Impactado pela pandemia do novo coronavírus, o setor de turismo de Santa Catarina vem acumulando prejuízos desde que a crise sanitária passou a afetar o Estado, em março. Sem as festas tradicionais que movimentam o segmento durante os meses de baixa temporada, empresários e entidades tentam encontrar formas de sobreviver à crise. Enquanto isso, a possibilidade de que a pandemia se estenda e prejudique também a alta temporada torna a perspectiva de recuperação ainda mais incerta.
Segundo a Agência de Desenvolvimento do Turismo de Santa Catarina (Santur), o ramo de eventos é um dos mais prejudicados. Ele incluiu festas tradicionais como a Oktoberfest, em Blumenau, a Festa Nacional do Pinhão, em Lages, e o Festival de Dança de Joinville, todos eles cancelados neste ano por conta da pandemia. O setor gera cerca de 15 mil postos de trabalho e resulta em R$ 1,5 bilhão em negócios por ano no Estado, conforme estimativa da Santur.
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O presidente do órgão, Leandro “Mané” Ferrari, avalia que o cancelamento das festas é algo extremamente negativo, mas necessário nesse momento, e afirma que a Santur tem atuado para diminuir esse impacto.
— O segmento mais impactado foi o de eventos, até porque deve ser um dos últimos a voltar na plenitude, tendo em vista que primeiro precisamos que a Covid-19 esteja sob controle. No ponto de vista econômico, o segmento do lazer ou entretenimento alcança no nosso Estado mais de 35 mil trabalhadores, e fazer com que eles possam retornar às atividades é bastante significativo — afirma Ferrari.
O presidente da Santur lembra que o segmento engloba uma série atividades e pessoas em SC:
— É um segmento que envolve e afeta de uma forma positiva não somente aquele que trabalha diretamente com o turismo, mas também demais setores ou pessoas que de forma indireta são beneficiadas com a presença do turista no Estado — completa.
Segundo cálculos da Santur, com base em dados de 2018 e 2019, cada evento de grande porte gera uma movimentação econômica média de R$ 15,3 milhões, enquanto eventos de pequeno porte representam uma movimentação média de R$ 200 mil em Santa Catarina. De modo geral, o setor turístico representa 12% do PIB do Estado. Em 2019, a arrecadação de ICMS vinculada às atividades turísticas foi de R$ 630 milhões.
— O impacto foi terrível. No nosso caso, já estávamos com todo o evento encaminhado, e tivemos que parar com boa parte dele já executada. É uma cadeia que de repente se rompe. E o mais difícil é você não ter uma perspectiva exata do que vai acontecer — comenta o presidente do Instituto Festival de Dança de Joinville, Ely Diniz.
De acordo com Diniz, o festival em Joinville atraiu 270 mil pessoas e gerou cerca de 1,3 mil empregos diretamente no ano passado. A organização não tem uma estimativa dos valores totais movimentados com o evento, mas, com o cancelamento neste ano, o prejuízo apenas para o instituto que organiza o festival já chega a R$ 800 mil.
Em Blumenau, levantamento feito pela Secretaria Municipal da Fazenda aponta que o cancelamento da Oktoberfest representa uma perda no faturamento que se aproxima dos R$ 20 milhões, somente com hotelaria, agências de turismo e guias de turismo. Em um cenário normal, a festa injeta cerca de R$ 240 milhões na cidade e gera 6 mil empregos.
Repercussão na temporada de verão no Estado
Com a pandemia fora de controle em Santa Catariana e sem uma perspectiva para o recuo da doença no momento, o presidente da Agência de Desenvolvimento do Turismo de Santa Catarina (Santur), Leandro “Mané” Ferrari, reconhece que a alta temporada de verão também pode ser afetada pela crise de saúde.
— O governo do Estado realiza uma análise diária do cenário no enfrentamento da pandemia e, como consequência, trabalhamos com a possibilidade de um impacto na temporada de verão. Esse é ainda um momento de muitas incertezas — afirma Ferrari.
Conforme dados colhidos pela Santur e pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina (Fecomércio), a movimentação econômica mínima gerada pelo turismo em SC, entre 2018 e 2020, está estimada em R$ 33 bilhões. Desse total, mais da metade, R$ 18,3 bilhões, foram movimentados somente durante a temporada de verão.
— Por isso a importância de seguirmos todos os protocolos e regramentos para que as atividades que já conhecemos possam ser retomadas de uma maneira segura. Acredito que, mais para frente, no final do ano, possamos ter uma realidade diferente e um impacto mais controlado — diz o presidente da Santur.
Para o presidente da Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Santa Catarina (Fhoresc), Estanislau Bresolin, o segmento não pode trabalhar com a ideia de que alta temporada seja afetada. Ela afirma que o cenário provocado pela crise já é de “desespero”.
— De um modo geral, todo o setor ligado ao turismo está muito impactado. E o clima é de desespero, porque você não tem eventos, que é o que mantém o turismo nessa baixa temporada – comenta Estanislau Bresolin.
No caso específico da rede hoteleira, ele afirma que a ocupação dos hotéis fechou o mês de junho com uma média de 16%. Em condições normais, a taxa média ficaria em torno de 55%.
Medidas de retomada com foco no regional
Outra medida foi designar uma equipe para trabalhar na orientação e auxílio das empresas vinculadas ao turismo na busca por recursos disponíveis no Badesc. No primeiro momento, o foco do governo do Estado para contribuir com a retomada do segmento é atuar junto ao turismo regional. Leandro Ferrari, presidente da Santur, conta que o órgão está desenvolvendo um programa de incentivo e facilidades para que o turista viaje pelo Estado, que se chamará “Viaje+SC”, ainda sem data para lançamento.
— Estão sendo realizadas ações alinhadas com o trade turístico, empresários, empresas e Instâncias de Governança Regional, as IGRs, criando uma rede de cooperação para sairmos desta situação mais unidos e fortalecidos — explica o dirigente.
Ferrari acrescenta que o órgão elaborou manuais com orientações para diferentes segmentos e áreas de atuação do turismo, entre eles restaurantes, hotéis, parques, guias e excursões, pontos turísticos, atividades ao ar livre e eventos drive-in.
— Desta maneira, com segurança, essas atividades estão retornando e movimentando a nossa economia — pontua Ferrari.
Fonte: NSC