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Colapso em Chapecó poderia ser contido com restrições e fechamento de atividades, apontam especialistas

O combate ao coronavírus em Santa Catarina nas últimas semanas ganhou um novo foco, com todos os olhares voltados à região Oeste. Após passar por momentos críticos durante o ano passado, Chapecó e as cidades vizinhas vivem um cenário de colapso no sistema de saúde, com lotação em hospitais das redes pública e particular. O cenário coloca em alerta outras regiões catarinenses e abre questionamentos sobre o que os moradores do Oeste podem esperar das próximas semanas.

A situação motivou novas medidas restritivas anunciadas pela prefeitura de Chapecó, como fechamento de bares, choperias, cinemas, teatros e museus, além do adiamento do início das aulas presenciais na rede municipal de educação. Por parte do governo do Estado, mais 27 leitos de UTI foram anunciados pelo governador Carlos Moisés, além da instalação de um comitê de crise em Chapecó, com representantes do Estado, Ministério da Saúde, Ministério Público, órgãos de segurança e saúde.

No entanto, especialistas que acompanham e estudam a pandemia do coronavírus enxergam as medidas como ações paliativas, que não atacam a necessidade urgente de reduzir o número de pessoas infectadas. Para o especialista em Saúde Pública e professor da Universidade da Fronteira Sul (UFFS), Paulo Barbato, tratam-se de medidas compensatórias que podem trazer impacto positivo, mas não suficiente para conter o colapso na região de Chapecó:

– A gente precisa pensar na diminuição de casos, eu entendo que era preciso medidas mais restritivas. Em outro momento da pandemia no Oeste, quando as medidas eram maiores e tinha menos circulação de pessoas, a gente viu que os trabalhadores da indústria frigorífica acabaram puxando os casos. Agora a gente vê que é generalizado, a população se descuida bastante.

O chefe do departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Fabrício Menegon, é enfático ao dizer que Santa Catarina não vem fazendo um bom trabalho no combate à pandemia do coronavírus. Para o pesquisador, o reflexo aparece no “aumento descontrolado dos casos”, que pressionam o serviço de saúde.

– Os leitos de UTI, por exemplo, são parte de uma estratégia de enfrentamento. A pandemia já nos ensinou que a quantidade de casos graves é diretamente proporcional à quantidade total de casos, ou seja, quantos mais casos você tem, maior a probabilidade de ter casos graves, que demandam hospitalização. O que precisa ser feito é investir fortemente em monitoramento dos casos ativos, dos seus contatos, isolamento dos casos positivos, testagem em massa da população. Coisas que o nosso Estado e o país de forma geral não foram competentes para fazer.

Para Menegon, mais do que medidas em resposta ao crescimento dos casos e à lotação dos hospitais, o Estado deve fazer o papel de monitoramento ostensivo dos casos, responsabilizando os pacientes com diagnóstico positivo de covid-19 e que não respeitam o isolamento social, transmitindo o vírus.

A situação de Chapecó e região atingiu o limite nos primeiros dias do mês. No dia 2 de fevereiro a região já tinha apenas três leitos de UTI vagos, entre os 136 disponíveis na época. De lá para cá a situação piorou e a transferência de pacientes com covid-19 para hospitais de outras regiões passou a se tornar uma necessidade, com mais de 100 pacientes precisando de transporte nos últimos 30 dias.

No último domingo (14), o prefeito de Chapecó, João Rodrigues, admitiu: “estamos em estágio de colapso”, e afirmou:

– Se você tiver um milhão de reais no bolso agora, e precisar internar a sua esposa numa UTI em Chapecó, não vai ter lugar.

Ajuda presidencial e apelo a Manaus

O colapso no Oeste catarinense ganhou também atenção nacional. Com o agravamento da situação durante o período de Carnaval, a pauta interrompeu a folga do presidente Jair Bolsonaro em São Francisco do Sul, no Litoral Norte. Da praia, Bolsonaro ligou para o prefeito de Chapecó e também para o Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prometendo auxílio federal à região catarinense.

Conforme Rodrigues, o assunto da conversa com Bolsonaro foi, principalmente, a abertura de mais leitos de UTI e também de enfermaria nos hospitais da região. Em entrevistas durante a passagem pelo litoral catarinense, o presidente citou também o envio de mais respiradores para a Chapecó.

A situação motivou, também, um contato de Chapecó com médicos que atuaram durante o colapso no sistema de saúde em Manaus-AM. Com apoio via telemedicina ou até mesmo presencial, a maior cidade do Oeste catarinense buscou a experiência dos profissionais de saúde que viveram a lotação de hospitais e a falta de oxigênio em Manaus nos últimos meses.

Atenção a outras regiões

Enquanto o Oeste catarinense vive o colapso por causa do coronavírus, outras regiões de Santa Catarina também acenderam o alerta para o risco de lotação no sistema de saúde. A situação mais grave é a da capital Florianópolis, onde dois hospitais públicos chegaram a 100% de ocupação e, onde ainda há espaço, apenas três vagas estavam disponíveis na quarta-feira (17). A rede particular da Capital também já registra ocupação perto do limite.

Na Serra de SC foi registrado um salto no movimento nos hospitais. A ocupação na região de Lages passou de 38% nos primeiros dias de fevereiro para 94% nos últimos dias, e em grande parte a ocupação se deve a pacientes de outras regiões. No Meio-Oeste, os cinco maiores hospitais também registram alta na ocupação. O hospital Maice, de Caçador chegou a postar um alerta nas redes sociais informando sobre o aumento dos casos. A unidade está com todos os 12 leitos de UTI Covid e os 19 de enfermaria Covid ocupados.

Conforme o boletim da Secretaria de Estado da Saúde (SES) divulgado na quinta-feira (17), em Santa Catarina a taxa de ocupação geral dos leitos de UTI estava em 85,5%. O número mostra que apenas 221 dos 1527 leitos existentes no SUS em SC estão vagos no momento. O tempo médio de permanência de um paciente com covid-19 na UTI é de 14 dias.

Fonte: NSC

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