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Coluna | Era Sol que me faltava | A quem serve tanta baboseira que se fala sobre inteligência emocional?

Não nos conhecemos, nem nos esforçamos pra isso e, ainda assim, só sabemos falar de inteligência emocional. Somos uma espécie complexa, contraditória e incorrigível, afinal, só a nós é concedida a possibilidade de crer e aguardar que o cosmos se reorganize para nos servir e nos evoluir – a tediosa positividade ingênua de hoje em dia. Evoluir é ir, diariamente, na direção da morte.

Não raro, nas experiências clínicas ou mesmo sociais, me deparo com pessoas que falam de controle das emoções, em “gestão” dos sentimentos ou em inteligência emocional. Falam no desejo profundo de ir nessa direção, e, de preferência, por caminhos abreviados. Caminhos estes que se resumem a medicamentos psicotrópicos ou cursinhos com coaches sobre como fazer bom uso dos maus sentimentos e emoções. Eis, aqui, o ponto de partida de mais um caminhão de sofrimentos e falácias que servem muito bem ao mercado.

Desde os primórdios, logo do desenvolvimento da linguagem, a humanidade ocupou-se dos sentimentos e das emoções; até a atualidade, séculos e séculos depois, ainda existem poucas respostas sobre o porquê de sentirmos o que sentimos, sobre quais as razões de sentirmos, ou seja, o universo da subjetividade é tão vasto e tão inexplicável que os falastrões da atualidade – que pretendem fazer dinheiro a qualquer custo – querem vender cursos sobre “gestão” emocional. Ah, me poupem!

Medo como mola propulsora, preguiça como estímulo à criatividade, etc. Até por experiências dolorosas como lutos e adoecimentos, as pessoas tem esperado passar rápido, sem sofrer e seguindo ilesas, isso é de uma imbecilidade inominável. E por que se deseja isso? Para tornar, de imediato, à vida extremamente ocupada e produtiva, por uma exigência social que já internalizamos – da qual o mercado e o marketing tiram extrema vantagem – e, talvez também, para seguirmos fugindo de nós, na mentirosa impressão de que sabemos lidar com nossas emoções e sentimentos.

Por vezes, tudo isso me soa muito cômico, mesmo que eu tenha consciência de que boa parte dos sofrimentos da atualidade tem origem nessa imposição pelo bem-estar, pelo bom uso do que se sente de mau (porque não pode só ser mau – é preciso extrair lições, ver o lado bom, tirar proveito). É cômico porque nunca ouço esses discursos de controle, inteligência e gestão, quando o assunto são as questões físicas. Quando a questão é física, material ou concreta, somos muito mais facilmente humildes em assumir que não sabemos nada. E nem achamos que podemos qualquer coisa, afinal as fronteiras da limitação são infinitamente mais palpáveis do que as emocionais, mentais ou psicológicas, dimensões em que, cada vez mais, acreditamos que podemos qualquer coisa.

Tanto em psicologia quanto na filosofia, a questão emocional e sentimental é olhada, estudada e percebida como um desafio para a vida pensada ou uma vida mais racional. Percebem a contradição de utilizar expressões como: Controle emocional ou Inteligência emocional? Um atravessa o outro em tensionamento e não é você que vai conseguir ser o diferentão ante algo que ainda é um grande mistério.

Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
Redes sociais:www.facebook.com/solange.kappes | Instagram: @solangekappes


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