O Fasano aderiu ao delivery no dia 25 de março e parece ter tomado gosto pela coisa. Ou pelo menos a JHSF, que detém a maior fatia do grupo encabeçado pelo restaurateur Rogério Fasano. Sem alarde, a incorporadora anunciou o lançamento de seu próprio aplicativo de delivery, o CJ Food, no dia 12 de junho. A plataforma não quer se restringir às próprias marcas gastronômicas — Fasano, Parigi, Gero, Nonno Ruggero e por aí vai, num total de 26 operações. Também quer atender os restaurantes e bares concorrentes, desde que do mesmo patamar que os controlados pela JHSF, e desafiar o reinado dos apps mais conhecidos como iFood e Uber Eats.
Muitos restaurantes de alto padrão torcem o nariz para o delivery e não aderem a ele não por considerá-lo uma afronta à alta gastronomia — e sim pela dificuldade de executar as entregas por conta própria e pela avaliação negativa que fazem do serviço ofertado pelos grandes aplicativos. Reclamam, por exemplo, da velocidade com que os entregadores do iFood e companhia chegam até a casa dos clientes, comprometendo a apresentação de receitas cuidadosamente elaboradas. Algumas casas, por outro lado, se sentem constrangidas de figurar nas mesmas plataformas em que reinam os maiores símbolos do fast food, a exemplo das redes Mcdonald’s e Habib’s. Cujos preços — eis outro ponto — não encontram paralelo no cardápio de um Fasano ou de um Gero. Por fim, questiona-se se o público alvo de endereços como estes dois é o mesmo dos aplicativos mais conhecidos.
O caso de Tsuyoshi Murakami é ilustrativo. Desde o fim do ano passado à frente do próprio restaurante, batizado com seu sobrenome, o ex-mandachuva do Kinoshita foi um dos chefs que se viram obrigados a se render ao delivery durante a quarentena. Para entregar seus sashimis e sukiyakis, que mudam a cada dia, ele recorreu à plataforma Loggi. Insatisfeito com a forma com que as receitas chegaram até a casa do clientes, mudou de ideia e passou a vender suas iguarias para viagem apenas para quem se dispor a retirá-las. Já o sushiman Jun Sakamoto resolveu cuidar das entregas de seu principal restaurante pessoalmente, ao volante do próprio do carro — tudo para garantir que sua comida seja recebida da maneira que julga correta.
O Fasano debutou no delivery com a própria operação de entrega. Em abril saiu do forno o delivery da mais nova rede da família, o Gero Panini, cujas receitas também podem ser solicitadas por meio do iFood — outra casa do grupo listada neste aplicativo é o Gero. Na última semana de julho, a JHSF anunciou que as vendas realizadas por meio dos canais digitais da empresa alcançaram 94,9 milhões de reais no primeiro semestre de 2020. No mesmo período do ano anterior foram 53 milhões de reais. De janeiro a junho, os pedidos de delivery do Fasano aumentaram 59 vezes.
Com o CJ Food, disponível para Android e iOS, a JHSF pretende multiplicar os ganhos com a entrega de sua gastronomia e, de quebra, faturar com o delivery de casas similares como o italiano Due Cuochi — não se sabe se concorrentes diretos serão aceitos. O aplicativo está em fase de testes na região da Fazenda Boa Vista, o badalado condomínio da incorporadora, no qual funciona o primeiro hotel de campo do grupo. Contempla, atualmente, o restaurante deste último, as receitas do japonês Geiko San e os congelados do Buffet Charlô.
A meta é expandir o CJ Food para todas as capitais do Brasil que dispõem de um hotel Fasano — São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador — e abocanhar uma fatia hoje à mercê do iFood, do Uber Eats, do Rappi e de novidades como a plataforma Delivery Direto — para não falar dos estabelecimentos que ainda não se sentiram encorajados a aderir ao serviço de entrega. Procurada pela Exame, a JHSF se negou a detalhar os diferenciais do aplicativo, alegando que ainda é cedo para se manifestar sobre ele — com capital aberto, a companhia anunciou a novidade apenas porque é obrigada a comunicar cada grande passo aos acionistas.
Fonte: Exame