Coluna | Não é só Futebol
Vamos fazer uma viagem no tempo? Não se apavore querido leitor, pois não vou levar você ao saudosismo dos Brasileirões dos anos 90, mas para uma época bem posterior a essa. No dia 15/03/2020, a Chapecoense fazia um confronto direto como o Tubarão, no estádio Domingo Gonzalez. Com a vitória por 3×1, fora de casa, o Verdão alcançou a oitava posição na tabela do Campeonato Catarinense. Por outro lado, o Brusque poupava sua equipe na capital, enfrentando o Figueirense. Com a derrota por 1×0, a equipe sensação do certame terminava a primeira fase na segunda colocação, pois em Concórdia, o Avaí havia empatado no apagar das luzes contra a equipe oestina.
Aí veio a pandemia. E com ela todas as incertezas a respeito da continuidade do Campeonato. Confesso que minha opinião segue sendo a mesma; a atitude mais correta seria o encerramento da competição sem campeão e sem rebaixado. Porém, devido a motivos diversos, como birras de dirigentes, direitos televisivos e testes de COVID, foi optado pela continuidade do certame. Nesse meio tempo, muitos oportunistas cogitaram o encerramento da competição “decretando” o Avaí como campeão “legítimo”, pois havia feito a melhor campanha na primeira fase.
Este que vos fala é um grande defensor dos pontos corridos. Veja o Campeonato Brasileiro, por exemplo, que conta com a fórmula “ideal”, pois premia a constância dos times, levando o mais regular ao título (embora esse pensamento esteja sendo revisto devido à disparidade financeira entre as equipes). Porém, o âmbito do futebol estadual nos traz a beleza da fórmula dos mata-matas. Vejam só a classificação após a primeira fase:
Classificação | P | J | V | E | D | GP | GS | SG | CA | CV |
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1° | AVAÍ | 17 | 9 | 5 | 2 | 2 | 12 | 6 | 6 | 33 | 0 |
2° | BRUSQUE | 17 | 9 | 5 | 2 | 2 | 13 | 9 | 4 | 25 | 1 |
3° | FIGUEIRENSE | 15 | 9 | 4 | 3 | 2 | 8 | 5 | 3 | 23 | 4 |
4° | MARCÍLIO DIAS | 15 | 9 | 4 | 3 | 2 | 9 | 9 | 0 | 24 | 3 |
5° | CRICIÚMA | 13 | 9 | 3 | 4 | 2 | 9 | 9 | 0 | 26 | 1 |
6° | JUVENTUS | 11 | 9 | 3 | 2 | 4 | 10 | 10 | 0 | 26 | 1 |
7° | JOINVILLE | 10 | 9 | 3 | 1 | 5 | 13 | 17 | -4 | 29 | 4 |
8° | CHAPECOENSE | 10 | 9 | 2 | 4 | 3 | 8 | 6 | 2 | 26 | 3 |
9° | CONCÓRDIA | 7 | 9 | 1 | 4 | 4 | 10 | 12 | -2 | 24 | 3 |
10° | TUBARÃO | 6 | 9 | 1 | 3 | 5 | 5 | 14 | -9 | 28 | 0 |
Os Confrontos estavam definidos. O primeiro enfrentando o oitavo, o segundo o sétimo, o terceiro o sexto, e o quarto, enfrentando o quinto colocado. Após o final das quartas-de-final da competição, classificaram-se o segundo, o quinto, o sexto e o oitavo para as semifinais. Ou seja, não fosse essa fórmula, o quadro final seria totalmente diferente. É inegável que o mata-mata é uma fórmula muito mais emocionante e que gera uma nova chance, um novo gás para todos (quem aqui não lembra do triste jogo entre Chape e CSA no final de 2019, com ambas as equipes já rebaixadas no Brasileirão de pontos corridos?).
Pois bem, sigo achando que o grande favorito é o Brusque, que fez grande primeira fase e eliminou o Joinville com certa facilidade nessa fase recém finalizada da competição. Óbvio que contra o Juventus, todo cuidado é pouco (o Figueira que o diga), mas o “Bruscão” tem tudo para chegar à final do Estadual. Do outro lado, temos um “clássico do interior”, talvez o maior deles (se os manezinhos nos permitem chamar de clássico um jogo entre equipes que não sejam da mesma cidade, obviamente). Aposto em um leve favoritismo da Chape, pois mesmo terminando em uma posição pior na primeira fase, vive um grande momento.
Comentarista de Resultado
Sobre o jogo entre Chape e Avaí, confesso que meu comentário hoje possa parecer bastante raso. Houve bastante dificuldade para acompanhar o embate via a transmissão por streaming. Não sei se minha internet dificultou as coisas, mas percebi diversas reclamações nas redes sociais. Consegui ver bem a primeira etapa. A Chape começou mal, desnorteada em campo, errando muito. Avaí fez o gol em um momento em que realmente mereceu estar vencendo. Porém, aproveitando a lentidão da meia cancha avaiana e os vários espaços na defesa adversária, a Chape conseguiu empatar com certa brevidade, mostrando muita força mental para reagir ao momento adverso na Ressacada. Mostra a maturidade do grupo.
Após o empate, o Verdão voltou aos trilhos. Conseguiu dominar a partida, botou a bola no chão, jogou com tranquilidade, sem afobação, e só não foi para o intervalo à frente do placar por falta de capricho ou sorte. Fato é que após o gol de Aylon, a Chape não correu grandes riscos.
Não consegui acompanhar a segunda etapa na tela, somente de ouvido na rádio. Como todo jogo decisivo, me parece que houveram chances de ambos os lados, mas o resultado acabou sendo justo. A Chape segue viva no Catarinense 2020.
Os méritos de Louzer
Umberto Louzer talvez seja o grande destaque da Chape até aqui. Chegou sob a desconfiança de todos na imprensa chapecoense. Não, não houve um periodista sequer que “bancou” a chegada do treinador. Óbvio que todos torcíamos pelo melhor desempenho do técnico, mas poucos conheciam o que ele seria capaz de fazer pelo Verdão, especialmente após a grande decepção que tivemos com o trabalho de Hemerson Maria, que não conseguiu fazer esse grupo render.
Méritos para as ideias de Louzer, taticamente falando, e méritos na recuperação de jogadores que estavam sob a desconfiança do torcedor, aliado às oportunidades dadas aos jovens talentos da base. Estamos no caminho certo.
#VamosChape
Derlei Florianovitz