Coluna | Não é só Futebol
Entre o Ufa! e o Oba!, três pontos na conta
Em sua obra literária “O Velho e o Menino”, o autor Roberto Tranjan diz, em certo capítulo, que existem duas formas de nos expressarmos após uma tarefa concluída. Podemos nos sentir aliviados pelo trabalho executado, certos de que nos livramos de algo que nos causava muito incômodo, o famoso Ufa!; Ou podemos finalizar o que nos foi designado com prazer, alegria e sentimento de dever cumprido e realização, o Oba!
Na noite desta quinta-feira (20), a Chapecoense conquistou três pontos importantíssimos frente ao Cruzeiro no Mineirão. Embora punido pela Fifa e tendo começado a competição com 6 pontos negativos, a Raposa é franca favorita ao acesso à série A do Brasileirão, seja pela história de sua camisa, pelo elenco qualificado ou pela força de sua torcida (esse fator está em suspensão devido à pandemia).
Comum às duas equipes, foram os erros administrativos que levaram ambos ao rebaixamento no ano de 2019. O do Cruzeiro, obviamente, muito mais surpreendente. Após a “tragédia” administrativa da gestão anterior a do Presidente Paulo Magro, o clube vem se reerguendo e buscando força nas raízes que a levaram à elite do futebol brasileiro. Contra o time mineiro, a Chape achou um gol. Um chute despretensioso, cuidadosamente desviado na perna do defensor cruzeirense, deu à Chape o gol necessário para a vitória, logo aos 9 minutos da primeira etapa.
Daí por diante, o Verdão concentrou-se em não ter a sua defesa vazada. É bem verdade que no primeiro tempo o time esteve mais solto em campo. Conseguiu algumas movimentações em contra-ataques, mas foi mais movido pela transpiração do que pela inspiração, e essa foi uma marca constante durante os 90 minutos de jogo.Embora bastante aplicada na marcação, a Chape não construía grandes jogadas ofensivamente, e apostava na individualidade de Paulinho Moccelin para investidas no campo de ataque.
Se a coisa já estava difícil na primeira etapa, o segundo tempo foi de tirar o fôlego, mas no modo Ufa! Foram 45 minutos de pressão cruzeirense, com a Chape cruzando a linha do meio de campo em raras exceções, e perdendo algumas oportunidades para matar o jogo, a mais clara com Rone Carlos, que “tirou” tanto do goleiro Fábio que foi difícil entender se o jogador havia realmente tentado finalizar à meta do Cruzeiro.
E “pra não dizer que não falei das flores”, como diria Geraldo Vandré, nem tudo foram agruras pelo lado alviverde. Luiz Otávio fez, mais uma vez, uma partida consistente. Foi seguro, tranquilo e decisivo na defesa, ganhando divididas, bolas aéreas e se posicionando muito bem. Alan Ruschel e Ronei também fizeram uma partida bastante consistente, especialmente na marcação, e João Ricardo usou de toda sua experiência para esfriar o jogo em momentos chave e ajudar a Chape a buscar uma vitória muito importante, construída a base de muito suor, garra, determinação e entrega dos atletas. De forma resumida, podemos dizer que a atitude frente ao Cruzeiro foi totalmente diferente da que o time teve contra o Sampaio Corrêa. Uma resposta dentro do campo, com mais atenção e foco do grupo de jogadores.
O Verdão passa por sérios problemas financeiros, mas os comandados de Umberto Louzer mostraram que esse grupo de atletas tem caráter, e que está disposto a superar as limitações técnicas com união, empenho e dedicação dentro das quatro linhas. Vencer o Cruzeiro é sempre importante, nunca é fácil derrubar um gigante em seus domínios, então, mesmo cheio de “Ufas!”, o triunfo na capital mineira é um “Oba!” de alento ao torcedor verde e branco em busca de, em primeiro lugar, a manutenção na série B, e em segundo lugar, o sonho de voltarmos a principal divisão do futebol nacional. Seguimos firmes.