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Coluna | Era Sol que me faltava | Quem sobreviverá a melancolia dos nossos tempos?

O esfriamento das paixões, as crises do amor e dos relacionamentos, a múltipla
liberdade de escolhas, o desejo irrefreável de ser bem-sucedido, a obrigatoriedade de
agradar, os sentimentos de cansaço e esgotamento, a necessidade de controle e a
solidão, possuem algo que os une intimamente, de modo que marcam o tempo em que
vivemos e, possivelmente, será por meio dessas características que seremos lembrados e
estudados no futuro, se houver um.

O que será que une todas essas características? O que nos trás a este cenário?
Difícil afirmar. Alguns estudiosos atribuem a melancolia dos nossos tempos justamente
ao valor que atribuímos a liberdade. Liberdade esta que valorizamos tanto e sem a qual
nem queremos viver. Uma liberdade que nos torna intolerantes, pois nos passa a
verdadeira sensação de que não somos obrigados a mais nada e de que devemos, como
real compromisso, ir em busca da otimização de todos os segmentos da nossa vida:
trocar empregos por outros com propostas melhores, trocar amigos e companheiros por
outros que pareçam melhores etc. Eis a pretensão alucinada do sucesso. É isso que
consideramos evolução? Dá pra notar como tudo está interpenetrado?

Outros estudiosos pensam que é a individualização, a narcisificação, que tem nos
colocado na direção da melancolia. O alto investimento em si nos conduz para o
desaparecimento do outro. Quando não há “outro”, não há mais tensionamento
relacional, não há amor, não há paixão, não há presença. A solidão é o que resta.

Sem “outros”, restam só os “eus”, por sinal, todos iguais; todos querendo
liberdade e sucesso. O preço do igual é querer agradar e encaixar-se; é precisar despir-se
de si e assumir um ‘eu’ comum, que trabalha, produz, é bem-sucedido, é bem-visto por
todos e é livre de relações que o amarrem. Talvez, muito mais por estar incapaz de se
relacionar do que por, de fato, não querer se relacionar. Afinal, para cerejar o bolo da
tristeza e da falta de sentido vem o sentimento de solidão.

Quando tudo gira em torno do “eu” a depressão é o que resta. Afinal, a
depressão é uma doença narcísica. Não há ninguém mais fechado em si mesmo e
distante dos outros do que um sujeito deprimido. Levando isto em consideração,
podemos concluir que ter coragem de amar, com os contornos caóticos característicos
do amor, pode ser um caminho para nos afastarmos na depressão. Para que não nos
fechemos em nós mesmos, talvez seja preciso que saibamos nos entregar aos outros.
Parece que parte da resposta está nas relações.

Na pequena brincadeira de quiz, feito em meu Instagram semana passada,
aproximadamente 100 pessoas responderam à questão, sendo que entre
‘Relacionamentos’ ou ‘Sucesso’, 67% escolheram o sucesso. É interessante observar o
fenômeno neste microcontexto, que é a minha rede social. Ao mesmo tempo em que
67% dos votantes escolheram o sucesso, 60% perceberam que o amor está em crise,
59% sentem-se forçados a agradar, 54% sentem-se sobrecarregados e 56% afirmam
sentir necessidade de controlar tudo. O futuro é preocupante, inevitavelmente
preocupante.

Quem sobreviverá?

Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
Redes sociais:www.facebook.com/solange.kappes | Instagram: @solangekappes


A opinião dos colunistas não reflete necessariamente a visão do veículo. 

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