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Arte como potência e liberdade

Coluna: Cultura e Arte

Quando se escolhe abandonar as âncoras, os portos, as amarras; quando se escolhe o oceano, os fluxos, as intensidades, é preciso ter prudência: o mundo dos homens é um mundo de muitos dedos e línguas e inquisições.

O poder é apaixonante e a paixão é o maior dos delírios: fascinante fascismo. Que possamos desejar a potência e não o poder. Que possamos desejar a liberdade e sermos livres, para que também possamos libertar.

Mas liberdade não é um prêmio, não se conquista. Constrói-se a liberdade: a cada decisão que tomamos, diariamente, construímos a liberdade; quando não compactuamos e não reproduzimos violência, seja ela verbal, física ou psicológica.

Construímos a liberdade quando acolhemos e respeitamos as diferenças do mundo. Construímos liberdade desfazendo idolatrias absolutas, fundamentalismos religiosos e políticos.

Se nós escolhemos a arte, é porque ela nos deixa mais vivos. Não é por mero divertimento ou prazer: é uma questão de vida ou morte. Se nós escolhemos a arte, seja através dos sons, das imagens, das palavras ou dos gestos, é porque ela é parte ancestral que ainda reverbera. Se nós escolhemos a arte, é porque queremos ter a possibilidade de criar mundos melhores.

A criação é um processo, uma experimentação, um desejo de tornar matéria as ideias que povoam nossos pensamentos mais extravagantes. Construímos nosso caminho no próprio ato de caminhar. Adotamos a experiência como premissa.

O ineditismo como horizonte e o estranhamento de si. Ser estrangeiro no próprio território. Transformar a arte num modo de viver. Faz-se necessário que possamos produzir uma vida ético-estética, pautada na experiência com os mundos que se fazem incessantemente e na constituição do nosso próprio universo de referências.

Pois para isso há a possibilidade da ficção. Não para propor engodos ou fingimentos sobre um real qualquer, mas para que possamos habitar uma paisagem construída com as linhas singulares de um mundo heterogêneo, povoado de extravagâncias e estranhezas legítimas. Para que não se apague a possibilidade de sermos mais.

Para que a ideia de possibilidade seja um fator de multiplicação e soma, nunca de subtração. Pois para isso existe a arte: para que não morramos no consenso sobre a vida, para que não aceitemos tão simplesmente que a vida é isso que disseram que é e ponto final.

Se o mundo é daqueles que o criam, então, que possamos ser criadores dos nossos próprios. E que possamos compartilhá-los para que se faça uma razão para sua existência, pois de nada adianta um mundo maravilhoso deserto.

Queremos as ruas cheias, queremos as salas de teatro cheias, os cinemas, os shows de música, os espetáculos de dança, as galerias e as livrarias. Queremos as pessoas cantando, pois o canto, já dizia Millôr noutras palavras, é o sintoma da esperança.

Mas queremos uma esperança que não espera. Não se pode esperar muito mais. A vida se faz na urgência e emergência dos acontecimentos. E que possamos estar à altura destes acontecimentos, para não deixar passar essa vida que queremos. Para não deixar passar. E se o afeto é revolucionário, que ele seja a nossa arma mais poderosa. Criemos!

Referências:
FERNANDES, Millôr; RANGEL, Flávio. Liberdade, Liberdade. – Porto Alegre: L&PM Pocket Plus, 1997.
RANCIÉRE, Jacques. A partilha do sensível: Estética e política; Trad. Costa Netto. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 1999.

 

 

Manolo Kottwitz
Professor de Artes Cênicas/Mestre em Psicologia Social e Cultura

 

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