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Coluna | Só um adendo | Precisamos falar sobre Barry Lyndon


Precisamos falar sobre Barry Lyndon

Por: Briann Ziarescki

Convido-te a viajar no tempo. Vamos por mais de quatro décadas até a exata metade da revolucionária década de 70. No ano em que era fundada a gigante Microsoft e que também ficou marcado pelo lançamento do quarto álbum da banda Queen, A Night at the Opera, somos apresentados ao décimo longa dirigido por Stanley Kubrick: em 1975 chegava aos cinemas Barry Lyndon.

Kubrick foi indicado a três Oscars por seu trabalho em Barry Lyndon: melhor filme, melhor direção e melhor roteiro adaptado, perdendo os três para One Flew Over the Cuckoo’s Nest. É o longa mais bem premiado da carreira do diretor, com quatro Oscars (melhor fotografia, melhor trilha sonora, melhor direção de arte e melhor design de produção) e o Bafta de melhor direção para Kubrick, o único que o célebre diretor ganhou.

Sendo assim, o que fez Barry Lyndon cair no esquecimento? Talvez sua posição complicada na filmografia kubrickiana, tendo como antecessor o polêmico A Clockwork Orange e seguido pelo clássico The Shining, o drama de época nunca teve lugar de destaque na comunidade de fãs do diretor. Então por que precisamos falar de Barry Lyndon? O que faz o longa ser tão especial?

Primeiramente é necessário que se entenda o filme não somente como uma celebração cinematográfica, mas também musical e artística, onde ao longo das mais de três horas de duração, Kubrick busca imergir o público no universo aristocrata do século XVIII. Com maestria, o diretor nos leva pela jornada do protagonista, recheada de intrigas, romance, ascensão e queda, onde a riqueza de detalhes é parte fundante da narrativa.

Para desvendar detalhadamente Barry Lyndon, vamos focar em três pilares essenciais da obra: design de produção, trilha sonora e direção.

Origem: Reino Unido / Estados Unidos

Gênero: Drama / Guerra

Direção: Stanley Kubrick

Distribuidora: Warner Bros.

Duração: 184 minutos

Exibição: 1975

  • Sinopse: O longa retrata a ascensão e posterior queda do ambicioso jovem irlandês Barry Lyndon, na aristocrática elite européia do século XVIII.

Design de produção:

Ambientar um longa-metragem de três horas de duração no século XVIII foi um dos principais desafios em Barry Lyndon. O público necessita viver a ilusão, ele precisa imergir-se na história a tal ponto de imaginar-se vivendo no mesmo período aristocrata do protagonista, e assim se fez.

O cuidado com o figurino, com as ambientações filmadas em sua maior parte na Irlanda, e até mesmo o treino de comportamento do elenco e figurantes transportam o público a época. Kubrick foi conhecido por seu perfeccionismo inflado em suas produções e em Barry Lyndon tal comportamento fica evidente. Sua decisão de utilizar-se apenas de luz natural e de velas para filmar o longa fez necessário o uso de uma lente adaptada pela NASA para garantir o efeito almejado pelo diretor.

Mas se os fins justificam os meios, o resultado final em Barry Lyndon é espetacular. O filme foi amplamente elogiado pela crítica especializada por seu design de produção, sendo referência em escala para diversas produções subsequentes.

Trilha sonora:

Um dos maiores destaques de Barry Lyndon é sua trilha sonora, vencedora do Oscar em 1976. Composta por George Frideric Handel na primeira metade século XVIII, Sarabande foi escolhido para o filme. Marcante, o tema principal causa impacto sempre que é ouvido em cena, casando-se perfeitamente com o ambiente aristocrata permeado de tensões e intrigas.

Ainda para a imponente trilha, foram escolhidas outras peças de compositores de renome da música clássica, como Bach, Paisiello, Vivaldi, Schubert e Mozart, o que garante ao público uma percepção completamente imersiva diante do que é visto e ouvido em cena.

Direção:

Ritmo. Palavra fundamental para qualquer longa-metragem, em especial para aqueles com mais de três horas de duração. Kubrick precisou utilizar-se de diversos elementos para garantir ritmo ao filme, em especial de uma narrativa que desempenhasse corretamente seu papel no processo. Retratar a ascensão e declínio do protagonista (vivido por Ryan O’Neal) em dois atos muito bem definidos foi a decisão que o diretor tomou para não deixar o ritmo enfraquecer em nenhum momento. Com passagens de tempo orquestradas magistralmente, momentos narrados em voz-over, diálogos marcantes e silêncios impactantes, tudo foi pensado para que a narrativa se tornasse o mais fluída possível.

Outra jogada de mestre do diretor, foi a escolha de esbanjar diferentes movimentos de câmera durante a composição das cenas. Kubrick optou pela câmera estática para os diálogos, valorizando texto e atuação em longos planos sem cortes. O uso da câmera na mão para as cenas de batalha, acrescentou dinamismo e até mesmo certo grau de confusão, o que contribui para maior imersão do público.

Mas a principal marca da direção de Kubrick no longa são os magníficos enquadramentos panorâmicos, construídos a partir da técnica de zoom invertido. O diretor por diversas vezes foca sua câmera em determinado personagem ou objeto para então afastar-se, ampliando o enquadro e revelando composições magníficas em seu entorno, dignas de comparação a obras de arte. Cada cena é um espetáculo visual, preenchida cuidadosamente para que cada detalhe fosse notado e apreciado, como uma pintura realista.

Precisa de mais razões para ir correndo assistir Barry Lyndon? Fica aqui minhaa indicação de um dos melhores filmes do gênio Stanley Kubrick. Conta para gente o que achou desta obra prima do cinema nos comentários!

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