O mais recente boletim “Covid-19 em Dados: Projeções” produzido por um grupo de especialistas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e apresentado com exclusividade a CNN, afirma que, se não houver medidas mais severas de controle da Covid-19, a marca de 1 milhão de pessoas infectadas da doença no país será ultrapassada, em menos de um mês, entre os dias 21 e 22 de junho.
Nas mesmas condições, entre os dias 28 e 29, o estudo prevê que o Brasil passará de 80 mil mortes pelo novo coronavírus. Atualmente, segundo dados do Ministério da Saúde, há 347.398 casos e 22.013 vítimas confirmadas.
Especialistas alertam que previsões com mais de sete dias podem diminuir a possibilidade de acertos e avaliam perspectivas de avanço e de contenção da doença.
De acordo com o documento, para o dia 30 de junho, a estimativa exata apresentada é de 1.279.237 casos confirmados, podendo flutuar entre 1.231.761 a 1.326.714. Nesta mesma data, a estimativa pontual é que o Brasil tenha 84.144 mortes da Covid-19, número que pode ficar dentro da previsão de 82.373 a 85.915 mortes.
Para a médica infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Sylvia Lemos Hinrichsen, tão importante quanto analisar os dados da gravidade da Covid-19, é preciso também analisar os diversos cenários da doença. “Apesar dos números altos, nós temos como trabalhar essas adversidades introspectando novos hábitos preventivos que possam dar maior segurança ao cotidiano das pessoas para não chegar nesse números”, diz.
“As pessoas vão ter que atentar cada vez mais para medidas de biossegurança que serão muito importantes para contribuir na menor circulação do vírus nas suas localidades. Temos que ter atitudes otimistas principalmente nos períodos de maiores dificuldades.
É isso que várias pessoas estão começando a fazer em diversos países, no mundo. A gravidade ela já está aí. Ela não depende de um número, ela depende das realidades locais e da participação da própria sociedade de uma forma pró-ativa no combate do vírus.”
Segundo o coordenador do estudo, o professor de Ciência Política da UFPE, Dalson Figueiredo, o principal objetivo do levantamento é tentar ajudar no processo de tomada de decisões do poder público baseado em evidências científicas.
“A ideia é que toda a política pública, na verdade, ela só fosse implementada, a partir de dados e informações robustas sobre o problema que ela se propõe a atacar”, explica. A equipe possui mais seis pesquisadores: Antônio Fernandes, Diego Costa, Enivaldo Rocha, Lucas Silva, Lucas Borba e Rodrigo Amaro.
O material foi produzido a partir de números do Governo Federal e com uma técnica de estatística que analisa a reação entre duas ou mais variáveis. Dalson entende que o fato de uma vacina ser criada, por exemplo, pode anular o estudo, mas adianta que, pelo que já foi visto, a tendência é continuar com o mesmo panorama.
“Se você faz uma previsão muito curta, a chance de acerto é maior, mas para o gestor público, talvez não seja tão útil. A medida que a gente aumenta, ela se torna mais útil, mas temos menos confiança nos resultados do modelo. Por outro lado, ela informa de forma mais robusta para o processo de tomada de decisões”, diz Dalson.
Para o físico e diretor do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (IFT-Unesp) e do Instituto Questão de Ciência, Marcelo Yamashita, qualquer modelo epidemiológico depende de diversos parâmetros que são difíceis de serem determinados a priori.
“Se os cálculos forem feitos corretamente, os resultados desses modelos podem mostrar uma tendência qualitativamente correta para mortos e infectados. Porém, os resultados numéricos não devem ser entendidos como um exercício de futurologia que irá prever exatamente o número de mortos ou doentes com uma imensa precisão.“, diz.
No caso da estimativa de Dalson e sua equipe, de acordo com Yamashita, não se trata de um modelo epidemiológico que contempla todas as nuances da pandemia e que faz apenas um ajuste de uma curva aos dados existentes e extrapola os seus resultados para o futuro.
“Isso pode funcionar para intervalos de tempo curtos, mas é difícil utilizar algum resultado do ajuste para tempos muito longos. Quando um número exato não se realiza – e a chance disso acontecer é imensa – a impressão que passamos para a sociedade é que houve um erro quando na verdade não é isso”, diz.
Epicentro no Brasil
Com cerca de 25% de casos e mortes de Covid-19 de todo o Brasil, o estado de São Paulo foi analisado de forma isolada pelos pesquisadores. Nas condições atuais, eles concluíram que o território paulista ultrapassará a marca de 200 mil de casos, entre os dias 20 e 21 de junho.
O estudo mostra ainda que, entre os dias 28 e 29 de junho, o patamar de 20.000 mil mortes pode ser ultrapassado. A estimativa pontual, no dia 30 do mesmo mês, é de 259.911 pessoas infectadas, podendo variar entre 250.386 a 269.437 casos positivos e 19.443 vítimas, com oscilação de 18.454 a 20.432 mortes registradas.
O documento prevê também 100 mil pessoas infectadas e mais de seis mil mortes pelo novo coronavírus, apenas na capital de São Paulo, entre os dias 18 e 19 de junho, podendo chegar a 155.586 casos e 8.670, no dia 30.
“Como é consenso entre pesquisadores, a subnotificação é maior na quantidade de casos e de óbitos do que se mortes. E não é de se surpreender que, ao final de junho, se tenha um número ainda maior que o previsto por nosso modelo. Tem muita gente morrendo sem ser testada para a Covid-19”, fala o coordenador da pesquisa.
Fonte: CNN