O Facebook anunciou em 15 de junho que um pequeno grupo de usuários brasileiros do WhatsApp vai começar a testar um mecanismo de transferência de valores dentro da plataforma. O Brasil se tornou o primeiro país onde a empresa ativou a função de pagamentos no app de mensagens.
Para utilizar o recurso, é preciso cadastrar um cartão de débito ou crédito no aplicativo. Inicialmente, são permitidos apenas cartões do Banco do Brasil, Nubank e Sicredi, que podem pertencer às bandeiras Visa ou Mastercard. A Elo também deve aderir à iniciativa.
A ideia é tornar o mecanismo disponível aos poucos. A empresa não informou sobre quando prevê liberá-lo para todos os clientes da plataforma. Quando o usuário tiver seu WhatsApp habilitado para realizar as transações, a opção “pagamento” aparecerá entre as possibilidades de anexo durante uma mensagem para usuários de Android e iPhone.
Segundo um comunicado da empresa, a novidade tem como foco os “mais de 10 milhões de pequenos e micro negócios que são o pulso das comunidades do Brasil”. O recurso é parte do sistema de pagamentos virtual desenvolvido pela empresa, o Facebook Pay. Nos EUA, ele permite desde novembro pagamentos via Messenger e Facebook.
Para consumidores, o pagamento de compras e a transferência de dinheiro para outros usuários será livre de custos. Já os negócios devem pagar ao Facebook uma taxa de 3,99% por transação.
Preocupação dos bancos
Segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, os bancos Bradesco, Itaú e Santander participaram dos testes do sistema, mas desistiram por não ter condições de adotar a tecnologia durante a pandemia. Esses bancos também teriam reclamado do novo recurso do Facebook com o Banco Central, de acordo com uma fonte ouvida pela Folha. Os bancos não confirmaram a informação.
Existe também uma preocupação com a concentração de dados de clientes e negócios em uma única empresa. Os três bancos que participam da iniciativa estimam que os pagamentos por WhatsApp têm potencial para atrair 51 milhões de consumidores no país.
Para efeito de comparação, o Itaú Unibanco, maior banco privado do país, tem cerca de 60 milhões de clientes. Esse possível volume de usuários que fariam transações no Whatsapp tornaria o Facebook um participante destacado do mercado de pagamentos do país e tiraria milhões de operações do sistema bancário tradicional.
Em nota, o Banco Central deixou claro que está atento às implicações do sistema, afirmando que é “prematura qualquer iniciativa que possa gerar fragmentação de mercado e concentração em agentes específicos” e que “vai ser vigilante a qualquer desenvolvimento fechado ou que tenha componentes que inibam a interoperabilidade e limite seu objetivo de ter um sistema rápido, seguro, transparente, aberto e barato”.
Também declarou que considera haver “grande potencial” na integração do mecanismo do WhatsApp ao PIX, padrão de interface de pagamentos que vem sendo desenvolvido pelo Banco Central, previsto para ser lançado em novembro.
O recuo da criptomoeda
Em junho de 2019, o presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, lançou sua criptomoeda, a Libra. Baseada na tecnologia de registro blockchain, a moeda digital seria parte de um sistema capaz de processar mil transações por segundo com um custo quase nulo.
Junto com a moeda, foi anunciada também a carteira digital Calibra e uma associação em torno do novo sistema com 27 empresas, incluindo Visa, Mastercard, Uber e Mercado Pago.
Instituições financeiras, governos e agentes regulatórios em todo o mundo arregalaram os olhos diante da ideia, e logo surgiram diversos questionamentos. Nos EUA, autoridades expressaram preocupação com o uso da criptomoeda como meio seguro de realizar transações duvidosas longe dos olhos da lei.
Zuckerberg chegou a ser convocado para esclarecimentos no Congresso americano em outubro de 2019. Os parlamentares questionaram o executivo por ter ignorado etapas regulatórias no processo de desenvolvimento da moeda.
Na Europa, autoridades advertiram que “nenhuma entidade privada pode reivindicar poder monetário, que é inerente à soberania das nações”. Houve também preocupações com o impacto que uma nova moeda poderia ter em moedas existentes.
As reações levaram empresas como Visa e Mastercard a recuar do projeto. Finalmente, em março, o próprio Facebook deu um passo para trás e tirou a criptomoeda do centro da estratégia de pagamentos digitais. Segundo a empresa, a Libra passará a ser um sistema integrado com moedas existentes como dólar e euro, similar ao PayPal.
A Libra levou alguns países a acelerarem seus planos de desenvolvimento de suas próprias moedas digitais. Na China, por exemplo, autoridades querem garantir que uma criptomoeda nacional entre em operação antes da chegada da moeda do Facebook.
Fonte: Nexo Jornal