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Com seca severa em SC, produtores abatem animais por falta de água e alimentos

Ao menos, 139 municípios de Santa Catarina estão em situação de seca grave, extrema ou a excepcional, segundo o boletim hidrometeorologico da Defesa Civil divulgado no mês de novembro. A situação tem afetado os produtores de leite e de bovinos de corte, que estão vendendo animais para abate por falta de água e alimentos.

Nesta segunda-feira (30), para tentar minimizar o impacto da seca, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), se reuniu com o prefeito eleito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), para falar sobre a situação. O chefe do Executivo deve vir ao município na quinta-feira (3), para anunciar repasse de recursos à região.

O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Bovinos (ACCB), Félix Muraro Junior, afirma que essa é uma das piores secas das últimas décadas no Oeste. Segundo a entidade, agricultores precisaram transformar uma lavoura de milho de 60 hectares em silagem, já que as espigas não se desenvolveram.

Só em uma unidade, as perdas foram de aproximadamente R$ 500 mil, citou Muraro Junior. “Estamos enfrentando uma situação bem complicada. Esta seca vai gerar milhões de prejuízos para Santa Catarina. O Paraná e o Rio Grande do Sul também estão sofrendo. No ano que vem será um ano desafiador por causa da falta de alimentos para os animais. A silagem que estamos estocando é de péssima qualidade”, lamenta o presidente da ACCB.

Com chuvas mal distribuídas e irregulares, em função da La Niña, a situação mais crítica fica com a região Oeste. O setor agroindustrial, principal componente da economia da região, está sendo duramente afetado.

O Sindicato das Indústrias de Carnes do Estado (Sindicarnes/SC) afirma que sete plantas de abate de aves ou suínos estão tendo que trazer água de caminhão-pipa para complementar reservatórios e manter as atividades normalmente. Mais de 100 aviários ou unidades de suínos também estão tendo que buscar água longe ou postergar novas criações.

Chuva

Na tarde de sábado (28), algumas cidades do Oeste registraram chuva forte. No entanto, a precipitação não foi suficiente para acabar com a seca na região.

Mesmo assim, o temporal deixou estragos. Em Itapiranga, uma igreja foi destelhada após o vento forte. Já em Concórdia, o centro comunitário de Serra Vermelha também foi atingido.

Sem água para a criação de suínos e gados de leite, alguns produtores não conseguem arcar com as despesas de caminhões-pipa a R$ 200 a viagem, o que aumenta o custo de produção.

De acordo com Enori Barbieri, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina, outro setor afetado é o leiteiro, já que houve quebra na silagem no ano passado e em 2020 a situação piorou:

“Já se tem previsto mais de 40% de quebra no milho, com o que seria feito a silagem para a alimentação dos animais. A chuva é pouca e as pastagens naturais estão muito pequenas e não ajudam”, disse.

No ano de 2020, houve alta nos preços do milho, soja e um grande número de exportações para o Estado, gerando uma expectativa de alta no setor. Mas, agora, o cenário indica que Santa Catarina terá que importar milho e soja em 2021 para alimentar os animais.

“Aquilo que era uma previsão otimista, está sendo um drama para a sobrevivência das propriedades rurais, infelizmente. E não tem como dizer se amanhã vai ter água”, esclarece o vice-presidente.

139 municípios em situação de seca severa

Dos 295 municípios catarinenses, em 56 a seca é considerada severa, quando há escassez e restrição de água, 72 estão em seca extrema, havendo perda de pastagens e a escassez de água é generalizada e em 11 cidades a seca é excepcional, quando a falta água nos reservatórios, córregos e poços de água cria situações de emergência.

pior situação se concentra no Oeste do estado, onde nos últimos dois meses os acumulados não alcançaram 20% do esperado para o mês de outubro.

Situação de emergência para estiagem afeta ao menos 139 cidades de SC — Foto: Reprodução/NSC TV

A estiagem em todo o estado de Santa Catarina começou em meados do ano passado e segundo especialistas, já se iguala a mais severa da história, registrada em 1957. Para a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil a estiagem é definida a partir da redução das chuvas em 60% em relação às médias normais.

