Estúpidos: os fracassados não querem ser superados!
Realmente, eu deveria queixar menos da vida e de suas exigências, afinal, ocorrem tantas situações em que posso rir-me dela, de mim mesma e das pessoas, que experimento um mal estar por ser uma eterna insatisfeita. Na semana que passou, enquanto perambulava pela livraria, encontrei um livro que me capturou no título, A psicologia da Estupidez: Não existe um mundo sem idiotas. Lidar com eles é um desafio. De Jean-Françóis Marmion. Explorando as primeiras páginas, ri como há tempos não ria. Quem partilha da convivência comigo, sabe do meu riso gaitado em alto e bom som; assim faço para não deixar dúvidas quanto ao meu divertimento e não porque seja algo incontrolável. Evidentemente o livro foi comigo para casa.
Neste tratado sobre a estupidez, o autor, que é um cientista francês, vai oferecendo traços, teorias e tipologias sobre os estúpidos, cretinos, tolos e imbecis. É inevitável identificar-se e reconhecer pessoas da nossa convivência. Jean-Françóis, assevera, por exemplo, que a dúvida enlouquece, mas a certeza estupidifica. Quem jamais esbarrou em um estúpido que fala sem dar direito de resposta por estar absurdamente certo do que está dizendo? E, não satisfeito de ser o “dono da razão” busca uma manada para formar um belo “bando de estúpidos”.
Há, também, aqueles estúpidos que sentem necessidade de ser causa da infelicidade alheia, são incansáveis ao importunar, inabaláveis ante argumentos e totalmente imunes à hesitação, tão certos que estão quanto à suas opiniões e do direito de vomitá-las sobre todos. Este estúpido sempre sabe mais do que você, inclusive quando o assunto é sobre como você deve se sentir, o que deve fazer e como deve pensar, se você discordar, ferrou! Ele ficará ofendido, magoado e não refreará o bostejamento de insultos para te diminuir, afinal, é um defeito seu não perceber o quanto ele é espetacular, e você deve saber disso.
Agora, cuidado, reconhecendo um estúpido, engate a marcha ré e saia de fininho, sorrindo e acenando. Caso te proponha a argumentar com o estúpido, tentando mostrar-lhe que está errado, ou que pode mudá-lo, ou ainda, te sente no dever de estimulá-lo a ser melhor, é porque também já te julga detentor de um saber sobre como agir, pensar e se comportar. Ou seja, você também não passa de um estúpido, um estúpido bem ingênuo, por sinal, por crer-se capaz de lidar com a estupidez alheia.
Seguindo na tipologia dos estúpidos, há os que podem ser reconhecidos por não disporem de uma amplitude mental, por serem dotados de uma inteligência reduzida (cuidado, pensar-se mais inteligente que a média também é estupidez) também há os presunçosos, os estúpidos universais, que se sentem capazes de julgar o restante da humanidade, há os estúpidos artificiais, os crédulos, os imbecis e idiotas, etc. São tantos tipos de estúpidos que parece chegada a hora de “comprar” a afirmação de Nelson Rodrigues, quando ele dizia: “Os idiotas vão dominar o mundo. Não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”.
Enfim, a estupidez parece estar intrinsecamente conectada à dificuldade de nos avaliarmos nas nossas reais capacidades. Nos superestimamos quanto à nossa própria competência e nos enraivecemos de reconhecer quem de fato é competente. É como o autor do tratado nos diz: “Os fracassados não querem ser superados”.
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
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