteriorizar nossos vícios e virtudes é demasiadamente humano e, portanto, permeia nosso modo de ser no mundo na modernidade líquida e alcança a psicologia, a filosofia e a arte.
Muito bem, feita introdução, começarei pelo pecado conhecido por ser o pai de todos os outros, o Orgulho, que também conhecemos por Vaidade ou Soberba. E então, você é Orgulhoso/Vaidoso/Soberbo? Avalie bem…
O orgulho se caracteriza por uma negação do Nós em detrimento do Eu, quando fazemos o movimento de nos considerarmos superiores e detentores de alguma razão. Trajamos isso de autoestima ou então de amor próprio.
O orgulhoso/vaidoso conduz sua vida a partir do princípio do prazer, e do prazer encontrado em amar e admirar a si próprio e de suprir suas paixões. Deu pra perceber porque é o pai de todos os outros pecados? Lúcifer (portador de luz) é conhecido por ser o primeiro ser Orgulhoso e Vaidoso que, por considerar-se melhor que os demais é expulso do paraíso e, acaba dizendo a famosa frase que até hoje conhecemos: “Prefiro ser Senhor no Inferno que ser escravo no Céu”.
Na psicologia, o que mais nos aproxima da compreensão deste pecado é o Mito de Narciso, descrito por um sujeito da mitologia que, dotado de extrema beleza física e incapaz de apaixonar-se por alguém, por considerar-se “bom demais” têm lançado sobre ele a maldição de apaixonar-se intensamente por alguém, sem poder possuir o ser amado.
Em certa ocasião, Narciso se aproxima de uma fonte para beber água, vê seu reflexo e encanta-se profundamente e, diz o mito, que morre afogado por tentar tocar sua própria imagem refletida.
E então, chegamos à modernidade, aos sujeitos que pretendem retornar à si arrogantemente, os nossos narcisos, que tem uma pseudo autopercepção de si, dizem-se humildes, solidários, permissivos, livres, tolerantes, etc. quando no fundo, tudo isso não passa de vaidade, aquela vaidade caracterizada por mentir a si próprio e aos outros sobre suas virtudes e qualidades afim de fugirmos de nós próprios, do nosso vazio interior e da nossa condenação à deterioração ou seja, da verdade sobre nós.
O Orgulhoso/Vaidoso/Soberbo dos nossos dias é, então, aquele que se traja de Autoestima, exacerba a valorização e o ressalte das características que o individualizam e diferenciam dos demais, porque já pensou ser parecido com os outros? credo! preciso ser único e especial. E se já não bastasse, faz das suas experiências de vida grandes espetáculos, porque precisa de audiência, valorização e sucesso. E então, você é vaidoso?
Por fim, para coroar o compilado de sentido Religioso, Ético (de estudo, pesquisa) sobre o Orgulho/Vaidade, vou finalizar anexando um sentido Estético, incluindo uma obra de arte inspirada do Mito de Narciso, pintada por Caravaggio, pintor italiano do barroco.
Caloroso cumprimento e até semana que vem.
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
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