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Vacinação infantil: especialista alerta para os cuidados em tempos de pandemia

Em época de pandemia e de tantas dúvidas sobre o futuro, uma coisa parece certa: as interrogações do momento pairam também sobre os cuidados com a vacinação infantil. “Imunizar agora ou adiar para quando as chances de infecção por coronavírus forem menores?”, “quais os problemas associados a uma eventual prorrogação?”, “como se prevenir de uma contaminação por covid-19 nas unidades de saúde?”, “sair de casa ou aderir à vacinação domiciliar?” estão entre as perguntas que podem tirar o sono de pacientes e suas famílias a respeito do tema.

Com o objetivo de sanar dúvidas sobre o assunto e esclarecer a população, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a Sociedade Brasileira de Pediatria e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) produziram uma cartilha  que ilumina as questões relacionadas ao tema e orienta pacientes, familiares, profissionais e gestores de saúde.

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Em um papo didático e esclarecedor, a vice-presidente da SBIm, Isabella Ballalai, conversou com o Brasil de Fato sobre o assunto e trouxe uma série de orientações que podem ajudar a acalmar as preocupações da população. Confira a seguir as dicas da profissional.

Brasil de Fato: Em primeiro plano, o que se deve fazer, por exemplo, com a vacinação de rotina no meio de uma situação como esta que a gente vive? Vacinas pra crianças menores de 5 anos, gestantes, grupos de risco podem ser deixadas pra depois?

Na realidade, nenhuma vacina pode ser deixada pra depois. Além das crianças, que, sem dúvida, são o grupo-alvo mais importante das imunizações, com mais vacinas a receber, adolescentes, gestantes, adultos, idosos, pessoas com doenças crônicas precisam ser vacinados. As doenças infecciosas não se limitam à infância. Todos esses grupos precisam manter a rotina e para cada grupo desses existe um calendário. Nossa cartilha busca alertar a todos, tanto a população quanto os profissionais de saúde, sobre os riscos das baixas coberturas. As pessoas não estão indo se vacinar e não estão levando suas crianças pra vacinar. O sarampo, por exemplo, só neste ano já teve mais de 4 mil, quase 5 mil casos durante a covid-19. A covid não está sozinha. As outras doenças infecciosas – e não só as infecciosas – continuam acontecendo, como sempre aconteceram, apesar de não estarem na mídia, como a covid, que se tornou, claro, a maior atenção de todas. Então, vacinar é rotina pra todos os grupos de que falei.

Os dados mostram que, no mundo, nós já temos 24 países que adiaram a campanha de vacinação contra o sarampo, por exemplo. No Brasil, a gente tem essa imunização em vigor. Se a gente não atingir uma boa cobertura por conta de um eventual adiamento das famílias, por conta do receio de sair de casa, o país pode retroceder nas conquistas que já foram obtidas em relação à doença?

Sem dúvida nenhuma. Se as nossas coberturas já vinham caindo, com a pandemia, as pessoas estão com um medo, natural, de sair de casa, inclusive são orientadas a não saírem. Mas é preciso entender que a vacinação pode acontecer de forma segura, como você vai a um supermercado ou a uma farmácia porque tem que ir, com toda segurança. Se a gente não tiver coberturas vacinais, se as nossas coberturas baixarem ainda mais, a gente pode ter de volta a poliomelite, a difteria, doenças que quem tem menos de 30 anos de formado, quando se fala em profissionais de saúde, nunca viu, doenças que os pais das nossas crianças de hoje nunca viram por causa da vacinação. Essa perda de percepção do risco pra essas doenças faz com que as pessoas muitas vezes relaxem em relação à vacinação. E as campanhas não vão acontecer neste momento, que não é momento de campanha, exceto a da gripe, que a gente já fez. É momento de vacinação de rotina, sem aglomeração. Mas, sem essa vacinação de rotina, podemos ter doenças graves de volta, como já temos o sarampo.

A febre amarela também preocupa, por exemplo? Eu vi que, até meio deste ano, 56 municípios brasileiros estavam afetados pela doença…

O Ministério da Saúde definiu que no Brasil todo, em todo o território, não há nenhum município que não seja considerado de risco para febre amarela. Então, a vacinação rotineira contra a febre amarela – pra crianças, adolescentes, adultos, enfim – deve ocorrer em todo o Brasil. Não é uma vacina pra viajar nem uma vacina de surto. De uns tempos pra cá, a gente vê as pessoas buscando intensivamente a vacinação quando há relatos de surto. Você tem razão. Temos casos de febre amarela este ano, a quase totalidade no Sul do país, mas a gente consegue ver que, na próxima sazonalidade, que começa agora em junho, não vai acontecer em outros municípios, outros estados, outra região brasileira. O fato é: pra não termos surto de febre amarela, nossa população precisa estar 100% vacinada.

E como a população, as famílias podem fazer para se prevenir do coronavírus no caso de precisarem sair de casa pra ir a uma clínica ou outra unidade de saúde em busca de vacinação?

