Decerto, todos já nos deparamos com pessoas chatas, aquelas que parecem sempre acompanhadas de uma nuvenzinha negra. Pessoas das quais nem queremos estar perto e que não nos fazem bem. Muitas vezes, nem é preciso conhecê-las intimamente, basta alguns instantes de presença e o mal-estar inicia. Em contrapartida, há também aquelas que nos provocam imediato bem-estar. Pessoas de uma grandeza inenarrável, de um respeito, uma cordialidade, uma elegância. Ainda bem! É evidente que estas são raras. É muito mais fácil “toparmos” com imbecis. Talvez, a beleza esteja justamente naquilo que é mais difícil e raro.
Em geral, pessoas de alma bonita possuem a virtude da paciência. Nos recebem com respeito, aproximam-se sutilmente, sabem recuar e se adaptam à convivência. Sabem ouvir, mas não só ouvir, ocupam-se atentamente das histórias daqueles com quem se encontram e, de quebra, sentem prazer ao fazê-lo.
Não é regra, mas essas pessoas costumam ser mais velhas, mais vividas e carregam relatos de alguns sofrimentos com os quais puderam aprender algo. Já que, é justamente na dificuldade, no enfrentamento e nas situações mais desafiadoras que a virtude se faz. É fácil ser amável com quem nos respeita, mas virtuoso é ser amável com quem nos despreza. Sabedoria não é para qualquer um, velhice é.
Da boca de um sábio jamais sairá a frase: “que sujeito tóxico”. Primeiro, porque há o entendimento de que todos temos nossas trevas e todos somos inacabados. Além disso, porque é totalmente capaz de compreender que a disfuncionalidade de uma época marca a todos nós. Talvez, seja covardia fugir das relações apesar de todo “caos” que carregam. Sábios parecem dispensar o cinismo e a individualidade.
Parece existir, na sabedoria, uma implicação com algo maior que o próprio eu (Ego). Não há desejo de se proteger dos outros ou das tragédias do mundo e da vida. Há, inclusive, um sentimento de corresponsabilidade, de respeito e de pertencimento a algo maior, que atravessa e ultrapassa a todos naquilo que nos caracteriza como humanidade: a ancestral e permanente relação com o amor, com a busca pela felicidade e tudo aquilo que é essencial à vida humana.
Enfim, encerro com as poéticas linhas de Camus: “Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas. Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são. […] Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice”. Assim, passeamos sobre o envelhecer, sobre a maturidade e sobre a sabedoria. O relacionamento entre eles é íntimo.
*Trecho da música: Como dizia o Poeta, de Vinicius de Moraes.
Solange Kappes
Psicóloga CRP 12/15087
E-mail: psicologasolangekappes@gmail.com
Redes sociais:www.facebook.com/solange.kappes | Instagram: @solangekappes
A opinião dos colunistas não reflete necessariamente a visão do veículo.