O mundo para o qual estamos voltando conforme saímos aos poucos do isolamento da pandemia – nos lugares onde isso já é possível – é muito diferente e mais socialmente confuso do que era antes. Estamos acostumados a abraços, apertos de mão fortes e reuniões com muita gente, o que significa que nosso novo estilo de vida preocupado com a segurança tende a ficar um pouco estranho.
Pedimos a dois especialistas em etiqueta – Lisa Grotts, do site The Golden Rules Girl e Jodi RR Smith, fundadora da Mannersmith Etiquette Consulting – algumas dicas sobre como navegar em algumas das situações sociais mais comuns que enfrentaremos em nossa nova realidade pandêmica.
Um estranho chega muito perto no supermercado
Mantenha a cabeça fria: Você está fazendo compras e alguém quer pegar a mesma lata que você ou está respirando perto da sua nuca na fila do caixa. Talvez nem estejam de máscara! Seja o que for que você faça, não deixe que um comentário mais áspero ou um olhar frio piorem a situação. “Como é impossível evitar as pessoas, você às vezes terá de ser o único a manter distância. Se alguém está chegando perto, ceda e se afaste”, aconselha Lisa Grotts. “É como aquela frase famosa do filme ‘Jerry Maguire’: Ajude-me a ajudar você.”
Não presuma uma má intenção: “Essa pessoa pode ter ficado acordada a noite toda preocupada, e está apenas pensando em comprar o leite para os filhos e ir embora logo”, diz Jodi Smith.
Tente usar um pouco de ingenuidade: Se você está preso em um lugar onde não pode se mover muito, como na fila ou em um espaço pequeno, a consultora sugere usar um pouco de leviandade. “Você pode falar algo assim: ‘Com todo esse distanciamento social, eu nem sei mais o que é um metro e meio!’ Algo que traga consciência com gentileza”.
Um amigo começa a acreditar numa teoria da conspiração sobre o coronavírus
Faça alguma coisa, mas não insista: Algumas teorias sobre a pandemia são inofensivas para discutir e debater, mesmo que você não acredite nelas. Se a conversa estiver vazia (mas irritante), mude de assunto com uma pergunta ou uma história agradável. Porém, se alguém continua mostrando uma linha de pensamento problemática, prejudicial ou simplesmente errada, Jodi Smith aconselha não ficar quieto. Mas preste atenção em como e quando você chama atenção de alguém.
“Acho que você não deve deixar algo problemático sem solução, mas tente ser cauteloso ao abordar o tema e depois mude de assunto”, diz. Tente algo que permita que seu amigo saiba que você gosta dele, como “Se eu não te conhecesse tão bem, diria que você estava sendo racista. Esse não é você.” E depois mude o rume do conversa.
Redirecione: Por que não deixar passar? “Na etiqueta das conversas, o mais importante é reconhecer o que está acontecendo”, explica Lisa Grotts. “Reconhecer o rumo da conversa e depois redirecionar esse rumo educadamente.”
Um conhecido tenta dar um aperto de mão
Use suas palavras – e linguagem corporal: Na cultura norte-americana, recusar um aperto de mão é o auge da grosseria. Se você está encarando uma saudação indesejada, a linguagem corporal pode ajudar bastante na comunicação de suas intenções, e as palavras podem transmitir tanto calor quanto o toque físico.
“Coloco minhas as minhas mãos na frente, como um sinal de parada, na altura dos ombros, sem afastá-las”, diz Jodi Smith. “E falo: ‘Estou muito feliz em te ver.’ A chave aqui não está nas palavras, mas no tom de voz, expressando carinho através do tom de voz”.
Um pouco de humor pode ser de grande ajuda: “Você pode explicar de um jeito bondoso”, afirmou Lisa Grotts. “Dizer algo como ‘Nossa, eu queria tanto poder apertar sua mão!’ é uma boa maneira de lembrar às pessoas que o gesto não é aceito no momento”.
A conversa entre amigos parece se concentrar em uma coisa só: a pandemia
Você não pode evitar a conversa, então faça o melhor que puder: Você já teve o trabalho de organizar um pequeno encontro ou, milagrosamente, fazer com que o Zoom de todos funcione ao mesmo tempo. Por que perder tempo falando sobre a pandemia sem parar?
“É difícil evitar, mas existem maneiras de tornar a conversa mais pessoal e positiva”, diz Grotts. “Treina as habilidades de conversação, fazendo perguntas que tenham uma resposta aberta. Pergunte como as pessoas estão. Sim, sabemos que tudo é triste e sombrio, mas pergunte como as pessoas planejam passar o verão sem viajar ou o que elas ansiando no momento. A vida pode nunca mais ser a mesma, mas ainda podemos fazer planos e conversar sobre o futuro”.
