Duas faces de uma vitória
A série B do Campeonato Brasileiro é um campeonato surpreendente. Há alguns dias, assisti a uma live do amigo Rodrigo Disconzi, Mestre Internacional de Xadrez e especialista em apostas esportivas. Nela, Rodrigo falava sobre a imprevisibilidade da segunda divisão nacional e de como os jogos que por muitas vezes parecem estar decididos, podem mudar de rumo de uma hora pra outra. Vimos esse exemplo muito recentemente em um jogo dessa rodada do certame. No sábado (22), o Vitória, que perdia por 2×0 do CRB, fora de casa, até os 45 minutos da segunda etapa, buscou o empate marcando no último minuto do tempo regulamentar e aos 48, frustrando a torcida alagoana.
Na noite desta segunda-feira, véspera de feriado em Chapecó, a Chapecoense fez um primeiro tempo muito consistente, para não dizer impecável. Com triangulações rápidas no ataque, pressão na marcação e concentração em alta, o Verdão dominou o Guarani. É bem verdade que o time paulista tinha suas escapadas em contra-ataque, mas nada que levasse grande perigo à meta de João Ricardo. Os dois gols em dois minutos, já na parte final do primeiro tempo, foram o prêmio para um time aplicado e focado. Com 2×0 no placar, a vitória parecia tranquila e encaminhada.
No começo da segunda etapa, o Bugre teve um jogador expulso. Dois gols atrás do placar, um jogador a menos em campo. Jogo decidido, certo? Errado. Lembra da imprevisibilidade da série B? Pois é. A Chape simplesmente parou de jogar. Entendo o técnico Umberto Louzer, que provavelmente pensou em matar o jogo em um contragolpe, mas não foi o que vimos. O Guarani cresceu, se aproveitou da conivência da Chape e começou a criar oportunidades. Desencaixada na marcação, a Chape substituiu os amarelados Vini Locatelli, que fazia grande partida, e o volante Ronei.
Decisões acertadas do comandante alviverde, visto que ambos estavam auxiliando na destruição das jogadas do adversário e corriam sério risco de levarem o segundo amarelo, o que levaria os times ao equilíbrio numérico novamente. O problema foi que os substitutos não estavam em noite inspirada. Roberto, jogando pelo lado direito de ataque parecia “meio torto”, e não encaixou nenhuma jogada efetiva. Anderson Leite na marcação não teve uma grande atuação.
O Guarani tanto martelou que teve duas grandes oportunidades em duas penalidades. A primeira, muito bem defendida pelo goleiro João Ricardo, e a segunda, com a bola beijando a trave da meta alviverde catarinense. O Guarani, por tudo que produziu na segunda etapa, talvez merecesse um gol, e aqui fica o reconhecimento por ter sido um time que nunca abdicou do jogo, seja quando ainda tinha o placar igualado, ou quando esteve atrás, mesmo com um jogador a menos nas quatro linhas. A Chape fez dois tempos absolutamente distintos. No primeiro, foi um time inteligente, aplicado, rápido e mortal. No segundo, baixou a guarda, parou de jogar muito cedo, e quase desperdiçou três pontos importantíssimos.
De positivo, tivemos as atuações de João Ricardo, determinante quando pegou a primeira penalidade, e que poderia botar o time de Campinas novamente no jogo; Willian Oliveira foi um senhor volante. Esteve muito seguro, ajudou na saída de bola, nos desarmes e na ligação, fez uma partida excelente. Anselmo Ramon foi importantíssimo no ataque, tanto jogando fazendo o pivô do camisa 9 clássico como se apresentando em jogadas laterais, saindo da área e ajudando em outros setores do ataque. Menção honrosa às atuações de Luiz Otávio, que vem mantendo uma regularidade surpreendente na zaga e Vini Locatelli, que deu outra dinâmica ao meio de campo do Verdão.
De uma forma geral, podemos dizer que a Chape vai formando uma identidade, baseada em uma “espinha dorsal” de atletas fundamentais, de um grupo comprometido e maduro, mesclando a experiência de jogadores rodados com a juventude dos meninos da base, aliadas ao trabalho de Umberto Louzer, que vai “criando liga” na competição.
O Verdão segue no caminho certo, na certeza de que boas coisas podem acontecer nesse conturbado 2020.
#vamochape
Derlei Alex Florianovitz