A pretensão de uma saúde eterna!
É interessante observar o quanto estamos hipocondríacos na atualidade, praticamente toda pessoa que encontramos usa medicamentos para manutenção da sua saúde, ou doença. Ao mesmo tempo, jamais estivemos tão fetichizados pela ideia de uma vida longeva, independente do preço que for necessário pagar para desfrutá-la. Essa é a contradição; queremos cada vez mais saúde e tempo de vida e, ao mesmo tempo, estamos sempre enfermos, tratando algo, ou nos automedicando em razão de algum desconforto. Resultado de uma série de encadeamentos que inclusive nos fogem ao conhecimento, esse processo faz de nós sujeitos mais fracos, tanto orgânica quanto psicologicamente. Ficamos intolerantes à dor, ao sofrimento, incapazes de lidar com perdas e sem o menor conhecimento sobre o autocuidado ou a capacidade de reconhecer as necessidades do próprio corpo/alma.
Este afastamento da noção de que existe uma dimensão trágica na existência, e de que ela é, inclusive, superior às ocasiões em que a vida é leve, feliz, confortável e/ou equilibrada, acaba por culminar em outros adoecimentos, em detrimento de uma não aceitação da condição de desconforto provocada pelas enfermidades, resultando em um inacabável ciclo de retroalimentação em que é desafiador visualizar saída.
Buscando inspiração e conhecimento em Nietzsche, encontramos na sua filosofia uma proposta que diverge da nossa atual forma de compreender e buscar a saúde. O filósofo assevera a busca pela construção de uma ‘nova saúde’, que seja mais forte, mais arrojada, mais espessa, mais persistente e mais divertida, inclusive, do que todas as ‘saúdes’ foram. E assim o faz, especialmente por considerar que saúde não é algo que se tem, mas algo que constantemente se adquire e se deve buscar e esforçar para adquirir. E assim deve ser porque também se deve constantemente abandoná-la.
Tendo em sua própria vivência experimentado diversos momentos de queda de potência vital, enfermidades, dores e sofrimentos severos, Nietzsche compreendia que, para alcançarmos uma ‘grande saúde’ a doença é imprescindível, devendo especialmente ser percebida e utilizada como um meio de promoção, crescimento e fortalecimento da capacidade contínua de superação da enfermidade. Considerando, assim, que o organismo só capaz de produzir plasticidade curativa e regeneradora no enfrentamento e superação contínuos. Fazendo, então, que se institua um movimento convalescente, que na instabilidade torna necessário o constante movimento de recuperação.
Como também recusa a ideia dualista, Nietzsche afirma saúde e doença não se excluem, e estão simultaneamente, assim como em um jogo de forças em que hora se domina e hora se deixa dominar, devendo essa dialética permanecer sempre.
Podemos perceber que o pensamento do filósofo aproxima-se da noção da dimensão trágica da existência como potência criadora do ser. Asseverando ainda, a dor, o sofrimento, as enfermidades e a inclusive a morte como inexoráveis, inevitáveis, indispensáveis e inadiáveis.
Caloroso cumprimento e até semana que vem!
Psicóloga CRP 12/15087
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