Notas sobre as relações no contemporâneo!
Durante a semana, nas redes sociais, abri uma caixa de sugestões de temas, questionando dos interesses de leitura, diversas vezes surgiu o pedido de escrever sobre relações, sobre a importância dos vínculos, principalmente neste período pandêmico. Neste sentido, convidei meu amigo e cientista social Maico Junior Magri, para partilhar a reflexão comigo. O resultado é o que segue.
Pelo olhar da antropologia, falar sobre vínculos revela como somos criaturas humanas complexas e interessantes, afinal, a sociabilidade aliada a esse sentimento de cooperação consolidaram as bases da nossa evolução, desde o domínio do fogo até a era cibernética ou pós-moderna, como dizem os estudiosos. Criamos diferentes línguas, costumes, ritos, instituições, símbolos e identidades, que continuamente ressignificamos, e nos afirmamos através desses aspectos culturais, que transcendem somente o sentido biológico/instintivo dos outros animais como a espécie dominante no planeta terra.
Dando um salto na história e já adentrando na contemporaneidade, conhecida também por pós-modernidade, percebe-se que conviver em sociedade passou a ser um desafio cada vez mais exigente e dramático. Neste embalo, alguns estudiosos se dedicaram a olhar para essa problemática de um modo mais crítico e Zygmunt Bauman foi um deles.
O sociólogo/filósofo polonês nomeia esses novos tempos por “líquidos”, em que evidencia-se uma insegurança existencial no modo como estabelecemos nossas relações uns com os outros. Isso acaba fragilizando o nosso senso de coletividade, nos tornando seres cada vez mais individualizados, intolerantes e até certo ponto violentos com nossos semelhantes. Nunca estivemos tão conectados uns com os outros através das tecnologias, porém nunca nos sentimos tão distantes da realidade.
Neste sentido, ao que parece, há uma dimensão sociopsicológica na vida contemporânea que cria uma tendência para a formação de sujeitos narcisos. Considerando principalmente os contornos da transmissão cultural e o uso das mídias sociais. Neste nosso tempo, em que o valor imagético é imenso, acabamos por ficar mais ansiosos e quase que dependentes de aprovação para viver.
No mundo líquido, que se modifica de maneira cada vez mais rápida, dinâmica e carregada de incertezas, será que não sabemos mais cultivar vínculos sólidos e sem prazo de validade? Este certamente é um questionamento que angustia e, de alguma forma, diante do cenário atual, tomamos consciência disto, principalmente por termos entrado, como nunca antes, em contato com sentimentos de insatisfação com a vida, percebendo a existência de forma amorfa e fútil, acompanhada de sentimento de inutilidade, vazio, melancolia, oscilações na autoestima, entre outras. Isto escancara porque as relações pessoais estão tão instáveis e precárias; porque a vida interior não mais oferece qualquer refúgio ao sujeito.
Como recuperar o senso de coletividade que nos forjou como civilização? Cabe a reflexão, e o objetivo desse texto ainda não é trazer respostas, mas sim problematizar essas angústias que são urgentes, afinal, vivemos na era da dúvida, como o próprio Bauman destaca. Há algumas pistas, afinal, o que se vive e como se vive em sociedade, não é resultado de nenhuma ação de qualquer ente metafísico e, dessa forma, também independe disso qualquer mudança. Precisamos retornar ao real e ao sujeito, em busca de melhores questionamentos que sirvam de ancoradouro para nossas ações no meio.
Caloroso cumprimento e até semana que vem!
Psicóloga CRP 12/15087
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