Nada, absolutamente nada, escancara mais a frustração de alguns diante da própria vida do que a necessidade de falar e fofocar da vida dos outros. Intrigar ou boatar sobre a vida alheia é um anúncio de infelicidade aos sete mares. Este é um tema que já abordei em outros escritos. Mas, como a vida nunca sai da frente e o hábito de falar mal jamais se esgota, senti que era preciso complementar.
Quando a vida está microscópica, comezinha e medíocre, os desocupados tendem a partir em busca de palco e platéia; e então, ao invés de construir conteúdos interessantes para atrair a ambos, os imbecis e preguiçosos tomam o atalho da detração na pretensão visceral de produzir zonas de influência e sentirem-se importantes. A cada dia, busco me imunizar e distanciar mais e mais daqueles que tem a infeliz necessidade de falar dos outros, aos meus olhos, bilha em suas testas um outdor em luz neon com a palavra: Fracassado!
Pessoas com alguma inteligência e/ou sabedoria, discutem ideias e conversam sobre fatos, pessoas desprovidas falam dos outros, muitas das vezes, na intenção de distrair-se da própria feiúra, da própria solidão. Sim, solidão, afinal, um fofoqueiro detrator é, em seu íntimo, absurdamente solitário; poucos ou ninguém deseja estar na sua presença e a inevitabilidade da fofoca é, na verdade, um desespero por produzir vínculo com alguém.
Isso sem excetuar o fato de que se pode desvelar o âmago do fofoqueiro através do conteúdo de suas fofocas. É isso aí, em geral os infelizes no relacionamento falam do relacionamento dos outros, os infelizes com sua aparência falam da aparência dos outros, e assim sucede uma verdadeira escancaração das próprias dores e feridas.
A língua é usada pelo fofoqueiro como uma arma. Arma que geralmente aponta para pessoas sobre as quais não é capaz de exercer poder ou influência, com um desejo infantil de atingi-la ou agredi-la. A fofoca está sempre a serviço da inveja de quem a propaga. Em geral, quanto mais invejosa a pessoa for, mais fofoqueira será. Aos alvos da língua fiada, lembrem-se, a fofoca do outro é um veneno, só funciona se eu beber. E que quando Pedro fala de Paulo, Pedro fala mais de Pedro que de Paulo. Vale, ainda, o conselho de avó, nunca confie em quem fala mal de alguém para você, esse falará de você para outros.
A fofoca é tão irracional, tão burra, tão pequena, que ela nem precisa de fatos, de verdades com condigam com a realidade, o objetivo é pura e tão somente aparecer. Não sei ao certo por qual razão, mas pensar em fofoqueiros me remete aos tempos de criança em que, depois de brincar muito na grama era preciso catar os micuins do umbigo, não havia tempo e nem disposição para cuidar da vida alheia, a gente sabia se divertir e cuidar do próprio umbigo.
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
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Parabéns Solange, belo texto. Aprecio muito seu estilo de escrita, direto, crítico e problematizador. Sou fã da sua coluna. Amei- quanto menor o cérebro, maior a língua!