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Coluna | Era Sol que me faltava | Por que estamos escolhendo os vínculos com animais em detrimento das pessoas?

A preferência por conviver com animais e por escolhê-los em detrimento das pessoas é um fenômeno em crescimento. Em uma conversa de corredor no trabalho, me perguntaram como isto se explica; então, eu respondi, asseverando que se trata de uma intolerância e ou incapacidade de lidar com os semelhantes. Mas, as respostas possíveis vão além disso. Vamos para algumas.

O convívio com animais é infinitamente mais simples. Nos passa uma sensação de sensibilidade, de humanidade, de cuidado e proteção. E quem não quer experimentar a bondade de entrar em contato com um ser ingênuo, inocente e indefeso? Ou seja, mesmo que despercebidamente, relacionar-se e vincular-se com animais nos passa a sensação de que somos boas pessoas por defendermos um “inferior”. Nos acompanha sempre essa necessidade de superioridade.

Além disso, animais domésticos, como cães e gatos, nos oferecem um afeto incondicionado e nunca questionam nossas ações e nem nos contrariam. E quem é que não deseja ser amado, mesmo sendo um imbecil? No nosso caso [humanos], o afeto que somos capazes de oferecer a alguém é sempre condicionado, exceto, talvez, por algumas poucas mães. Mas, em geral, para que se possa receber o respeito, o carinho, o amor e cuidado de alguém, é preciso fazer por merecer. As relações humanas exigem muito mais reciprocidade.

Talvez, ante a uma dificuldade relacional, que é marca da modernidade, seja mesmo infinitamente mais fácil gostar do cão do que do vizinho ou do morador de rua. Em geral, o vizinho, o colega de trabalho, o morador de rua e até nosso próprio filho são muito diferentes de nós. Bons intolerantes travestidos da falácia da tolerância que supostamente temos, somos incapazes de relacionamentos salutares com um “igual”. A relação com um “inferior”, que nunca me questiona, nunca me contraria e nem sabe das minhas más condutas para com o próximo e, ainda assim, me dá amor, é infinitamente mais confortável.

Outro ponto a considerar é que o nível de comprometimento afetivo com um animal é muito inferior à exigência afetiva que um outro ser humano demanda. Animais são muito mais facilmente substituíveis, mesmo que soframos quando eles morrem. O caso é que, de tempos em tempos, se pode comprar outros, mas amigos ou filhos, por exemplo, não são substituíveis.

Por fim, não há problema algum em optar pelos animais, em amá-los e protegê-los. Como sempre, o problema está em considerar-se moralmente superior ou melhor do que aqueles que não se preocupam com isso. O maior exemplo disso é um sujeito bastante conhecido, que sempre amou e protegeu os animais, inclusive era vegetariano: Adolf Hitler.

Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
Redes sociais:www.facebook.com/solange.kappes | Instagram: @solangekappes


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