Coluna: Era Sol que me faltava
Durante a semana relia um caderno onde anoto aleatoriedades, frases, poesias, estudos e devaneios que me impactam de algum modo. Ainda nas primeiras páginas encontrei uma poesia de José Régio, Cântico Negro, para ser exata.
Poxa, como eu adoro essa poesia, ela já inicia de uma forma que me provoca: “Vem por aqui” – dizem me alguns com os olhos doces, estendendo-me os braços e seguros de que seria bom que eu os ouvisse…
Mas que coisa séria! o que nos faz pensar que existe e que temos a fórmula do caminho da vida ideal? nem na nossa acertamos sempre, por que diabos queremos aconselhar os outros? conselhos eu tomo por “ajudinhas de merda” assim como tudo que quer me dizer como eu devo viver, o que devo fazer, como alcançar bom desempenho, como fazer amigos e influenciar pessoas, como cozinhar a felicidade, até como ser imperfeito, etc. A isso chamo charlatanismo.
Até os antigos gregos ririam disso, porque eu não?
Há muito, temos entrado em uma “onda” de entrega e abandono de nós, o que eu tenho compreendido como terceirização da existência.
Os outros dizem como tudo deve ser feito, o tempo todo, quem consultar, quais experiências gastronômicas ter, qual bebida harmoniza com tal comida, qual remedinho tomar, como se relacionar, até sobre como conquistar o homem/mulher amado/a, instruções sobre sexo, etc. etc. Na intenção de transformar todas as nossas vivências em grandes espetáculos. E nós por nós mesmos?
Segue José Régio: “Não vou por aí! só vou por onde me levam os meus próprios passos. Se ao que EU busco saber nenhum de vós responde, porque me repetis: Vem por aqui?”.
E então, se somos os próprios espectadores e viventes da nossa vida, o que faz pensar que devo dar tantos ouvidos aos outros? Sou, afinal, eu que sinto o que sinto, e mesmo dizendo e me expressando, só eu sei sentir como sinto, e também só eu sei exatamente como sinto.
“Como pois sereis vós que me dareis impulsos, ferramentas e coragem para eu derrubar os meus obstáculos?” Talvez nos falte compreender que os nossos obstáculos são os nossos obstáculos, que assim como eu não deveria ouvir tanto a opinião alheia, também deveria assumir e segurar mais firmemente as rédeas da minha vida.
A isso chamo maturidade.
Quero finalizar com as palavras de José Régio, que são bem mais bonitas que as minhas:
“Ah! que ninguém me dê piedosas intenções. Ninguém me peça definições, ninguém me diga: Vem por aqui! Porque a minha vida é um vendaval que se soltou, é uma onda que se alevantou, é um átomo a mais que se animou. Não sei pra onde vou, não sei por onde eu vou, só sei que não vou por aí”.
A isso chamo autenticidade.
PS.: Que a polarização que vivemos não te leve à uma leitura extremada com interpretações arrogantes. Afinal não foi essa a intenção ao escrever. Vocês também se sentem andando sobre ovos?
Caloroso cumprimento e até semana que vem!
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
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