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Coluna | Era Sol que me faltava | Torne-se quem você é!

Coluna Era Sol Que Me Faltava - Foto: Solange Kappes/ Barriga Verde Notícias

Inspirada pela vida e obra de Friedrich Nietzsche – ora, quem diria, não é mesmo? – me ocorreu de recorrer a alguns de seus aforismas sobre a vida. Nietzsche dominou o estilo de escrita aforismático, em que foi capaz de anunciar grandes reflexões e pensamentos complexos em pequenas frases, parágrafos ou textos. Sem a necessidade de explicar exaustivamente suas ideias, acreditava que: “Aquilo que se pode deixar ao leitor, que se deixe ao leitor”.

Dessa forma, me sinto autorizada a fazer inferências afetivas sobre suas palavras. Começando por: “Torne-se quem você é” ¹. Ao que consta, esse trecho foi escrito da seguinte forma pelo poeta Píndaro: “Torne-se quem você é, tendo aprendido o que é isso”, e Nietzsche sempre adorou, sobretudo por pensar que havia muitas formas de ouvir a própria consciência, sendo isso imprescindível para tornar-se. Para tal, recomenda que suspeitemos sempre de nossas certezas. Pois, certezas podem ser oriundas de algo que aceitamos cegamente como certo e que pode nos ter sido carimbado quando crianças.

Notem a grandeza disso, certezas demais sempre nos estupidificam, sobretudo certezas que nem sabemos justificar ou esclarecer de onde vieram. É só abrindo mão de estados adquiridos de certezas inquestionáveis é que podemos ir além, ir adiante no pensamento, e, talvez, ir na direção de tornarmo-nos quem verdadeiramente somos.

Adiante, “O homem é uma ponte, não uma meta” ². Uma meta é um fim, um objetivo último, que pressupõe clareza e exatidão para saber que foi alcançado. E tendo sido alcançado, encontra um término. Uma ponte é um caminho estendido entre dois pontos, entre o animal e o além do homem – no caso de Nietzsche – entre um abandonar-se e um vir-a-ser. Entender-se como inacabado, como em constante processo, como uma transposição, trás desafios e confortos indispensáveis para uma vida em expansão, para uma vida que não quer conformidades. Ainda sobre pontes, Nietzsche nos diz: “Ninguém pode construir a ponte pela qual você deve atravessar o fluxo da vida, ninguém a não ser você mesmo” ³. Esse aforisma dedico especialmente aos meus pacientes, afinal, para que exista a chance de uma vida autêntica e responsável, é preciso construir a própria ponte, com o mínimo possível de opiniões e/ou fórmulas alheias.

Por fim, cito mais duas frases que tratam de viver corajosamente, primeiro: “Vivam perigosamente! Construam suas cidades nas encostas do Vesúvio”* e “Deve-se pegar uma linha ousada e perigosa com a existência: aconteça o que acontecer, nossa tendência é perde-la”**. Viver perto de um vulcão, com a eminência do desastre ou da morte perto da consciência todos os dias deve ser um forte estímulo a viver, a fruir, a aceitar o risco que está imbricado a vida e a realidade. Como a ideia de afastar dualismos é uma das maiores marcas da filosofia Nietzschiana, parece que ele nos sugere experimentar as camadas, as nuanças do que hoje nos é temeroso. E, por fim, ainda nos alerta para o fato de que perdemos a vida no final, independentemente de como a tenhamos vivido ou do tanto que tenhamos querido preservá-la. Descontinuamos, para nos reorganizamos de infinitas outras formas no cosmo, afinal, não somos só parte dele, nós o somos.

¹ Seção 270 de A gaia ciência

² Sessão 4 de Assim Falava Zaratustra

³ Sessão 1 de Considerações Extemporâneas

* Sessão 238 de A gaia Ciência

** Sessão 1 de Considerações Extemporâneas

Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
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