Quando era criança, eu adorava pegar uma moeda e disputar com os meus irmãos: cara ou coroa? Jogava a moeda pra cima e quem acertasse o lado era o vencedor: ganhei! Esse “ganhei” era mais do que um “acertei”, pois vinha carregado de “me dei bem”, “sou mais sortuda do que você” e uma maravilhosa sensação de vitória.
Sorte em acertar? Nesse caso pode ser, pois na tenra idade não sabia nada sobre a probabilidade estatística de que a chance de acertar ou errar era a mesma. Mas valia a sensação de testar vários ângulos, alturas e, claro, ganhar várias vezes.
Embora seja um jogo simples, não é só uma brincadeira de criança. É muito usado para ajudar a tomar uma decisão, quando se está em dúvida entre duas alternativas, ou até mesmo para resolver uma disputa entre dois lados. Já viu acontecer no campo de futebol? Tecnologias avançam, mas o juiz ainda decide no “cara ou coroa” qual o time começará o jogo.
Quando adultos, podemos continuar usando como uma brincadeira, como decidir quem vai pagar a conta do restaurante: Cara ou coroa? Quem perder, paga a conta!
Mas, quando temos que tomar decisões no dia a dia, vale o cara ou coroa?
Buscamos na moeda um apoio e transferimos a ela uma certa validação e autorização para a decisão que precisamos tomar. Há estudos que a associam, inclusive, a felicidade, como concluiu o economista Steven D. Levitt em seu artigo “Cara ou Coroa: o impacto do lançamento de uma moeda em grandes decisões de vida e sua felicidade posterior”. Segundo Levitt, as pessoas que tomaram a decisão de mudar influenciadas pelo resultado do lançamento da moeda (que tiraram “cara”) têm muito mais probabilidade de fazer uma mudança e ficam mais felizes seis meses depois do que aquelas que foram instruídas pela moeda a se manterem como estavam.
Sempre estamos tomando decisões e, muitas vezes, não sabemos se é uma boa escolha, principalmente quando envolve dinheiro. Será que jogar uma moeda pra cima pode ajudar?
Quando estiver na dúvida de “comprar ou não aquela roupa?”, pode pegar uma moeda e, se mostrar o lado que você pensou em comprar a roupa, a decisão está feita e você está autorizada a comprar. Provavelmente ficará mais feliz com a roupa bonita, mas será que essa sensação de felicidade irá durar depois que a fatura do cartão de crédito chegar?
Se, nos dias atuais, por causa da pandemia, você estiver sofrendo com a falta de dinheiro ou sem ter reserva para pagar as despesas necessárias, não está se perguntando “por que não guardei dinheiro?”
A vida é feita de escolhas
Fazemos escolhas. Mesmo que não tenha jogado “cara ou coroa”, essa dualidade estará sempre presente. E o que isso significa? Quando se trata de dinheiro, não é apenas tomar uma decisão entre “faço ou não faço”, “compro ou não compro”, “guardo ou não guardo”, “viajo ou não viajo”, mas de aumentar a percepção e entender o que faz sentido na hora de tomar uma decisão.
A dualidade pode estar no pensamento: “o que a fulana vai achar?” ou “o que a família vai pensar se eu comprar aquele carro?”. É a necessidade de aprovação sussurrando no nosso ouvido, de que apareça alguém e nos oriente a tomar a decisão.
Essa dualidade mostra a dificuldade que temos de assumir as próprias escolhas e, se não estivermos conscientes, passaremos a vida inteira à mercê desse jogo.
Em situações normais, em que o dinheiro circula e é possível comprar com mais facilidade, guardar dinheiro pode não fazer sentido. Mas crises financeiras acontecem, ser demitida de um emprego acontece, fechar um negócio acontece…
Temos a vontade de vencer esse jogo do dinheiro, mas é preciso olhar para os dois lados da moeda e entender o que eles realmente significam antes de tomar a decisão. Conscientes, teremos a condição de responder: cara ou coroa?
Fonte: Correio do Povo