Números do IBGE destrincham as disparidades nos rendimentos dos brasileiros em 2019. Economistas ouvidos pelo ‘Nexo’ apontam por que as diferenças devem se aprofundar na crise do novo coronavírus
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) publicou em 6 de maio números que retratam a desigualdade de renda no Brasil em 2019. Por meio dos dados, é possível entender como se manifestam as diferenças nos rendimentos dos brasileiros em termos de gênero, cor ou raça, região do país e grau de instrução.
Os números foram obtidos pela realização da Pnad Contínua – a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. A cada três meses, o instituto visita 211 mil domicílios de todo o território nacional e coleta informações sobre trabalho e renda, entre outros itens. Em 2020, em meio à pandemia, a coleta de informações está sendo feita por telefone.
A Pnad tem uma versão divulgada mensalmente, mas os dados que destrincham os rendimentos e que permitem identificar diferentes desigualdades na renda são publicados com frequência anual. Abaixo, o Nexo traz cinco recortes diferentes sobre a desigualdade de renda no Brasil em 2019, conforme registrado pelos dados do IBGE.
A desigualdade por faixa de renda
Os números do IBGE mostram o tamanho da diferença dos rendimentos entre aqueles que recebem mais e os que recebem menos a cada mês. Dividindo os brasileiros em dez faixas (chamadas “decis”) – começando pelos 10% que menos recebem e indo até os 10% que mais ganham –, a diferença que aparece é significativa.
A DIVISÃO POR FAIXA DE RENDA
Na média, quem está no topo recebe mais de 36 vezes do que ganha quem está na parte de baixo. Os números ainda mostram que os 10% com maior renda ficam com 43% de todos os rendimentos do trabalho do país.
Olhando com mais detalhes para os extremos da renda do trabalho no Brasil, a diferença fica ainda maior. O 1% com maior rendimento mensal ganha, em média, 180 vezes o que ganha a pessoa que está na parcela dos 5% com menor renda.
R$ 160
é o que ganha por mês uma pessoa que está entre os 5% com menor rendimento habitual do trabalho
R$ 28.659
é o que ganha por mês uma pessoa que está no 1% com maior rendimento habitual do trabalho
O recorte por cor ou raça
Em 2019, não houve alteração no quadro de desigualdade de renda sob a ótica da cor ou raça, que se manteve expressiva. Assim como em todos os anos desde 2012, que marca o início da série do IBGE, a população preta e a população parda receberam valores médios praticamente idênticos pelo trabalho do mês. Já a população branca, na média, recebeu consideravelmente mais.
RECORTE RACIAL
O gráfico acima mostra a evolução recente da desigualdade de renda pelo recorte da cor e raça. Em todos esses anos, uma pessoa branca recebeu, em média, entre 70% e 80% mais que uma pessoa preta ou parda em um mês. Em 2019, essa diferença significou uma renda do trabalho maior em cerca de R$ 1.300 a cada mês.
O recorte por gênero
O IBGE também mostrou nos dados como a desigualdade de renda entre homens e mulheres no Brasil aumentou em 2019 em relação a 2018. O rendimento médio mensal do trabalho de um homem em 2019 ficou praticamente estável em relação ao ano anterior, subindo de R$ 2.551 para R$ 2.555. Já o rendimento médio da mulher caiu de R$ 2.010 em 2018 para R$ 1.985 em 2019.
DESIGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES
Olhando desde 2012, a diferença entre o que ganham homens e mulheres caiu. Em 2012, um homem ganhava em média 35,8% a mais que uma mulher; em 2018, essa diferença havia caído para 26,9%. Mas em 2019, voltou a aumentar, e os homens receberam em média 28,7% a mais que as mulheres naquele ano.
Grau de instrução
A desigualdade de renda aparece também no recorte da escolaridade (ou grau de instrução) dos brasileiros. Em 2019, o rendimento mensal de quem tem ensino superior completo foi consideravelmente maior que de outros níveis de escolaridade.
DISTÂNCIA DE QUEM TEM DIPLOMA
O gráfico acima mostra o tamanho da distância entre quanto ganhou, em média, alguém com diploma de ensino superior em relação aos outros níveis de instrução. Mas essa discrepância com relação aos grupos com menor escolaridade vem caindo ao longo dos anos. Se em 2012 uma pessoa com ensino superior completo ganhava 6,4 vezes o que ganhava uma pessoa sem instrução, esse valor caiu para 5,6 em 2019.
A pesquisa mostra que, em 2019, a média do quanto recebeu quem tem fundamental completo foi maior do que a de quem não terminou o ensino médio. O dado parece contraintuitivo, mas não é uma novidade de 2019 – em todos os outros anos desde o início da série do IBGE em 2012 ocorreu o mesmo fenômeno.
A questão regional
O Brasil é um país onde há disparidades entre os rendimentos nas diferentes regiões. Nos números do IBGE, esse fenômeno apareceu nos rendimentos totais, que contabilizam a renda do trabalho e de outras fontes, tais como aposentadoria, aluguéis, pensões e benefícios como o Bolsa Família.
Segundo os números do instituto, Sudeste, Centro-Oeste e Sul mantiveram uma distância considerável nos rendimentos mensais em relação a Nordeste e Norte. Se Sul e Centro-Oeste registraram rendimentos médios mensais muito próximos de R$ 2.500, isso significou cerca de R$ 900 a mais do que a renda média no Norte e quase R$ 1.000 a mais do que a renda média no Nordeste.
DIFERENÇAS REGIONAIS
Em 2019, o rendimento médio nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste permaneceram praticamente estáveis em relação a 2018. No Nordeste, houve crescimento de 3,1% nesse período; no Norte, houve queda de 6,4% em relação ao ano anterior.
A desigualdade em 2020
Ainda não há dados que mostrem exatamente como caminha a desigualdade de renda no Brasil em 2020. Mas perspectiva para este ano é que o Brasil registre uma das piores crises econômicas de sua história – se não a pior. Isso porque a pandemia do novo coronavírus está fazendo com que as pessoas circulem menos nas ruas, afetando o consumo e levando empresas a quebrarem ou reduzirem os quadros de funcionários para permanecer de pé.
Fonte: Nexo Jornal