É preciso sair de casa para se vacinar. É uma necessidade fundamental e um serviço essencial para a população. [Isso] pode ser [feito] com segurança. A segurança implica o uso de máscaras desde que se sai de casa até voltar, levar consigo o álcool em gel pra higienizar as mãos. É um fato que crianças de menos de 2 anos não podem usar máscara. Eu vejo muitas mães preocupadas… “Como é que eu vou sair com meu filho, com meu bebê sem máscara?”. Se você mantiver os 2 metros de distanciamento em todo o seu percurso, desde sair de casa, pegar o elevador até chegar ao centro de vacinação, o seu bebê, no colo, está protegido. E a proteção pro seu filho também é a higienização das suas mãos. Evite tocar onde não precisa. As salas de vacinação estão buscando manter portas abertas pra evitar pegar na maçaneta, o distanciamento sem aglomeração, marcações para as filas… Filas de verdade ninguém espera, mas que tenham 5, 6 famílias e que essas famílias fiquem distanciadas a cada 2 metros. Se você chegar ao serviço e encontrar aglomerações, aí, sim, você deve voltar pra casa e buscar esse serviço em outro momento.

E se a família e o paciente tiverem a opção de escolher um local de vacinação, o que se deve considerar?

Na nossa cartilha, a gente também pensou nisso, orientando as pessoas que busquem o serviço mais próximo da sua casa, evitando pegar transporte público e se opor. Vá a pé, vá de máscara, leve seu álcool em gel e mantenha o distanciamento adequado.

Tem alguns cuidados que as unidades de saúde precisam ter também neste momento? Há alguma recomendação adicional que vocês da Sociedade Brasileira de Imunizações fazem pra isso?

Isso vai desde o gerenciamento do município, de pensar em alternativas – muitas vezes, como eu falei, vá num serviço perto. A gente tem mais de 34 salas de vacinação pública no país, mas também temos localidades onde não tem um serviço logo ali do lado. Então, os municípios devem buscar levar a vacinação pra essas regiões afastadas. Durante a campanha da influenza, municípios fizeram vacinação em drive-thru. Serviços, postos de vacinação… Se eles não têm um espaço, é buscar a vacinação rotineira pra ambientes que estejam fechados, dependendo do município no Brasil, porque ainda tem algumas atividades fechadas. É usar a criatividade dentro de cada município e, no serviço [de vacinação], organizar, sinalizar, pra que não haja aglomeração, pra que o distanciamento seja adequado. E uma outra orientação, que serve pra população e pros profissionais de saúde, é que quem está com sintoma gripal, febre ou diarreia não deve buscar vacinação. Não porque não possa ser vacinado, mas porque esse pode ser um caso suspeito da covid. Enquanto isso não for definido, essa pessoa não deve sair de casa, exceto pra procurar assistência médica.

Dra. Isabella, o que o paciente ou a família dele devem observar na conduta dos profissionais de saúde quando vão levar um ente querido pra vacinação? Há algum alerta em relação a isso?

O principal alerta, tanto pro profissional quanto pra população, é não sair, não buscar o serviço se tiver com algum sintoma, inclusive nós fizemos cartazes lembrando as pessoas disso.  O serviço de vacinação recebe pessoas saudáveis, e os próprios profissionais locais vão estar avaliando e perguntando se teve algum sintoma, alguma situação, e essa pessoa vai precisar voltar numa outra hora.  Então, é evitar sair de casa se estiver com algum sintoma que possa ser considerado suspeita da covid.

Em relação à proteção do paciente e do profissional de saúde, diferentemente do que todo mundo imagina, que o uso de luvas deve ser obrigatório, não. O uso de luvas, inclusive, não é recomendado. Ele não protege da covid. O que protege, claro, é se você não está atendendo um paciente doente. É diferente, mas, para vacinar, o que precisa é que a lavagem das mãos ou a higienização com álcool em gel seja repetida a cada movimento desse profissional da saúde.

A roupa que esses profissionais devem usar é o jaleco normal. Na sala de vacinação, não estamos num ambiente de risco especial pra covid. O profissional da saúde usa máscaras cirúrgicas, a população usa máscara caseira. Essa é a recomendação. É isso. Não há necessidade de, sei lá, tenho visto tantas coisas… Tapetes higienizadores, por exemplo. A covid é transmitida por via respiratória. Por mais que se tenham dados mostrando que o vírus pode estar no chão, pra você se infectar, você teria que colocar suas mãos no chão. Então, não é preciso se preocupar com sapatos, essas coisas. Esse material todo está no site da Sociedade Brasileira de Imunizações.

Uma última dúvida: é possível se vacinar em casa, se esse for o caso? E, se for possível, quando se deve recorrer a essa modalidade de imunização?      

Durante a campanha da influenza, principalmente na etapa dos idosos, em alguns municípios [os profissionais] foram aos domicílios. Essa decisão pode ser tanto da secretaria municipal de saúde, como eu dei o exemplo de quem mora muito longe… É a vacinação domiciliar e é uma boa estratégia. Em relação à escolha da família de receber [a vacina] na rede privada, sim, é uma escolha e os cuidados de segurança também devem ser respeitados [assim] como na unidade de saúde.

 

Fonte: Brasil de Fato

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