Um dos maiores lugares comuns sobre a ficção diz respeito ao escapismo que ela produz diante da realidade. E em meio a uma pandemia, escapar se tornou questão de sobrevivência para muita gente que está isolada na quarentena.
Com as livrarias e bibliotecas fechadas na maior parte das cidades, as compras nas livrarias pela internet e a retomada de livros que foram deixados nas prateleiras de casa alentaram muita gente. É o caso da economista Mariana Caetano. Em home office desde o início da pandemia em março, ela diz que está usando o tempo ocioso para ler mais.
“Estou tendo mais tempo, mas também leio mais porque é uma forma de diminuir meu tempo de tela. Percebi que estar muito tempo no computador me dava uma ansiedade que o livro não dá, fico mais relaxada, mais concentrada do que em outras coisas. E estou lendo só coisas bem leves, romances, ficção…”
Essa tendência ao escapismo é comum e, porque não dizer, necessária em momentos como o atual. Dante Gallian trabalha com literatura há 20 anos e é autor do livro “A literatura como remédio”. Ele fala sobre o refúgio que os livros podem representar para muita gente.
“Dentro da nossa cultura e sociedade há essa dinâmica desumanizada de trabalho e tantas atividades. Na pandemia isso se acentua, com o cotidiano interrompido. A literatura é uma ilha para repouso, fuga da realidade, escapar mesmo dessa dinâmica obsessiva”, observa o especialista.
Ler nos deixa menos ansiosos
O médico neurologista Fernando Gomes Pinto diz que a sensação de calma que pode ser causada por um livro tem explicação científica. “A literatura estimula o cérebro de uma forma global. É um exercício que é capaz de desviar o foco de atenção para outros aspectos além da realidade preocupante com o contexto da pandemia. Como a leitura é um processo de aquisição de dados mais lento que o áudio e o vídeo, este tempo permite a maturação de pensamentos mais tranquilos e menos ansiosos.”
Fonte: CNN Brasil