Reflexões para a saúde e a felicidade!
Há algum tempo, em algum lugar que não me recordo, li um texto intitulado: Dez virtudes Aristotélicas para a Eudaimonia. Lembro de ter empreendido tempo, pensando nas razões pelas quais o filósofo elegeu as virtudes que elegeu e de que forma poderia trazer essa reflexão para minha vida. A eudaimonia, de forma absurdamente sintética, significa uma felicidade elevada, condição de vida em que o valor da felicidade se esgota nela mesma.
Somando a ideia de saúde à vida eudaimônica, nos estudos para meu trabalho dissertativo, diversas vezes me deparei com o pensamento de que não é possível descolar a moral da saúde. Ou seja, não há como ser saudável sem uma relação qualitativa consigo mesmo e com seus valores. Por essa razão, quero apresentar a reflexão de Aristóteles sobre as virtudes que ele escolheu para orientar sua conduta e assim provocar a reflexão de cada um sobre as próprias.
Aristóteles inicia sua lista 10 com a virtude da Elegibilidade, que seria algo como a capacidade de regular o próprio temperamento e as primeiras reações ao nos depararmos com algo que nos desagrade. Difícil quando tendemos a ser explosivos e derramar no outro todas as nossas emoções ante a menor necessidade de fazê-lo. Elegibilidade parece muito com uma capacidade de autorregulação do que pode e precisa ser exteriorizado e o que não.
A segunda virtude apontada pelo filósofo é a da Força, que trata da justa medida entre ser corajoso em situações que impõe medo e ser imprudente, esquecendo de fazer do próprio medo um aliado para avaliar os riscos de viver. Dessa forma, a força corresponde ao enfrentamento consciente dos riscos da vida. Em terceiro lugar, está a virtude da Tolerância, que, em seu exercício, deve permitir que consigamos nos equilibrar entre o excesso de indulgência e a intransigência.
A Generosidade é a virtude número quatro. Quando pensamos na generosidade, imediatamente a associamos à capacidade de desprendimento e doação, é também, mas ela se localiza melhor no intermédio entre a prodigalidade e a mesquinhez. Ser generoso significa dar e partilhar o que se possui, mas nunca de modo a diluir o Eu. E então, depois da Generosidade, Aristóteles sugere a Modéstia. Ser modesto não trata de diminuir virtudes ou escancarar erros, mas tem a ver com nossa capacidade de reconhecer ambos em nós mesmos, isso é extremamente difícil, como o exercício de qualquer outra virtude.
A virtude número seis é a Veracidade que trata da capacidade de agir com honestidade, avaliando sempre o impacto e o alcance das palavras que emitimos. Em sétimo, está a Graça, como um saber ser e agir, nem rude, nem hostil. Depois, em oitavo, nono e décimo, respectivamente, estão as virtudes da Sociabilidade, Decoro e Justiça. Correspondendo à Sociabilidade está a capacidade de cultivar bons relacionamentos e ser cauteloso na escolha dos amigos. O Decoro, ao ponto médio entre a timidez e a falta de vergonha na cara, é tratar o outro respeitosamente e saber exigir respeito. Por fim, entende-se a Justiça como um meio caminho entre o egoísmo e o total interesse apenas pelas necessidades do outro.
Pensar sobre quais são as virtudes que cabem a nós mesmos é um exercício que exige o respeito à singularidade de cada um. Não deveríamos jamais utilizar os caminhos do outro para viver a própria vida. O que quero dizer é: essas são as virtudes de Aristóteles, pense você mesmo nas suas. Agora, muito mais do que pensar sobre as virtudes, é preciso fazer o esforço de vivê-las. Elas são práticas, mostram-se nas ações e relações que estabelecemos, não precisam ser anunciadas e precisam ser cultivadas dia após dia. A lógica que se aplica é a da filosofia grega: Viver o que se pensa e pensar o que se vive.
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
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