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Coluna | Era Sol que me faltava | O amor fracassou?

O amor fracassou?

“Nascemos sozinhos e morreremos sozinhos”. Essa foi a frase que deu razão às linhas de hoje. Em uma semana de consultório, um universo de encontros é possível: vidas absolutamente singulares, histórias carregadas de sentido, alegrias, tristezas, dores, sabores, valores. Isto imprime identidade a cada um que senta-se comigo para partilhar corajosamente as mais íntimas questões da alma. 

Agora, na mesma medida em que somos irremediavelmente únicos, singulares e irrepetíveis, também somos previsíveis e seguimos o rebanho, especialmente ante aquilo que se mostra como fenômeno social. Quando o amor é tema, fica evidente o quanto os sujeitos da pós-modernidade têm medo do afeto e da intimidade, sentem um esvaziamento no sentido de amar e uma fragilidade nos vínculos. 

 Quando, no atendimento clínico, ouvi do paciente a frase: “Nascemos sozinhos e morreremos sozinhos”, falávamos do amor-apego, e imediatamente eu questionei: “Mas e todo intervalo de tempo entre um evento e outro?”. Muito é vendida a falsa ideia de que é possível amar sem apegar-se, de que podemos viver os afetos apenas na sua dimensão positiva, sem entrar em contato com as dores de estar junto. O amor livre é uma falácia inominável. 

Medo da intimidade, esvaziamento de sentido e fragilidade de vínculos estão intrinsecamente conectados e se explicam pela incapacidade, por falta de educação e preparo para isto, de lidar com o sofrimento, a dor e o fracasso. Esta é mais uma marca da pós-modernidade, a falsa ideia de que se pode obter sucesso em tudo, o tempo todo, a partir da força do querer. Assim, esquecemos de preparar para o inevitável. 

É certo que é possível, em alguma medida, optar por uma vida pouco apegada afetivamente, mas isso já deveria pressupor a compreensão de que o sentido da vida fica frágil, de que um vazio se abre e de que os vínculos serão raros e rasos. Assim como, quando optamos pelo amor-apego, também deveríamos compreender que isso trata de um afeto totalmente condicionado a um outro. Afinal, quem ama apegadamente será feliz na felicidade do amado e se entristecerá na tristeza do amado.  Amar com apego é submeter-se a um sentimento inteiramente fora de controle. Arriscadíssimo, não é? Sim, amor é para corajosos¹. Especialmente a considerar que podemos não ser amados de volta.

No final, você escolhe: viver uma vida sem apegos, ciente de que ela será absurdamente solitária, tediosa e chata, ou passar a vida pagando o preço do amor, que implica uma forte oscilação entre alegrias e tristezas, contentamentos e descontentamentos, vantagens e desvantagens. Talvez, nesse sentido, o amor seja até um pouco lógico, pois pouco apego é igual a pouco sofrimento e alegrias tímidas; muito amor resulta em alegrias que mobilizam as entranhas e sofrimentos que fazem sangrar². Escreveu, em outros tempos, Lou-Andréas Salomé: “Fecha-me em teus braços. Se já não tens felicidade a me dar, muito bem: Dai-me teu tormento”. 

É o amor que torna a vida interessante, é ele que move para o contato com o outro e com o mundo. 

 

¹ Sugestão de livro: Amor para Corajosos / Luiz Felipe Pondé

² Inspirações em Clóvis de Barros Filho

Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
Redes sociais:www.facebook.com/solange.kappes | Instagram: @solangekappes


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