Em 2020, a precipitação ficou muito abaixo da média em todas as regiões, mesmo sendo o mês de outubro historicamente um dos mais chuvosos. A previsão é de que o período de secas se estenda até o ano que vem, por influência do fenômeno La Niña.

Risco Ambiental

No último boletim hidrológico, divulgado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) na sexta-feira (27), os níveis de 11 rios estão em situação de seca.

No Oeste, uma moradora flagrou o momento em que um tatu bebe água mineral de sua garrafa enquanto caminhava em São Miguel do Oeste, na segunda-feira (23). Com a seca e as altas temperaturas, ela percebeu que o tatu estava com sede:

“Como tinha meia garrafinha de água pensei que poderia oferecer para ele. Quando derramei a água ele veio ao meu encontro e começou a beber. Tive muita dó do bichinho”, disse.

Tatu toma água em garrafa de moradora no Oeste catarinense — Foto: Sonia Lurdes Magrini/ Arquivo pessoal

Por conta da estiagem, a região Oeste chegou a ser classificada com alto risco para a ocorrência de queimadas. Em todo o Estado, desde o início do ano, o Corpo de Bombeiros Militar atendeu 57% a mais de incêndios florestais do que no mesmo período do ano passado. Segundo os bombeiros, a maioria das queimadas tem origem na ação humana, direta ou indiretamente.

Além da alta no número de queimadas em comparação com o mesmo período de 2019 em Santa Catarina, 2020 já ultrapassou o total de ocorrências de todo o ano passado, com o aumento de 30%.

Ações de apoio

Técnicos da Defesa Civil de Santa Catarina estão realizando vistorias nas regiões mais afetadas pela estiagem. No dia 23 de novembro, os profissionais visitaram comunidades rurais mais afetadas e já analisam as condições para o aporte de reservatórios para as ações de mitigação.

Segundo o diretor de gestão de desastres Aldrin de Souza, a situação observada em campo é crítica e deve agravar em função da tendência hidrológica.

“Observamos cursos de água e nascentes com pouca água, poços secando e a população com dificuldade de captar água em fontes superficiais. A lavoura está sofrendo perdas, principalmente de milho, que apresenta crescimento inadequado para a época”, relatou.

Para os municípios com situação de emergência reconhecida a Defesa Civil está fornecendo reservatórios de 5, 10, 15 e 20 mil litros para ampliar a capacidade de preservação com foco no abastecimento humano, água potável envasada e o kit de transporte de água limpa.

Segundo a Defesa Civil, até o momento já foram entregues 180 reservatórios de 5 e 10 mil litros para ampliar a capacidade de reserva de água nas comunidades.

A Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural disponibilizou R$ 21 milhões para novas linhas de apoio. Até o momento mais de 8 mil famílias teriam sido atendidas com recursos de apoio para projetos relacionados à água em todo o estado.

Os produtores contam com cinco linhas especiais para investir em sistemas de captação, armazenagem e distribuição de água. Os programas estão disponíveis para os municípios com o decreto de emergência ou calamidade em função da estiagem/seca reconhecidos pela Defesa Civil estadual.

Ações para 2021

Até o início do próximo ano, a Secretaria da Agricultura deverá aplicar R$ 39 milhões para reduzir os prejuízos com a seca e com outros efeitos climáticos em Santa Catarina. Outros R$ 10 milhões devem ser investidos em financiamentos via Fundo do Desenvolvimento Rural (FDR) para famílias cadastradas. Os produtores poderão acessar até R$ 10 mil ou até R$ 45 mil em projetos coletivos, com cinco anos de prazo para pagar em parcelas anuais e sem juros.

A Secretaria da Agricultura firmará também convênios de até R$ 100 mil com municípios para contratação de serviços que visem amenizar os problemas de falta de água nas propriedades rurais. Nessa linha, os investimentos chegarão a R$ 2 milhões. Em financiamentos para construção de poços, estruturas de armazenagem e distribuição de água serão R$ 4,5 milhões em investimentos.

Fonte: G1

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