Embora frequentemente repita que não interfere na Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira (10) que, “se resolvesse”, daria “murro na mesa” para obrigar a estatal a reduzir os preços dos combustíveis.
O governo é o principal acionista da Petrobras, empresa de economia mista cujas ações são negociadas em bolsas de valores no Brasil e no exterior. Declarações anteriores do presidente sobre a estatal já provocaram baixa no preços de mercado dos títulos da empresa.
“O Brasil é autossuficiente em petróleo. Não precisava estar sofrendo como sofre hoje em dia se não fossem políticas erradas lá de trás”, disse Bolsonaro. “Alguns querem que eu vá lá na Petrobras dar um murro na mesa e resolva. Não é assim. Se resolvesse, até faria. Mas não vai resolver, vai piorar a situação. Estamos devagar — ou na velocidade do possível — buscando alternativas”, declarou na noite desta quinta durante transmissão ao vivo por redes sociais.
Bolsonaro costuma dizer que a Petrobras tem gestão independente e que o governo federal não pode interferir na política de preços da empresa — desde 2016, a estatal adota a Paridade de Preço de Importação (PPI), pela qual os preços dos combustíveis no Brasil seguem o praticado no mercado internacional.
Pela manhã, a Petrobras anunciou um aumento de 18,8% nos preços da gasolina e de 24,9% para o diesel, após 57 dias sem reajustes.
Bolsonaro e a gestão da Petrobras
Mesmo afirmando que não interfere na Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro já impôs sua vontade e fez a empresa rever decisões em várias ocasiões.
Em abril de 2019, no primeiro ano de governo Bolsonaro, a Petrobras desistiu de realizar um aumento do preço do diesel após uma determinação do presidente.
Para justificar a manutenção do preço, a estatal afirmou que havia margem para postergar o aumento do diesel por “alguns dias”. No dia seguinte ao anúncio, a empresa perdeu R$ 32 bilhões em valor de mercado.
“Liguei para o presidente, sim. Me surpreendi com o reajuste de 5,7%. Não vou ser intervencionista e fazer práticas que fizeram no passado, mas quero os números da Petrobras, tanto é que na terça-feira convoquei todos da Petrobras para me esclarecer por que 5,7% de reajuste, quando a inflação deste ano está projetada para menos de 5%”, afirmou o presidente na ocasião.
Mesmo assim, na semana seguinte, o então porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, disse que o presidente Jair Bolsonaro afirmou, durante reunião no Palácio do Planalto, que “não quer” e “não pode” intervir na política de preços dos combustíveis adotadas pela Petrobras.
Em fevereiro de 2021, após uma série de declarações questionando os aumentos dos preços de combustíveis realizados pela Petrobras, Bolsonaro anunciou a indicação do general da reserva Joaquim Silva e Luna como novo presidente da empresa. Ele sucedeu Roberto Castello Branco, indicado por Bolsonaro após as eleições de 2018.
Em duas semanas após a troca, a Petrobras perdeu R$ 108 bilhões em valor de mercado. O anúncio também foi mal recebido por analistas e antigos aliados do presidente. Eles elogiaram o trabalho que Castello Branco vinha fazendo e apontaram prejuízos à Petrobras em razão de relacionarem a decisão a interesses eleitorais do presidente.
Dois meses após mudar o presidente da empresa, Bolsonaro afirmou que não iria interferir na Petrobras, mas disse que poderia mudar a “política de preços” da estatal com o apoio da Câmara dos Deputados.
As críticas de Bolsonaro ao posicionamento comercial da companhia não pararam. Na última segunda-feira (7), ele se queixou da paridade no preço do petróleo e disse que o governo se reuniria a fim de discutir medidas para a Petrobras não repassar toda a alta dos combustíveis para o consumidor.
Fonte: G1