Você está tendo uma pequena reunião, mas quer deixar claras as regras de distanciamento social
Sua casa, suas regras – mas de forma agradável: É tentador deixar o distanciamento social um pouco relaxado, e você não quer ser o chato do dia, lembrando a todos que estão em sua bolha pessoal. Mas, às vezes você precisa ser. Basta seguir uma das regras de ouro da etiqueta: Faça isso com delicadeza. “É o seu evento. Você é o anfitrião. Você decide. Mas defina as expectativas com antecedência”, aconselha Smith.
Explique os motivos: Se as pessoas estiverem dando trabalho, explique os motivos das precauções – diga algo mais geral como: “Parece que muitas pessoas estão testando positivo ultimamente”, ou um lembrete gentil de um amigo ou familiar mais vulnerável. Como lembra Smith, isso também impedirá as pessoas de sentirem que não são confiáveis ou estão sendo acusadas de algo.
Um entregador ou vizinho tenta entregar algo a você
Dê as instruções exatas: Alguém precisa inventar alguma mágica para a entrega de pacotes ou troca de mercadorias entre vizinhos, pois esse ato nunca foi tão coreografado como agora.
“Você pode narrar o que quer que aconteça”, afirma Smith. ‘Diga, ‘Ah, que ótimo. Coloque a caixa lá embaixo e eu vou pegar’. Assuma o controle. Forneça o máximo de informações possível para que as pessoas conheçam as expectativas”. Isso é conhecido como “etiqueta preventiva” e pode ajudar em muitas situações em que regras não ditas normalmente de repente não se aplicam. A ideia é fornecer o máximo de informações a alguém, através de palavras, gestos ou mesmo correspondência preliminar, para evitar uma situação embaraçosa antes mesmo de começar.
Você foi convidado para um casamento ou outra reunião e deseja usar uma máscara
Use-a!: Não, ninguém quer fotos de máscaras no casamento ou na grande festa. Mas ninguém quer uma pandemia também, e é isso que temos. Portanto, não se sinta mal por usar uma máscara.
“Segurança em primeiro lugar. Simples assim”, pontua Grotts. “Talvez você possa usar uma máscara chique. Não acho que isso seria um problema. Isso vai durar um tempo, e uma máscara é apenas outra precaução.” Forneça: Na verdade, os anfitrões devem considerar o fornecimento de máscaras, se puderem.
“Se você estiver realizando um evento especial, deve obter máscaras e avisar aos convidados, normalizando a prática e lembrando-as de que elas estarão presentes no seu encontro”, conta Smith.
Seu filho é convidado para uma reunião e você quer perguntar que tipo de medidas de distanciamento social serão adotadas
Faça dessa uma questão sobre as necessidades das crianças, não o comportamento delas: Pode ser difícil indagar sobre medidas de segurança sem fazer com que outros pais se sintam acusados – ou que de alguma forma tenham sido julgados. Reduza o risco de magoar alguém, fazendo suas solicitações como se elas fossem uma questão importante para você e sua família, e não sobre o que os outros deveriam fazer.
“Você nem sempre pode impedir as pessoas de se sentirem ofendidas, mas pode tratar o tema de uma maneira gentil”, diz Grotts. “Estamos confiando as nossas vidas aos outros. Claro que isso deixa as pessoas apreensivas. Então faça uma piada, fale sobre você. Diga: ‘Você sabe como eu sou tensa, né?’ ou ‘Você sabe que eu me preocupo com essas coisas, então é claro que preciso perguntar’. Esteja no controle de sua própria saúde, e isso não é da conta de ninguém. ”
Seus amigos e familiares acham que você se preocupa demais com o coronavírus
Concorde: Você pode ser um super-herói que veste máscara, faz distanciamento social e evita o coronavírus, mas isso não significa que todo mundo é assim. Esteja preparado para um ou dois comentários de amigos que não o veem da maneira que você vê, mas não aceite isso como um convite para briga. Isso raramente termina bem.
“Se alguém diz que acha que você está levando as medidas de segurança a sério demais, concorde com ela, oras!”, brinca Smith. “Diga: ‘Sim, estou mesmo. Você pode rir de mim o quanto quiser, mas é isso que estou fazendo para me manter seguro. Em muitas artes marciais, você usa a velocidade da outra pessoa a seu favor. Em vez de bloquear os movimentos, você vai na mesma direção. É o mesmo com etiqueta. ”
Aqui está o principal: Nunca ficou tão claro por que é tão importante mostrar que você se importa com os outros. A etiqueta, acredite ou não, existe para o mesmo propósito.
Veja este trecho do Manual de Etiqueta de Barbara Cartland:
“Não é realmente importante saber a maneira correta de abordar um arcebispo, se um bolo deve ser comido com os dedos ou um garfo… Mas é importante cultivar a capacidade de fundir-se com o padrão de nossos semelhantes sem estragar suas sensibilidades”, escreveu.
Essa é uma tarefa difícil, especialmente quando muitas de nossas sensibilidades já foram viradas de cabeça para baixo.
Mas, com um pouco de gentileza e uma ou duas palavras cuidadosamente escolhidas, podemos avançar juntos.
Sem precisar dar apertos de mão.
Fonte: CNN Brasil