Recebo, cotidianamente, uma quantidade considerável de memes divertidos sobre a terapia e seus processos. Desde aqueles em que o psicólogo sugere ao paciente que deve afastar-se do que não lhe faz bem e o paciente, na imagem, está separando a alma do corpo para poder afastar-se de si mesmo. Até aqueles em que o psicólogo trabalha duro para alinhar a vida de seu cliente e a família dele, rapidamente, consegue destruir tudo. É evidente que os memes lançam mão de uma simplificação da realidade – e nem sempre correspondem à realidade – para comunicar algo de forma divertida e rápida. No entanto, alguns conseguem ser bastante oportunos, a exemplo de um que me foi enviado por uma paciente há alguns dias. O meme trata de uma mulher, reclamando aos céus, que fez terapia por dois meses e não resolveu de nada. Um anjo desce e lhe entrega um pedaço de papel em que está escrito: Terapia não é miojo.
É, terapia não é miojo! E provocar o entendimento disso é um dos maiores desafios da clínica na atualidade. Em outros tempos, sentíamos dificuldades em relação ao reconhecimento dos sujeitos quanto a necessidade de cuidar de si na dimensão emocional, psicológica, sentimental, vivencial e mental. Havia – ainda há, porém reduzido – um preconceito quanto a psicoterapia. Hoje, em que a grande maioria já é capaz de reconhecer quando é chegada a hora de ir para terapia, existe uma pressa pelo término, pela resolução de problemas, pelo alívio de sintomas e pela “evolução” enquanto sujeito.
Terapia é um processo. Um processo moroso, doloroso e sem garantias – quem te oferece garantias está pensando no seu dinheiro e não no seu bem-estar. Você pode, inteligentemente, estar se perguntando: Mas se é assim, qual a razão de fazer terapia? Todos somos inexperientes nessa brincadeira de viver. Aprendemos, crescemos, ganhamos, perdemos, rimos, choramos, sofremos, sofremos e sofremos. Viver e estar totalmente vestido de si não permite um vislumbre do todo que se passa conosco. Um psicoterapeuta auxiliará na percepção do despercebido, no cuidado das feridas abertas e no entendimento das razões pelas quais elas estão ali. Provocará a avaliar e reavaliar valores, vivências e condutas; guiará pelo caminho do protagonismo da própria existência, ao menos na parte em que a vida se deixa reger. O psicoterapeuta é um suporte, um ouvido atento e acolhedor, um olhar crítico e direcionado, uma palavra de incentivo ou de “puxão de orelha”, a depender da ocasião. Vez ou outra te dá até banho, banho de realidade. Mas, sobretudo, um psicoterapeuta assume um compromisso técnico com o cliente, de acompanhá-lo, com um aparato teórico, na direção dele mesmo, de tornar-se quem se é.
Quem tem pressa e espera resolutividade, deve procurar algum Coaching. Agora, para aqueles que tem uma mínima noção da complexidade da vida a terapia é uma alternativa. Uma alternativa que provoca, que faz refletir sobre as vivências e suas narrativas, que faz acessar os sabores e dissabores de ser quem se é, que amplia. Mas que não resolve seus problemas e que nunca te leva à um ponto de chegada. Afinal, não paramos de viver pare que possamos pensar que não há mais problemas. Quando essa ocasião chegar, será a morte.
Nas belíssimas palavras de uma paciente: “A terapia é um lugar em que alguém te ajuda a olhar para tua vida de uma forma que você jamais seria capaz sozinho”.
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
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