Coluna | Não é Só Futebol
Não foi fácil. Mas para a Chape, nunca é. Eu sei, o bordão já está surrado, desgastado de tanto ser usado, mas é impossível não recorrer a ele em jogos como o desta quarta-feira. A Chapecoense construiu sua classificação à quinta final consecutiva de Campeonato Catarinense de uma forma desnecessariamente sofrida e angustiante. O enredo para a eliminação frente ao Criciúma parecia desenhado desde o jogo de ida, em Chapecó. Após o incrível gol perdido por Alan Sebastião no último minuto daquele embate, ficamos com a impressão que aquele poderia ser um lance crucial para determinar a desclassificação do Verdão.
Nesta quarta, em Criciúma, o Verdão entrou apagado, desatento em campo, lembrando o confronto frente ao Avaí, na Ressacada. A diferença porém, é que levamos o gol mais cedo ainda. Transcorridos apenas 4 minutos de partida, o Tigre acabava com a vantagem da Chape, e tínhamos um jogo aberto novamente. Diferentemente da partida das quartas-de-final, a Chapecoense não conseguiu reagir na partida. Seguiu com nervosismo e desatenção em campo, e só não sofreu mais devido a falta de qualidade técnica do Criciúma no setor ofensivo.
Umberto Louzer, tão elogiado pela imprensa chapecoense, de um modo geral, hoje fez seu pior jogo no comando do Verdão. A escalação de Derlan na lateral esquerda, substituindo o suspenso Alan Ruschel, já foi de cara, altamente questionável. Derlan é zagueiro, e durante todo o decorrer da partida, percebemos sua falta de intimidade com a posição, e a limitação técnica para o apoio no ataque. Obviamente que, de longe, não sabemos as condições reais de jogo de Roberto, lateral de origem, que estava no banco de reservas, porém, pressupõe-se que se um atleta está disponível entre os suplentes, logo tem a possibilidade de estar dentro das quatro linhas. De qualquer forma, Louzer tinha a opção de utilizar Matheus Ribeiro no lado esquerdo de defesa do Verdão, o que abriria mais uma vaga na meia cancha; Mas não, preferiu improvisar, e tivemos que ver o zagueiro sofrendo por 90 minutos jogando fora de sua posição. Na primeira função de volante, Guedes esteve bem apagado, e saiu cedo, sentindo uma lesão (Ronei, de mesma característica, o substituiu). Já falei isso anteriormente, e repito: Guedes é muito bom na destruição de jogadas, mas falta qualidade no passe. Hoje, vimos mais uma vez os zagueiros Joilson e Luiz Otávio tentando ligações diretas ao ataque, por falta de opção de construção pelo meio. Talvez o substituto ideal para a posição de Guedes seja Lima, que marca (não tão bem como o primeiro), mas tem a qualidade técnica para iniciar as jogadas do meio para frente. É de se pensar nessa possibilidade.
As alterações do comandante alviverde até fizeram sentido, mas foram efetuadas tarde demais. Foguinho e Anselmo Ramon entraram muito bem e criaram algumas oportunidades ofensivas nos poucos minutos que estiveram em campo. Talvez a opção pela saída de Denner para a entrada de Foguinho tenha sido errônea, visto que os dois juntos poderiam criar problemas para a defesa do Tigre. Mais uma vez, a questão do cansaço pode ter pesado na decisão. Lima e Alan não comprometeram, mas é bem verdade que não diferiram muito dos atletas que deixaram o gramado. O jogo se arrastou com os dois times errando muito, criando pouco. Sem inspiração, transpirando em busca do apito final. Curiosamente, parece que até o árbitro Rafael Traci estava impaciente para apitar o final da partida, tanto que deu somente dois minutos de acréscimo na segunda etapa.
Pois bem, após muita angústia vendo um jogo tecnicamente muito fraco, chegamos à disputa de pênaltis. Aí eu deixo a critério do leitor a discussão eterna a respeito da famosa pergunta: Pênalti é sorte ou competência?
A Chape começou da pior maneira possível, perdendo uma cobrança (com Ezequiel), e sofrendo o primeiro gol. Nesse momento o torcedor do Verdão já pensava no pior cenário e tanto o batedor, como o camisa 72 da equipe do oeste, se preparavam para uma noite mal dormida (afinal o segundo perdeu uma oportunidade de ouro no jogo de ida para “matar” o confronto). Foi nesse instante que outra velha máxima do futebol se aplicou perfeitamente a essa partida de semifinal do Catarinense. Normalmente, diz-se que quando um jogador faz um ótimo jogo no tempo normal, acaba errando quando chega a hora das penalidades. E foi exatamente o que aconteceu com o capitão Foguinho (do Criciúma). Talvez o volante carvoeiro tenha sido o melhor jogador em campo, mas perdeu a segunda cobrança do Tigre, acertando o rosto do goleiro João Ricardo. Foi a segunda bolada na face que o arqueiro alviverde levou na noite (talvez o que faltou aos seus companheiros de equipe para jogarem mais ligados). O embate estava novamente igualado, e na cobrança seguinte do Criciúma a bola tocou o travessão e quicou no chão, a aproximadamente 2 metros da linha do gol (fosse Bráulio da Silva Machado no apito, a torcida da Chape poderia se preocupar com a validação do gol). Felizmente a partir desse momento os atletas alviverdes confirmaram suas cobranças, com frieza e precisão, há de se ressaltar, e a Chape alcançou a classificação à final do estadual.
Agora, o Verdão enfrenta – se houver final – o Brusque no confronto decisivo do Catarinense. Após 28 anos ausente de uma decisão, o Bruscão chega novamente à disputa do caneco do Estado de Santa Catarina. Acredito que a equipe do Vale do Itajaí chega com um leve favoritismo à final, visto que fez uma campanha consistente na primeira fase e passou com autoridade por Joinville e Juventus, nas fases anteriores de mata-mata. Por outro lado, o Verdão cresceu na reta final da competição. Poucos imaginavam que a Chape, classificada na “bacia das almas”, estaria presente nesta decisão. Para mais 180 minutos de emoção, haja coração!
Derlei Florianovitz