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Fronteira final

Por Briann Ziarescki Moreira

Sempre tive fascínio pelos mistérios infinitos do espaço. Imagino desde menino como seria explorar a vastidão silenciosa que nos cerca e observar com meus próprios olhos aquilo que somente minha mente idealizou em devaneios de criança. Meu pavor de viver uma rotina é resolvido facilmente no espaço sideral: nada jamais se repetirá, não importa quão distante eu for. Tudo será novo em todos os anos-luz viajados. Isso é encantador.

Mas ao voltar para minha realidade como terráqueo, percebo-me nascido severos anos – talvez séculos – antes da exploração espacial se tornar realidade para toda a raça humana. Junte isso ao fato de quem vos escreve ser relativamente baixo para um candidato ao novo Neil Armstrong, e temos o contentamento forçado de olhar para cima todas as noites e observar o brilho das distantes estrelas.

Foi então que descobri uma forma de enfim conseguir obter minha jornada nas estrelas mesmo com CEP terrestre: o cinema. A ficção-científica foi a saída que a sétima arte proporcionou para todos os utópicos viverem a exploração espacial. Em cena, uma quimera. Mas o que os olhos veem, o coração sente. É o fim da fronteira final.  Pensando nisso, separei três filmes que conseguiram transformar fantasia em realidade e, paradoxalmente, foram longe para nos sentirmos mais perto. Aproveite a viagem!

 

2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968):

Talvez seja extremamente clichê iniciar as indicações com esse clássico, mas também não há forma melhor. Portanto, a partir de critérios criados pelo autor (eu mesmo), o empate sempre irá favorecer a genialidade de Stanley Kubrick, diretor desta obra-prima do cinema. A importância dessa produção não pode ser medida apenas em seus méritos técnicos, sonoros e artísticos, mas pela grandeza de seu legado.

Quando falamos sobre 2001 – Uma Odisseia no Espaço estamos falando de um filme cinquentenário, extremamente vanguardista e atual até mesmo para o século XXI. Kubrick fez o impossível se tornar realidade em cena, onde a cada enquadro somos transportados até o vazio espacial de forma inventiva e inegavelmente imersiva.

O diretor é vagaroso em cada detalhe, o que torna cada vez mais vívida a experiência: a caneta flutuante, os velcros nas solas dos sapatos, a ginástica em trajetória circular dentro da nave. Tudo é categoricamente mostrado pelo tempo suficiente para se tornar inesquecível. Ao embarcar nessa viagem de duas horas e meia até as proximidades de Júpiter, você irá lidar com questões existencialistas, tecnológicas e surrealistas. Mas o sentimento final nessa Odisseia sempre será admiração irrestrita.

Interestelar (2014):

Qual seria o único sentimento capaz de vencer anos-luz de distância? A dimensionalidade do que não tem dimensões é quantificada e materializada nessa produção de Christopher Nolan. Em quase três horas de filme, o diretor consegue de forma magistral lidar com temáticas quânticas, sociais e humanas. Ao mesmo tempo em que embarcamos em uma jornada de exploração espacial, Nolan nos convida a olhar para trás e ver a dor que a distância causa para todos aqueles que amam.

Partindo de uma realidade a beira da extinção, a busca por um novo lar é mostrada no longa dos mais variados pontos de vista: as dificuldades da jornada, a dor da separação e perda, além do próprio comportamento espacial em escala até então jamais mostrada. As representações hipotéticas de âmbito físico do Buraco de Minhoca, Cilindro de O’Neill e Buraco Negro, são uns dos destaques do filme devido sua precisão científica irretocável.

O detalhamento de ações da tripulação em pequena e grande escala, apenas reforça a qualidade da produção que visa a todo instante transportar o público para outro universo. Abrilhantado por interpretações grandiosas e uma direção precisa, o longa faz jus ao nome e nos leva por entre as estrelas para entender o quão infinito um sentimento pode ser.

 

Ad Astra – Rumo às Estrelas (2019)

A complexidade de um vínculo afetivo mesclado com as preocupações que uma viagem aos confins de nosso sistema solar acarreta. Essa é a premissa que dá o tom de Ad Astra, longa escrito e dirigido por John Gray, que declarou em entrevistas objetivo de representar, da forma mais fiel possível, uma jornada espacial. O filme evidencia a cada instante o quão hostil o espaço sideral pode ser aos seres humanos, demonstrando ser extremamente traiçoeiro com quem se aventura na vastidão do infinito.

Loucura e paranoia motivadas pelo inevitável sentimento de solidão, fazem do longa um complexo estudo sobre as emoções, tendo como pano de fundo toda a complexidade espacial. Carregado de visceralidade, o diretor percorre vagarosamente as mais longínquas distâncias até Netuno em uma busca incessante por respostas. A cada enquadro, um espetáculo visual de magnitude sideral, contrastante a íntima e solitária representação do protagonista.

A ambiguidade de resoluções demonstra o quão assertivo Ad Astra é: pode-se ir rumo às estrelas por alguém, que o mesmo permanecerá afastado se esse for seu desejo. Não há distância que refaça um vínculo perdido, assim como não há comparação entre a vastidão desabitada do espaço mediante o vazio de nosso próprio ser.

Três produções únicas sob o olhar singular de seus diretores. Desejo que “não entres docilmente nessa noite serena”, mas que enfrente a complexidade dessa Odisseia com a voracidade de quem busca um lugar nessa jornada “através das adversidades rumo às estrelas”!

 

 

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