O “Milagre da renovação” no ano novo!
Um ano se abre, carregando a sensação de “novo tempo”, operando, em alguns, como um “milagre de renovação”. Renovação dos sonhos, dos objetivos, da vontade de ser mais saudável, emagrecer, trocar o emprego, o carro, o marido, enfim. Os períodos do tempo, assim como os reconhecemos, não passam de uma demarcação humana. Não há nada no universo que encerre ciclos em nós, no dia 31, e os reabra, renovados, no dia primeiro. Assim mesmo, muitos são capazes de sentir uma animação diferente, a tal da motivação, que quando ancora-se sobre algo que não nos é intrínseco, tende a se esvair rapidamente.
Nos perdemos velozmente e a autopiedade inicia para que consigamos suportar o fracasso e nos consolar em desculpas adiadas. Ah, o ano só inicia depois do carnaval, ou melhor, depois da páscoa, e assim seguimos. Sempre nos faltará algo, tempo, dinheiro, apoio, é uma pena que tenhamos perdido, ao longo do tempo, a capacidade de viver com os desafios, e de tomá-los como mola propulsora.
Esperar do tempo, do mundo, dos outros, as transformações e respostas necessárias para a própria vida não passa de ingenuidade e imaturidade. E, como o óbvio ululante precisa ser dito, é imprescindível compreendermos que a potência renovadora, criadora, sonhadora, é algo que habita em nós, e não está vinculada ao calendário.
Liricava o filósofo do absurdo, Albert Camus, “E, finalmente descobri, no meio de um inverno, que havia dentro de mim, um verão invencível. E isso faz-me feliz, porque isso diz-me que não importa a força com que o mundo se atire contra mim, pois dentro de mim, há algo mais forte – algo melhor, empurrando devolta”.
Apesar do inverno, da dificuldade, do empecilho, do decorrer do tempo, algo em nós pode ser acessado e cultivado. Tornar a si! ali existem possibilidades, mais reais, mais concretas. Não passam de possibilidades, é verdade, mas que outra chance temos? esperar sempre o ano novo? A realidade, por vezes, é bastante esmagadora, sempre há a contingência e aquilo que ela nos impõe, mas isto está além de nós, independe de nós e permanecerá depois de nós. Agora, pertencer a si próprio, como o Nietzsche sugere, deveria nos soar como um dever sublime.
Caloroso cumprimento e até semana que vem!
Psicóloga CRP 12/15087
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